Saturday, May 07, 2005

Historia do Espiritismo no Brasil:

Uma Parte da Historia do Espiritismo no Brasil


Prefácio de Paulo Alves Godoy: Livro Bezerra de Menezes (Canuto Abreu)

O panorama existente nos últimos anos do século XIX no Brasil como Kardecistas - Místicos - Espiritas Puros - Rustainistas - Científicos- Swedenborgistas e outros fazem parte da historia.
No século passado muitos espiritas eram de parecer que se deveria estudar apenas o LIVRO DOS ESPÍRITOS de Kardec, devendo a doutrina ser encarada como ciência; outros eram de parecer que o espiritismo deveria ser filosófico e religioso.
Denominava-se Doutrina Espírita apenas ao que constava de O LIVRO DOS ESPÍRITOS; os estudiosos dos demais livros de Kardec, se chamavam Kardecistas.
Chegou-se a criar um chamado ESPÍRITISMO PURO, eqüidistante de CIENTÍFICOS e MISTICOS. Alem destes existia ainda um grupo que se dedicava com afinco ao estudo das obras de J.B.ROUSTAING.
O quadro era realmente desalentador e representava verdadeira dispersão. Esse panorama perdurou até quando surgiu no cenário espírita a figura apostólica do Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, espirito moderado e pacificador que assumindo a Presidência da Federação Espírita Brasileira, conseguiu reduzir as proporções da dispersão generalizada, até então prevalecente. Se ele não conseguiu equacionar os gigantescos problemas com que deparou, pelo menos evitou que eles alcançassem maior amplitude, o que fez até o inicio do ano de 1.900, quando adoeceu, vindo a desencarnar no dia 11 de abril desse mesmo ano. Bezerra deixou um movimento espírita com linhas bem mais definidas e com horizontes bem mais desanuviados.
Como se pode evidenciar na obra, nem as importantes INSTRUÇÕES, recebidas do Espírito Allan Kardec, pelo famoso médium Frederico Júnior, as quais mereceram a aceitação plena de Bezerra de Menezes, conseguiram fazer silencia as discórdias.
No dealbar do presente século, não estando entre nós, em suas vestes carnais, nem Bittencourt Sampaio, nem Bezerra de Menezes, nem por isso eles deixaram de influenciar, como Espíritos, os que estavam à frente do movimento espírita, no sentido de silenciarem as divergências, dirimirem as dúvidas e eliminarem as rivalidades. A História registra que, assumindo a presidência da Federação Espírita Brasileira e permanecendo nesse cargo durante 14 anos, o grande Leopoldo Cirne ensejou uma significativa estabilidade no movimento espírita, sem que isso significasse a tão almejada pacificação.
Nessa altura dos acontecimentos, o Espiritismo já estava alastrando suas raízes pelos Estados brasileiros. Várias entidades de âmbito estadual foram criadas, surgindo grandes vanguardeiros em numerosas cidades brasileiras. O Trabalho incomparável desses homens representou um verdadeiro embate de pigmeus contra gigantes, mas eles, com suor e lágrimas, conseguiram implantar a bandeira do Espiritismo em terreno até então árido, fato que contribuiu, de forma decisiva, para que a doutrina dos Espíritos se firmasse como um dos grandes movimentos de renovação espiritual do mundo contemporâneo, com maior amplitude no Brasil – Coração do Mundo e Pátria do Evangelho.
No Estado de São Paulo, pioneiros espíritas da estirpe de Batuíra, Analia Franco e Cairbar Schutel já no inicio do presente século atuavam no campo da divulgação doutrinária. Euripides Barsanulfo, em Minas Gerais; José Petitinga, na Bahia; e o Major Viana de Carvalho, percorrendo vários Estados Brasileiros, fundando federações e centros espíritas, representavam um grandioso esforço para que a Doutrina dos Espíritos se consolidasse de forma definitiva, sem enumerar outros tantos valorosos seareiros que surgiam simultaneamente em todos os quadrantes do Brasil.
Tudo isso fez com que se transformasse radicalmente o panorama espírita brasileiro. A conceituação espírita de Ciência, Filosofia e Religião passou a ser consagrada pela imensa maioria dos seguidores da Doutrina. A codificação Kardequiana passou a ocupar o lugar grandioso que lhe estava reservado desde 18 de abril de 1.857, tornando-se paradigma, se não para todos, pelo menos para a esmagadora maioria dos espíritas.
Como decorrência, já se eclipsou na voragem dos tempos a época em que imperava, nos meios espíritas, o personalismo e as dissensões. Hoje o movimento espírita está muito mais coeso, já representa poderosa força propulsora e, como afirmou Monteiro Lobato, “já não é mais o pequenino riacho, mas tem tudo da onda que rola”
Doutrina Espírita é sinônimo de Espiritismo. A sua estrutura não comporta qualquer outro gênero de ramificação. A doutrina dos Espíritos, ou Terceira Revelação, foi codificada por Allan Kardec, tem estrutura própria e contornos definidos, jamais podendo ser confundida com movimentos paralelos ou seitas divorciadas daquilo que o emérito mestre francês estruturou nas obras fundamentais do Espiritismo, e que representa a súmula de tudo aquilo que o Espírito de Verdade, prometido por Jesus Cristo, veio revelar à Humanidade sofredora.
Dr. Silvino Canuto Abreu – Nascido em Taubaté em 19/01/1892 e desencarnou em S. Paulo 02/05/1980.
Formou-se em Farmácia aos 17 anos no Rio de Janeiro em Direito em 1916 e medicina em 1.923 .-Especializou-se em Direito Comercial, Assuntos Bancários e Econômicos, trabalhando no Banco Do Brasil e outros até 1.932- Escreveu inúmeros artigos publicados entre 1.925 e 1.930 emitindo idéias com referência à Medicina Social. Foi o fundador e Presidente da Associação Paulista de Homeopatia, Como clínico, jamais aceitou qualquer retribuição direta ou indireta de seus serviços médicos.
Foi membro de várias entidades assistenciais vicentinas, dedicou trabalho em prol da criança abandonada. Fundou orfanatos etc.
Na esfera teológica, empolgado desde os 18 anos pelos estudos bíblicos, empreendeu, entre outros trabalhos, a versão direta dos Evangelhos gregos, tomando por base o mais antigo manuscrito do Novo Testamento, até a época. Pesquisou nas Bibliotecas do Museu Britânico, Biblioteca do Vaticano, Biblioteca Nacional de Paris. Profundo conhecedor da Historia do Espiritismo no Brasil e no mundo, escreveu em 1.936, quando ainda circulava a revista “Metapsíquica” órgão da Sociedade Metapsíquica de S. Paulo, vários artigos abordando fatos ocorridos no Brasil até o ano de 1.895, detendo-se com profundeza de detalhes, na atuação do Dr. Adolfo Bezerra de Menezes à frente do movimento espírita em nosso país. Estes artigos foram publicados, em 1.950, em forma de opúsculo, por ocasião da realização do 2º Congresso Espírita do Estado de São Paulo.




