Friday, July 22, 2005

A Alma Humana:

A ALMA HUMANA

Observações Preliminares -1

Como já havíamos visto anteriormente vamos recordar algumas colocações importantes:

1 – PALAVRAS NOVAS
Para designar coisas novas são necessárias palavras novas; assim exige a clareza de uma língua, para evitar a confusão que ocorre quando uma palavra tem múltiplo sentido. As palavras espiritual, espiritualista, espiritualismo têm um significado bem definido, e acrescentar-lhes uma nova significação para aplicá-las à Doutrina dos Espíritos seria multiplicar os casos já tão numerosos de palavras com duplo sentido. De fato, o espiritualismo é o oposto do materialismo, e qualquer um que acredite ter em si algo além da matéria é espiritualista, embora isso não queira dizer que creia na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo material. Em vez das palavras espiritual, espiritualismo, utilizamos, para designar a crença nos Espíritos, as palavras espírita e Espiritismo, que lembram a origem e têm em si a raiz e que, por isso mesmo, têm a vantagem de ser perfeitamente inteligíveis, reservando à palavra espiritualismo sua significação própria. Diremos que a Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípio a relação do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo espiritual. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas ou, se quiserem, os espiritistas.
Como especialidade, o Livro dos Espíritos contém a Doutrina Espírita; como generalidade, liga-se ao espiritualismo num dos seus aspectos. Esta é a razão por que traz, no início de seu título, as palavras: “filosofia espiritualista”.

2 – A ALMA1 Os números ao lado da palavra (têm a tradução no final do texto)
Há outra palavra sobre a qual devemos igualmente nos entender, por constituir em si um dos fechos de abóbada2, isto é, a sustentação de toda a doutrina moral, e que se tornou objeto de muitas controvérsias por falta de um significado que a defina com precisão determinada. É a palavra alma. A divergência de opiniões sobre a natureza da alma resulta da aplicação particular que cada um faz dessa palavra. Uma língua perfeita, em que cada idéia tivesse sua representação por um termo próprio, evitaria muitas discussões; com uma palavra para cada coisa, todos se entenderiam.
Segundo alguns, a alma é o princípio da vida material orgânica, não tem existência própria e termina com a vida: é o materialismo puro. É nesse sentido e por comparação que se diz de um instrumento rachado quando não emite mais som: não tem alma. De acordo com essa opinião, a alma seria um efeito e não uma causa.
Outros pensam que a alma é o princípio da inteligência, agente universal do qual cada ser absorve uma porção. De acordo com esse pensamento, haveria para todo o universo apenas uma única alma que distribui suas centelhas entre os diversos seres inteligentes durante a vida. Após a sua morte, cada centelha retornaria à fonte comum, onde se misturaria no todo, como as águas dos riachos e dos rios retornam ao mar de onde saíram. Essa opinião difere da anterior apenas em que, nessa hipótese, há no corpo mais do que a matéria e que resta alguma coisa depois da morte; mas é quase como se não restasse nada, uma vez que, incorporando-se ao todo de onde veio, perde a individualidade e, assim, não teríamos mais consciência de nós mesmos. De acordo com essa opinião, a alma universal seria Deus e cada ser, uma porção da divindade. Essa é uma variante do panteísmo3.
E por fim, segundo outros, a alma é um ser moral, distinto e independente da matéria, que conserva sua individualidade após a morte. Essa concepção é, indiscutivelmente, a mais generalizada, visto que, sob um nome ou outro, a idéia desse ser que sobrevive ao corpo se encontra como crença instintiva e independentemente de qualquer ensinamento, entre todos os povos, seja qual for o grau de sua civilização. Essa doutrina, segundo a qual a alma é a causa e não o efeito, é a dos espiritualistas.
