Saturday, May 07, 2005

O paradigma:

O PARADIGMA DA ASSERTIVIDADE

Diante do quadro atual de possibilidades em que se estrutura a humanidade , a comunicação e a comunicabilidade surgem como atributos indispensáveis ao ser humano, a exigirem novas competências para que ele interaja de maneira mais profunda e produtiva com os outros e a natureza.
A comunicação é instrumento de mudança da postura de uma instituição, bem como da renovação de sua importância na comunidade em geral.
Um doas aspectos de vital importância para a consolidação de maneiras adequadas de relacionamento entre seres humanos é a assertividade.
A palavra assertividade era um termo desconhecido na língua portuguesa. Foi introduzido por terapeutas comportamentais. Na língua inglesa , to assert significa “declarar ou afirmar algo de maneira positiva, direta e vigorosa”.
O interesse pela assertividade foi muito grande em todos os meios na década de 70. Como o fato de ser assertivo era potencialmente útil para qualquer situação que envolvesse relacionamentos sociais, inúmeras técnicas foram sendo aprimoradas, popularizando o domínio do comportamento. Chegaram, inclusive, a usar treinamento assertivo para melhorar o desempenho de candidatos em entrevistas de seleção de pessoal para empregos e até para verificar se seria também eficiente na prevenção do hábito de fumar.
A palavra “assertividade”, com o tempo, tornou-se um rótulo genérico para designar uma capacidade abstrata, relacionada com algo como “dizer o que se pensa, sem freios e sem medo de quaisquer represálias”. Houve, em função disto, um afastamento considerável do termo de seu sentido original, etimológico.
É preciso entender assertividade como algo a ser conquistado. Uma pessoa assertiva deve ser entendida como alguém com características específicas de repertório comportamental e não como uma criatura com determinados traços de personalidade ou dons apropriados para este modo de agir.
O comportamento assertivo pode ser definido como a expressão de sentimentos e desejos caracterizados pela busca, manutenção ou confirmação de valores próprios em uma situação de relacionamento interpessoal, sobretudo quando essa expressão comporta o risco de perda ou punição.
Algumas características da assertividade :
• habilidade para dizer não
• habilidade para pedir favores
• habilidade para expressar sentimentos positivos e negativos
• habilidade para iniciar, continuar e encerrar diálogos
• respeito aos sentimentos dos outros
• expressão e enfrentamento de limitações pessoais
• duração da resposta, volume da voz e afeto

É bom que se esclareça algumas diferenças. Quando se fala em expressar com clareza as próprias opiniões, não se está querendo generalizar a conduta assertiva, incluindo aí aquelas pessoas “excessivamente” francas e grosseiras na hora em que dizem aquilo que pensam, sem calcular as conseqüências. O comportamento assertivo é emocionalmente honesto, de maneira apropriada, já o comportamento agressivo é emocionalmente honesto, porém inadequado. Por último, o comportamento não assertivo é desonesto emocionalmente. Condutas agressiva e assertiva são expressivas e diretas, enquanto a não assertiva é inibida. A pessoa não-assertiva é autodepreciadora; a assertiva é autofortalecedora. A agressividade também é autofortalecedora, só que às custas de quem está sofrendo a ação, o receptor. Quem se manifesta de forma não assertiva sente-se magoado, ansioso na hora da atitude e, às vezes, com raiva e ressentimento depois. O assertivo sente-se confiante e auto-respeitado. O agressivo sente-se superior na hora e possivelmente culpado depois.
E como fica a situação do lado de quem recebe a ação ? Diante de um comportamento não-assertivo, o receptor sente culpa ou superioridade. Diante de um assertivo, sente-se valorizado e respeitado. Quando é alvo de um comportamento agressivo, sente-se magoado e humilhado.
O sentimento que o receptor tem pelo emissor da conduta não-assertiva é de irritação, desgosto e pena. Pelo emissor do comportamento assertivo, ele geralmente sente respeito. O emissor de comportamento agressivo desperta sentimentos de raiva e desejo de vingança.

As crenças irracionais têm sido vistas como parte das características do comportamento não-assertivo. Segundo os psicólogos da área comportamental, três dessas crenças estão relacionadas ao mau funcionamento psicológico da maior parte das pessoas. São elas : rejeição pessoal, a competência pessoal e a noção de justiça.
A primeira diz respeito à crença de que alguém deve ser amado o tempo todo por todos a quem julgue importantes.
A segunda é a de que alguém deve ser perfeitamente e sempre capaz, adequado e competente.
As duas até aqui citadas podem interferir com a assertividade, se a pessoa crê que a conduta pode gerar desaprovação.
A terceira refere-se a que a vida deve ser vista como uma tragédia, quando as coisas não seguem os rumos de que se gostaria, e que a incompreensão e a injustiça devem ser compreendidas como catástrofes das quais a criatura sempre é vítima.
Pode-se inferir, com base nestas crenças nocivas à felicidade das pessoas, que a assertividade pode ser prejudicada pelo isolamento social ou pelas queixas amargas sobre os outros e sobre o sentimento de desamparo.