No ano de 1.953, deu início, pelas colunas do jornal, “Unificação”. Órgão da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, à publicação de uma série de artigos sob o título “O Livro dos Espíritos e sua Tradição Histórica e Lendária” o que fez até junho de 1.954. Esses artigos, se suma importância deveriam ser publicados em livro, o qual não chegou a sair a lume.
Dr. Canuto foi Diretor-Geral da Sociedade Metapsíquica de São Paulo, entidade que posteriormente se fundiu na Federação Espírita do Estado de São Paulo. Foi expositor da Primeira Turma da Escola de Aprendizes do Evangelho, da mesma Federação, tendo tomado parte na elaboração de alguns dos livros usados naqueles cursos.
Ao longo de sua vida conseguiu amealhar livros e documentos raros formando imensa Biblioteca. Durante a II Grande Guerra Mundial, quando os exércitos alemães invadiram a França, tornou-se depositário de alguns documentos históricos que estavam em poder da sociedade que dirigia os destinos do Espiritismo naquela importante nação européia.
Dr. Bezerra de Menezes :
No Brasil nenhum outro espírita ainda se destacou mais do que Bezerra de Menezes, o consolidador da Federação Espírita Brasileira e o orientador e chefe do Cristianismo espírita entre nós
Nasceu 29/08/1831 na freguesia do Riacho do Sangue, Estado do Ceara, aos 13 anos foi professor de latim na própria escola em que fazia seus preparatórios. Embarcou em 05/02/1851 com destino à Corte, para se matricular na Escola de Medicina, chegou ao Rio de Janeiro sozinho, com 20 anos, no bolso 38$000 e no espírito uma esperança imensa.
Como todo moço do interior nordestino, trouxe consigo um catolicismo eivado de fatos espíritas. O Folclore brasileiro esta repleto de crendices espiritóides. Desde criança, ele ouvia a narrativa de aparições de almas, de manifestações do diabo, de casa mal assombradas.
Pobre, precisando lecionar para sustentar-se, passando às vezes grandes privações, a fé em Deus e a prece diuturna o amparavam nos momentos mais difíceis
Concluiu o curso aos 25 anos, em 1.856-Abriu com um colega consultório no centro do comercio, onde esteve espantando moscas longos meses. Mas em sua casa, a clinica ia crescendo, pois era de gente que não paga.
O Dr. Manoel Feliciano Pereira de Carvalho estava chefiando o corpo de saúde do Exército e o convidou para médico militar. Com o posto de cirurgião- tenente, dedicou-se então à cirurgia, em que chegou a ser notável. No ano seguinte, 1.857, foi recebido como sócio efetivo da Academia Nacional de Medicina, à qual apresentou uma Memória, considerada excelente.
Eleito redator dos seus Anais, durante quatro anos conservou com brilho o honroso posto. Sua clientela pobre foi crescendo ao ponto de não lhe dar tempo para comer: se não lhe pagava, dava-lhe “o mais glorioso dos títulos: o de médico dos pobres” e pouco a pouco seu escritório da cidade passou a render.- Ganhava de um lado e gastava do outro.
Ele mesmo definiu “O médico verdadeiro é isto: não tem o direito de acabar a refeição, de escolher a hora, de inquirir se é longe ou perto... O que não acode por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar-se fatigado, ou por ser alta noite, mau o caminho ou o tempo, ficar longe, ou no morro; o que sobretudo pede um carro a quem não tem com que pagar a receita, ou diz a quem lhe chora à porta que procure outro—esse não é médico, é negociante de medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos gastos da formatura. Esse é um desgraçado, que manda para outro o anjo da caridade, que lhe veio fazer uma visita e lhe trazia a única espórtula que podia saciar a sede de riqueza do seu espírito, a única que jamais se perderá nos vaivéns da vida “.
Conhecido o seu grande prestígio sobre a massa como “Médico dos Pobres” e “Jornalista Elegante” não tardou a ser namorado pela Política.