Sem discutir o mérito dessas opiniões, considerando apenas o lado lingüístico da questão, diremos que as três aplicações da palavra alma constituem três idéias distintas e que, para serem claramente expressas, cada uma precisaria de um termo diferente. A palavra tem, portanto, uma tríplice significação e cada uma tem razão em seu ponto de vista, na definição que lhe dá. O problema é a língua ter apenas uma palavra para designar três idéias. Para evitar qualquer equívoco, seria preciso aplicar o significado da palavra alma a uma dessas três idéias. Escolher qualquer uma é indiferente, é uma questão de ajuste de opiniões; o importante é que nos entendamos. Acreditamos mais lógico tomá-la na sua concepção mais comum; é por isso que denominamos ALMA o ser imaterial e individual que existe em nós e que sobrevive ao corpo. Ainda que esse ser não existisse e fosse apenas um produto da imaginação, seria preciso assim mesmo um termo para designá-lo.
Na falta de uma palavra especial para cada uma das outras duas idéias, denominamos princípio vital o princípio da vida material e orgânica, qualquer que lhe seja a origem, e que é comum a todos os seres vivos, desde as plantas até o homem. Podendo existir vida sem depender da capacidade de pensar, o princípio vital é assim uma propriedade distinta e autônoma4. A palavra vitalidade não daria a mesma idéia. Para alguns, o princípio vital é uma propriedade da matéria, um efeito que se produz quando a matéria se encontra em determinadas circunstâncias. Segundo outros, e esta é a idéia mais comum, ele se encontra num fluido especial, universalmente espalhado e do qual cada ser absorve e assimila uma parte durante a vida, como vemos os corpos inertes absorverem a luz. Este seria, então, o fluido vital, que, segundo algumas opiniões, seria o fluido elétrico animalizado, designado também sob os nomes de fluido magnético, fluido nervoso, etc.
O que quer que ele seja, há um fato que não se poderá contestar, porque é resultante da observação: é que os seres orgânicos têm em si uma força íntima que produz o fenômeno da vida, enquanto essa força dure; que a vida material é comum a todos os seres orgânicos e é independente da inteligência e do pensamento; que a inteligência e o pensamento são capacidades próprias de algumas espécies orgânicas; e que, enfim, entre as espécies orgânicas dotadas de inteligência e de pensamento, há uma que é dotada de um senso moral especial que lhe dá uma incontestável superioridade sobre as outras: é a espécie humana.
Concebe-se assim que nem o materialismo nem o panteísmo excluem em suas teorias a noção de alma por causa do significado abrangente que se lhe pode atribuir. Mesmo o espiritualista pode entender muito bem a alma segundo uma das duas primeiras definições, sem reduzir o ser imaterial distinto ao qual dará um nome qualquer. Assim, a palavra alma não representa uma idéia única; é um Proteu5 que cada um acomoda a seu gosto, daí a fonte de tantas disputas intermináveis.
Ao se utilizar da palavra alma em qualquer dos três casos, teríamos uma idéia clara ao lhe acrescentar um qualificativo que especificasse o ponto de vista a que se refere, ou a aplicação que se faz dela.
Seria, então, uma palavra genérica, representando ao mesmo tempo o princípio da vida material, da inteligência e do sentido moral, mas que se diferenciaria por um atributo, como o gás, por exemplo, que se distingue quando lhe acrescentamos as palavras hidrogênio, oxigênio ou azoto. Assim é que deveríamos compreender a alma vital para designar o princípio da vida material; a alma intelectual para o princípio da inteligência que se expressa enquanto há vida e a alma espírita para o princípio de nossa individualidade após a morte. Como se vê, tudo isso é uma questão de palavras, mas uma questão muito importante para entender. De acordo com isso, a alma vital seria comum a todos os seres orgânicos: plantas, animais e homens; a alma intelectual seria própria dos animais e dos homens; e a alma espírita,apenas do homem.
Acreditamos dever insistir nessas explicações, porque a Doutrina Espírita baseia-se naturalmente na existência em nós de um ser independente da matéria e que sobrevive à morte do corpo.