O mais grave é quando a assertividade se vê abafada por uma suposta atitude de humildade silenciosa, a se expressar sorrateiramente na não-resposta diante de uma situação de desconforto ou de possível desaprovação dos companheiros de atividade.
Exemplo : Fulana é procurada por Sicrano na instituição em que trabalham querendo um livro raro que só ela tem no grupo. Fulana ouve o pedido e fica preocupada. Ela sabe que Sicrano é uma pessoa agradável, mas tem o péssimo hábito de não devolver objetos e livros que pede emprestado. Seja por distração seja por relaxamento, o fato é que ninguém ainda teve a postura assertiva de perguntar a ele o porquê de semelhante conduta.
Como fazer ? Dizer não e fim de papo ? Mas assim não haverá solidariedade. Emprestar mas colocar mil regras de manuseio? E se Sicrano se ofender ?
Depois de muito pensar Fulana concluiu apressadamente que sicrano é merecedor de alguma confiança e que vai emprestar-lhe o livro.
O rapaz fica contente mas Fulana não consegue deixar de sentir, lá no íntimo, uma ponta de frustração por não ter conseguido dizer “não” ao amigo, já que este era seu desejo.
Dois meses se passaram...e nada do moço entregar o livro. E também nada dela encontrar coragem para pedir a obra de volta. Tinha medo de ofender, de uma reação negativa por parte do rapaz.
Um dia, muito angustiada, Fulana conversava com uma amiga, quando viu Sicrano passar do outro lado da rua, com o livro debaixo do braço.
_ Está vendo aquele rapaz ? disse ela. Pois é um tremendo folgado. Todo mundo comenta que tem o péssimo hábito de pedir coisas emprestadas, mas não devolve. Já ouvi histórias horríveis a respeito dele!
A amiga responde : Acho que sim. Aliás, ele fez isso com uma outra conhecida.
E desta foram, sem que nossa amiga tenha recuperado seu livro e sem que o rapaz tenha sido alertado de sua conduta equivocada, abriu-se um outro ambiente : o da conversação de conseqüências negativas - a maledicência. Por falta de coragem interior para adotar uma conduta assertiva nessa hora, Fulana preferiu fazer comentários acerca do comportamento do outro, sem que antes tivesse tentado a caridade de conversar com ele e definir como gostaria que ficasse claro antes de lhe fazer o empréstimo.
O que falta à pessoa não-assertiva é exatamente isto : a coragem de dizer o que precisa ser esclarecido.
Mas qual seria a melhor atitude de Fulana ?
Como já sabia que ele não era responsável o bastante para devolver livros, ela poderia dizer-lhe, sempre procurando as palavras mais adequadas para ser bem compreendida., sem arrogância ou falta de tolerância, que até poderia emprestar, desde que conversassem a respeito da característica que ele possuía de não devolver livros. Se o rapaz reagisse negativamente, ela estaria preservada porque teve o cuidado de falar com educação, polidez e sentimento de caridade, ainda que com firmeza necessária para fazer-se bem compreendida. A responsabilidade moral pela reação infeliz seria toda dele.
Caso se mostrasse mais surpreso que ofendido, ótimo. Seria a grande chance dele ouvir palavras necessárias ao seu aperfeiçoamento como ser humano. E então ? Algum problema com a assertividade ? Acabou com a amizade ? Abalou os alicerces da instituição ? Não, nada disso. O exemplo escolhido é simples e despretensioso , mas o contexto emocional de que ele trata é extremamente sério.

A pessoa disposta a exercitar a assertividade não pode esquecer que, na longa caminhada em busca desse valor, algo pode se perder. Seja uma amizade, alguém que se revelou impermeável às sugestões trazidas pela conduta atenciosa e precisa, tomada com respeito e sensibilidade, mas também com firmeza e objetividade necessárias. São inúmeras a s situações em que os riscos da perda se apresentam. O que importa lembrar é que, mesmo diante deles, as vantagens a serem obtidas coma conduta assertiva são muito mais ricas.

Sejamos assertivos na hora de defender opiniões, mesmo quando ocorram discordâncias de idéias. Falemos sem receio de usar nossos sentimentos. Preparemo-os , no entanto, com o doce toque da fraternidade, para que não firam os que irão nos ouvir.

Síntese de texto do jornalista Carlos Augusto Abranches

Voltar para Aulas

0 Comments:

Post a Comment

<< Home