Era em 1.860 Bezerra tinha 29 anos de idade eleito pelos liberais de São Cristóvão, seu diploma foi impugnado por Haddock Lobo, chefe do partido conservador, sob o pretexto de ser Bezerra um militar. Foi o primeiro choque. Estava em jogo de um lado a garantia do seu lar, um emprego vitalício, e doutro lado uma posição política talvez efêmera, dispendiosa e combatente. O Lar! Num gesto repentino, renunciou ao posto militar, trocando a segurança pela incerteza. E lançou-se à luta com ferocidade inesperada.
Em 1.867 foi eleito Deputado Geral.
A par da medicina e da política ocupava-se também de algumas empresas. Era presidente da Companhia Carris Urbanos e foi fundador da Estrada de Ferro Macaé a Campos.
Em 1.878, voltou deputado e, no ano de 1.880, foi também presidente da Câmara Municipal e líder do seu partido
Os primeiros Homeopatas:
Ainda não existia Allan Kardec no mundo filosófico e M.Léon Rivail era apenas um ilustre professor de humanidades em Paris, e já a Corte do Império Brasileiro possui um núcleo neo – espiritualista, formado de elementos cultos e de responsabilidades, que irradiava por todo o país, por toda a América do Sul e até pela Europa as ondas do seu saber. A esse núcleo de cientistas se deve, somos o primeiro talvez a afirmá-lo, o preparo do terreno, onde mais tarde seria lançada a semente do Espiritismo. Era o círculo homeopático.
Desde 1.818 o Brasil principiara a ouvir falar de Homeopatia. O Patriarca da Independência correspondia-se com Hahnemann. A historia não registra ainda o nome dos adeptos senão a partir de 1.840, ano em que chegaram ao Brasil dois homens extraordinários, que não devem ser esquecidos pelos espíritas: Bento Mure, francês e João Vicente Martins, português,
Os dois eram profundamente neo-espiritualistas. Ambos possuíam o dom da mediunidade. Mure, clarividente; Martins, psicógrafo. Não se conheciam então as leis metapsíquicas. Reinava o empirismo nos trabalhos de inspiração. Quem ler Mure verificará que, antes de chegar a nós a doutrina dos Espíritos, ele se dava a transes mediúnicos. Foi devido a uma assistência invisível constante que puderam os dois, numa terra estranha e ingrata, que tanto amaram, amargar um apostolado inesquecível. Recebendo em paga do bem que faziam o prêmio reservado aos renovadores: a perseguição, os ataques traiçoeiros, as ofensas morais e o encurtamento da própria vida. Foram os maiores médicos dos pobres, que o Brasil conheceu. É ainda a Martins que devemos a introdução, em nosso país, das irmãs de caridade e dos princípios vicentinos ( 1.843) ambos tinham como divisa Deus, Cristo e Caridade.
A cura homeopática envolvia, como envolve ainda hoje, certo mistério para o leigo. Nada mais estranho do que a ação rápida, segura e suave de um medicamento diluído até o absurdo.
O médico mais materialista, mais ateísta, aparecerá sempre, diante do doente, com uma auréola de misticismo. “Aquilo não pode ser ciência humana” é a idéia popular. Ora, Bento Mure e Martins falavam ainda em Deus, Cristo e Caridade quando curavam e quando propagavam. Aplicavam aos doentes os passes, como um ato religioso. Não o faziam por charlatanismo. Hahnemann recomendava esse processo auxiliar da Homeopatia. Foram os homeopatas que lançaram os passes, não os espíritas. Estes continuaram a tradição
Esse ambiente era favorável às idéias espíritas, que principiaram a irradiar, em 1.848, da América do Norte. Não é para estranhar, portanto, que os primeiros experimentadores das mesas girantes tivessem saído das fileiras Hahnemanianas.
É interessante constatar que José Bonifácio de Andrade e Silva aparece na Historia da Homeopatia e na História do Espiritismo, em nossa terra, como dos primeiros experimentadores. Contudo, o grupo espírita mais antigo, que se teria reunido no Rio de Janeiro, foi o de Melo Morais, homeopata e notável historiador. Isso se teria dado antes de Kardec, por volta de 1.853, segundo uma tradição, que o “Reformador” de 01/05/1853 registrou. Freqüentavam esse grupo o Marques de Olinda, o Visconde de Uberaba, o General Pinto, e outros vultos notáveis da época. Por isso o primeiro período espírita é contado desse ano até 1.863. O segundo de 1.863 a 1.873, o terceiro de 1.873 a 1.883. O quarto é contado de 1.884 a 1.894 o quinto de 1.894 a 1.904, o sexto de 1.904 a 1.914.