Observações Preliminares -2
As pessoas alheias ao Espiritismo, não lhe compreendendo nem os objetivos nem os fins, dele fazem, quase sempre, uma idéia, completamente falsa. O que lhe falta, sobretudo, é o conhecimento do princípio, a chave primeira dos fenômenos; à falta disso, o que vêem e o que ouvem é sem proveito e mesmo sem interesse para elas. A experiência tem demonstrado que apenas a visão ou o relato dos fenômenos não bastam para convencer. Aquele mesmo que é testemunha de fatos capazes de confundirem, fica mais espantado do que convencido; quanto mais o efeito parece extraordinário, mais dele se suspeita. Somente um estudo prévio sério pode conduzir à convicção; freqüentemente, basta para mudar inteiramente o curso das idéias. Em todos os casos, é indispensável para compreensão dos mais simples fenômenos. À falta de uma instrução completa, um resumo sucinto da lei que rege as manifestações bastará para fazer considerar as coisas sob seu verdadeiro aspecto, para as pessoas que nela ainda não estão iniciadas. É o primeiro passo que damos na pequena instrução adiante.
Esta instrução foi feita, sobretudo, tendo em vista as pessoas que não possuem nenhuma noção do Espiritismo. Nos grupos ou reuniões espíritas, onde se encontrem assistentes noviços, pode servir, utilmente, de preâmbulo às sessões, segundo as necessidades.
Do Livro O que é o Espiritismo
Da alma
108 - Onde é a sede da alma?
A alma não está, assim como se acredita geralmente, localizada em uma parte do corpo; ela forma com o perispírito um todo fluídico, penetrável, se assimilando ao corpo inteiro, com o qual ela constitui um ser complexo, do qual a morte não é, de alguma sorte, senão um desdobramento. Podem-se figurar dois corpos semelhantes, penetrados um pelo outro, confundidos durante a vida e separados depois da morte. Na morte, um é destruído e o outro permanece.
Durante a vida, a alma age mais especialmente sobre os órgãos do pensamento e do sentimento. Ela é, ao mesmo tempo, interna e externa, quer dizer, ela irradia externamente; pode mesmo se afastar do corpo, se transportar para longe e aí manifestar sua presença, como provam a observação e os fenômenos do sonambulismo.
109 - A alma é criada ao mesmo tempo que o corpo ou anteriormente a ele?
Depois da existência da alma, esta questão é uma das mais capitais, porque da sua solução decorrem as mais importantes conseqüências; ela é a única chave possível de uma multidão de problemas insolúveis até hoje, por falta de a ter definido.
De duas coisas uma: ou a alma existe ou não existe antes da formação do corpo, sem que possa haver para isso um meio-termo. Com a preexistência da alma tudo se explica lógica e naturalmente; sem a preexistência, é mesmo impossível justificar certos dogmas da Igreja, e é essa impossibilidade de justificação que conduz tantas pessoas que raciocinam à incredulidade.
Os Espíritos resolveram a questão afirmativamente, e os fatos, tanto quanto a lógica, não podem deixar dúvida a esse respeito. Que não se admita, entretanto, a preexistência da alma senão a título de simples hipótese, se se quer, e se verá aplainar a maioria das dificuldades.
110 - Se a alma é anterior, antes da sua união com o corpo tinha sua individualidade e a consciência de si mesma?
Sem individualidade e sem consciência de si mesma, os resultados seriam os mesmos como se ela não existisse.
111 - Antes de sua união com o corpo a alma cumpriu um progresso qualquer, ou estava estacionária?
O progresso anterior da alma é, ao mesmo tempo, a conseqüência da observação dos fatos e do ensinamento dos Espíritos.
112 - Deus criou as almas iguais, moral e intelectualmente, ou as fez mais perfeitas, mais inteligentes, umas que as outras?
Se Deus tivesse feito almas mais perfeitas, umas que as outras, essa preferência não seria conciliável com a sua justiça. Sendo todas suas criaturas, por que isentaria umas do trabalho, que impõe às outras, para alcançarem a felicidade eterna? A desigualdade das almas, quanto à sua origem, seria a negação da justiça de Deus.
113 - Se as almas são criadas iguais, como explicar a diversidade de aptidões e de predisposições naturais que existem entre os homens sobre a Terra?
Essa diversidade é a conseqüência do progresso que a alma realizou antes da sua união com o corpo. As almas mais avançadas, em inteligência e em moralidade, são aquelas que viveram mais e progrediram mais antes da sua encarnação.
114 - Qual é o estado da alma em sua origem?
As almas são criadas simples e ignorantes, quer dizer, sem ciência e sem conhecimento do bem e do mal, mas com uma igual aptidão para tudo. No princípio, elas estão em uma espécie de infância, sem vontade própria, e sem consciência perfeita da sua existência. Pouco a pouco, o livre arbítrio se desenvolve ao mesmo tempo que as idéias. (O Livro dos Espíritos, nº 114 e seguintes).
115 - A alma realizou seu progresso anterior no estado da alma propriamente dito, ou em uma precedente existência corporal?
Além do ensinamento dos Espíritos sobre esse ponto, o estudo dos diferentes graus de adiantamento do homem sobre a Terra prova que o progresso anterior da alma deve ter se realizado em uma série de existências corporais mais ou menos numerosas, segundo o grau que alcançou; a prova resulta da observação dos fatos que temos diariamente sob os olhos. (O Livro dos Espíritos, nºs 166 a 222 - Revista Espírita, abril 1862, pags. 97 - 106).
Do livro Obras Póstumas
§ II. A ALMA
4. Há no homem um princípio inteligente que se chama ALMA ou ESPÍRITO, independente da matéria e que lhe dá o senso moral da faculdade de pensar.
Se o pensamento fosse uma propriedade da matéria, ver-se-ia a matéria bruta pensar; ora, como jamais se viu a matéria inerte dotada de faculdades intelectuais; que quando o corpo está morto ele não pensa mais, é necessário disso concluir que a alma é independente da matéria, e que os órgãos não são senão instrumentos com a ajuda dos quais o homem manifesta o seu pensamento.
5. As doutrinas materialistas são incompatíveis com a moral e subversivas da ordem social.
Se, segundo os materialistas, o pensamento fosse segregado pelo cérebro, como a bile é segregada pelo fígado, disso resultaria que, na morte do corpo, a inteligência do homem e todas as suas qualidades morais reentrariam no nada; que os parentes, os amigos e todos aqueles aos quais se tivesse afeiçoado, estariam perdidos sem retorno; que o homem de gênio seria sem mérito, uma vez que não deveria as suas faculdades transcendentais senão ao acaso de sua organização; que não haveria, entre o imbecil e o sábio, senão a diferença de mais ou de menos cérebro.
As conseqüências dessa doutrina seriam que, não esperando o homem nada além desta vida, nenhum interesse teria em fazer o bem; que seria muito natural que procurasse se proporcionar o mais de gozos possíveis, fosse memo às expensas de outrem; que haveria estupidez em disso se privar pelos outros; que o egoísmo seria o sentimento mais racional; que aquele que fosse teimosamente infeliz sobre a Terra, nada melhor teria a fazer do que se matar, uma vez que, devendo cair no nada, isso não seria nem mais e nem menos para ele, e que abreviaria os seus sofrimentos.
A doutrina materialista é, pois, a sanção do egoísmo, fonte de todos os vícios, a negação da caridade, fonte de todas as virtudes e base da ordem social, e a justificação do suicídio.
6. A independência da alma está provada pelo Espiritismo.
A existência da alma está provada pelos atos inteligentes do homem, que devem ter uma causa inteligente e não uma causa inerte. A sua independência da matéria está demonstrada de maneira patente pelos fenômenos espíritas que a mostram agindo por si mesma, e sobretudo pela experiência de seu isolamento durante a vida, o que lhe permite se manifestar, pensar e agir na ausência do corpo.
Pode-se dizer que, se a química separou os elementos da água, se ela colocou por aí as suas propriedades em descoberto, e se pode à vontade fazer e desfazer um corpo composto, o Espiritismo pode igualmente isolar os dois elementos constitutivos do homem: o espírito e a matéria, a alma e o corpo, separá-los e reuni-los à vontade, o que não pode deixar dúvida sobre a sua independência.
7. A alma do homem sobrevive ao corpo e conserva a sua individualidade depois da morte.
Se a alma não sobrevivesse ao corpo, o homem não teria por perspectiva senão o nada, do mesmo modo se a faculdade de pensar fosse o produto da matéria; se ela não conservasse a sua individualidade, quer dizer, se ela fosse se perder no reservatório comum chamado grande todo, como as gotas de água no Oceano, isso não seria menos para o homem o nada do pensamento, e as conseqüências seriam absolutamente as mesmas de que se não tivesse alma.
A sobrevivência da alma depois da morte está provada, de maneira irrecusável e de alguma sorte palpável, pelas comunicações espíritas. Sua individualidade está demonstrada pelo caráter e pelas qualidades próprias de cada uma; essas qualidades, distinguindo as almas umas das outras, constituem a sua personalidade; se elas estivessem confundidas num todo comum, não teriam senão qualidades uniformes.
Além dessas provas inteligentes, há ainda a prova material das manifestações visuais, ou aparições, que são tão freqüentes e tão autênticas, que não é permitido contradizer.


8. A alma do homem é feliz ou infeliz depois da morte, segundo o bem ou o mal que fez durante a vida.
Desde que se admite um Deus soberanamente bom e justo, não se pode admitir que as almas tenham uma sorte comum. Se a posição futura do criminoso e do homem virtuoso devesse ser a mesma, isso excluiria toda a utilidade de se fazer o bem; ora, supor que Deus não faz diferença entre aquele que faz o bem e aquele que faz o mal, seria negar a sua justiça. Não recebendo o mal sempre a sua punição, nem o bem a sua recompensa durante a vida terrestre, disso é necessário concluir que a justiça será feita depois, sem isso Deus não seria justo.
As penas e os gozos futuros estão, por outro lado, materialmente provados pelas comunicações que os homens podem estabelecer com as almas daqueles que viveram e que vêm descrever o seu estado, feliz ou infeliz, a natureza de suas alegrias ou de seus sofrimentos, e dizer-lhes a causa.
9. Deus, a alma, sobrevivência e individualidade da alma depois da morte do corpo, penas e recompensas futuras, são os princípios fundamentais de todas as religiões.
O Espiritismo vem acrescentar, às provas morais desses princípios, as provas materiais dos fatos e da experimentação, e interromper os sofismas do materialismo. Em presença dos fatos, a incredulidade não tem mais razão de ser; assim é que o Espiritismo vem dar de novo a fé àqueles que a perderam, e levantar as dúvidas entre os incrédulos.
I - DOS ESPÍRITOS
1. O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, consiste nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia, compreende todas as conseqüências morais que decorrem dessas relações.
2. Os Espíritos não são, como freqüentemente se imagina, seres à parte na criação; são as almas daqueles que viveram sobre a Terra ou em outros mundos. As almas ou Espíritos são, pois, uma única e mesma coisa; de onde se segue que quem crê na existência da alma crê, por isso mesmo, na dos Espíritos. Negar os Espíritos seria negar a alma.
3. Geralmente, se faz uma idéia muito falsa do estado dos Espíritos; eles não são, como alguns o crêem, seres vagos e indefinidos, nem chamas como os fogos fátuos, nem fantasmas como nos contos de assombração. São seres semelhantes a nós, tendo um corpo igual ao nosso, mas fluídico e invisível no estado normal.
4. Quando a alma está unida ao corpo, durante a vida, ela tem duplo envoltório: um pesado, grosseiro e destrutível, que é o corpo; outro fluídico, leve e indestrutível, chamado perispírito. O perispírito é o laço que une a alma e o corpo; é por seu intermédio que a alma faz o corpo agir, e percebe as sensações experimentadas pelo corpo.
A união da alma, do perispírito e do corpo material constitui o homem; a alma e o perispírito separados do corpo constituem o ser chamado Espírito.
5. A morte é a destruição do envoltório corporal; a alma abandona esse envoltório como troca a roupa usada, ou como a borboleta deixa sua crisálida; mas conserva seu corpo fluídico ou perispírito.
A morte do corpo livra o Espírito do envoltório que o prendia à Terra e o fazia sofrer; uma vez livre desse fardo, não tem senão seu corpo etéreo que lhe permite percorrer o espaço e vencer as distâncias com a rapidez do pensamento.
6. Os Espíritos povoam o espaço; eles constituem o mundo invisível que nos rodeia, no meio do qual vivemos, e com o qual estamos, sem cessar, em contato.
7. Os Espíritos têm todas as percepções que tinham na Terra, mas num mais alto grau, porque suas faculdades não estão mais amortecidas pela matéria; têm sensações que nos são desconhecidas; vêem e ouvem coisas que nossos sentidos limitados não nos permitem nem ver e nem ouvir. Para eles não há obscuridade, salvo para aqueles cuja punição é estar temporariamente nas trevas. Todos os nossos pensamentos repercutem neles, que os lêem como em um livro aberto; de sorte que aquilo que podemos ocultar a alguém vivo, não poderemos mais desde que seja um Espírito.
8. Os Espíritos conservam as afeições sérias que tiveram na Terra; eles se comprazem em voltar para junto daqueles que amaram, sobretudo, quando são atraídos por pensamentos e sentimentos afetuosos que lhes dirigem, ao passo que são indiferentes para com aqueles que não lhes têm senão a indiferença.
9. Uma idéia quase geral entre as pessoas que não conhecem o Espiritismo é crer que os Espíritos, somente porque estão livres da matéria, tudo devem saber e possuírem a soberana sabedoria. Aí está um erro grave.
Os Espíritos, não sendo senão as almas dos homens, não adquirem a perfeição deixando seu envoltório terrestre. O progresso do Espírito não se realiza senão com o tempo, e não é senão sucessivamente que ele se despoja de suas imperfeições, que adquire os conhecimentos que lhe faltam. Seria tão ilógico admitir que o Espírito de um selvagem ou de um criminoso se torne, de repente, sábio e virtuoso, quanto seria contrário à justiça de Deus pensar que ele permanecesse perpetuamente na inferioridade.
Como há homens de todos os graus de saber e de ignorância, de bondade e de maldade, ocorre o mesmo com os Espíritos. Há os que são apenas levianos e traquinas, outros são mentirosos, trapaceiros, hipócritas, maus, vingativos; outros, ao contrário, possuem as mais sublimes virtudes e o saber num grau desconhecido na Terra. Essa diversidade na qualidade dos Espíritos é um dos pontos mais importantes a se considerar, porque explica a natureza boa ou má das comunicações que se recebem; é em distingui-las que é preciso, sobretudo, se aplicar. (O Livros dos Espíritos, nº 100, Escala Espírita. - O Livro dos Médiuns, cap. XXIV.)
Allan Kardec

1. É extraordinária a clareza com que Allan Kardec se refere à alma como ponto de partida para a discussão em torno de assunto tão relevante. Poderia ter dito que a alma é a base; mas, não. Diz que é o fecho de abóbada, a cúpula. O cimo, o mais alto, o mais importante, sobre o qual se deve estruturar tudo (Nota do Editor).
2. Fecho de abóbada: pedra angular e principal de uma abóbada ou arco, na qual se sustenta toda a estrutura e as cargas externas. Neste caso: a questão primordial, a mais importante (N. E.).
3. Panteísmo: doutrina filosófica segundo a qual só Deus é real. Tudo o que existe é a manifestação de Deus, que por sua vez é a soma de tudo o que existe (N. E.).
4. Autônoma: que se realiza sem a intervenção de agentes externos; independente, livre (N. E.).
5. Proteu: aquele que muda constantemente de opinião ou de sistema (N. E.).
6. Kardec escreveu “parece destinada” porque referia-se aos primeiros inventos relacionados à eletricidade, como a lâmpada, que estava, na época, em pesquisas e ainda era desconhecida (N. E.).
7. Estática: ciência que estuda o equilíbrio dos corpos sob a ação das forças (N. E.).
8. Os trechos “não vemos a eletricidade derrubar edifícios...” e “a eletricidade não produz os ruídos mais violentos” referem-se às descargas elétricas provocadas pelos relâmpagos, trovões e raios (N. E.).
9. Luigi Galvani: médico e físico italiano (N. E.).
10. Dança das rãs: Galvani notou que as rãs dissecadas, expostas em pedaços sobre uma superfície de ferro, davam pulos. Dessa observação a ciência caminhou para o conhecimento do fluido nervoso e mais tarde da pilha elétrica (N. E.).
11. Mistificador: enganador; que abusa da credulidade; burlador (N. E.).
12. Cético: que duvida de tudo, descrente (N. E.).
13. Faculdade: capacidade, aptidão (N. E.).
14. Questões abstratas: de difícil compreensão, vagas e obscuras (N. E.).
15. Expiação: nova oportunidade de reparar as faltas e os erros de vidas passadas. É a Lei de Causa e Efeito (N. E.).
16. Espírito errante: que está na erraticidade, período entre uma e outra encarnação, como está explicado nesta obra, na questão223 e seguintes (N.E.).* Há entre a doutrina da reencarnação e a da metempsicose, tal como a admitem certas seitas, uma diferença característica que é explicada na seqüência da obra. Para saber sobre metempsicose, consulte as questões 222, 611 e seguintes (Nota de Kardec).
17. Alma: dizemos do espírito quando está no corpo, encarnado (N. E.).
18. Benjamin Franklin: estadista norte-americano que inventou o pára-raios (N. E.).
19. Robert Fulton: mecânico norte-americano que inventou a propulsão, o motor a vapor (N. E.).
20. A priori: diz-se do conhecimento, afirmação, verdade, etc. anterior à experiência (N. E.).
21. Homens de espírito: inteligentes, geniais (N. E.).
22. Metafísica: é parte da filosofia, um conjunto de conhecimentos racionais (e não de conhecimentos revelados) em que se procura determinar as regras fundamentais do pensamento, e que nos dá a chave do conhecimento do real em oposição à aparência (N. E.).
23. Centelha anímica: princípio da vida espiritual; corpo espiritual; o Espírito (N. E.).
24. Lineu, Jussieu e Tournefort: naturalistas e botânicos, sendo o primeiro sueco e os outros dois franceses (N. E.).
25. Epilepsia: distúrbio do cérebro (sistema nervoso); disritmia cerebral que provoca contração muscular involuntária e convulsões (N. E.).
26. Axioma: princípio evidente que é aceito como universalmente verdadeiro, sem exigência de demonstração (N. E.).
27. Alfa e omega: respectivamente a primeira e a última letra do alfabeto grego. Neste caso, o princípio e o fim (N. E.).

Perguntas:

1-Qual o principal atributo da alma humana do ponto de vista espírita?
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2-Qual a corrente de pensamento que julga a alma efeito e não causa?
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3-Que argumentos tem o Espiritismo contra o conceito acima exposto?
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4-Enumerar os diversos conceitos existentes sobre a alma humana
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5-Conceituar alma do ponto de vista espírita
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