Graças ao fato de começar o Espiritismo pela nata social, as primeiras noticias de imprensa lhe foram favoráveis, ou pelo menos não lhe foram contrárias. Quando o “Livro dos Espíritos” em edição francesa, chegou à Corte, já encontrou um meio propício para sua divulgação. Além de comentários de imprensa, começaram a circular folhetos sobre a doutrina. Em 1.860 apareceram os dois primeiros livros em português: o do professor Casimir Lieutand.” Os Tempos são chegados”, o primeiro talvez na América do Sul, e o “Espiritismo na sua expressão mais simples” sem nome do tradutor, que só apareceu na terceira edição, em 1862, professor Alexandre Canu.
Ao terminar o primeiro período, em 1.863, o Espiritismo já era um assunto sério. “O jornal do Comércio” o maior órgão da época e o mais prestigioso, dava, em 23?09, desenvolvido comentário favorável à novel doutrina, embora pela conclusão demonstrasse que o escritor ainda não estava senhor da matéria quanto a finalidade.
O segundo período começou em 1.863 com a primeira contestação de espíritas a um comentário desfavorável ao Espiritismo. Em 27 de setembro, o “Diário da Bahia” transcrevera um artigo do Dr. Déchambre, extraído da “Gazette Médicale”. Artigo debochativo e burlesco. Os Drs. Luís Olímpio Teles de Menezes, José Alvares do Amaral e Joaquim Carneiro de Campos subscreveram uma réplica, publicada no dia 28 d mesmo mês. Foi esse artigo que colocou o Brasil em destaque aos olhos de Kardec, e marcou, por isso, o inicio de uma nova fase na qual apareceram os primeiros centros espíritas nos moldes preconizados por este ( Revue Spirite, 1864), quer na Bahia, quer no Rio, em Sergipe e outros Estados. Em 1.869 saiu a nossa primeira revista espírita: "“ ECO DE ALÉM TÚMULO"”, “MONITOR DO ESPIRITISMO NO BRASIL”.

O GRUPO “CONFUCIUS”
A morte súbita de Kardec deixara o Espiritismo sem chefe e os pretendentes ao cargo apareceram em todos os pontos. Dividindo, subdividindo, e retalhando as opiniões. Todos queriam uma união dos espíritas em torno dum centro diretor. Todos porem, queriam ser esse centro............apareceu no Rio de Janeiro, um núcleo regular para dirigir o Espiritismo e orientar a propaganda. Essa sociedade fundada em 20 de agosto de 1.873, com estatutos impressos e noticias pela imprensa nacional e estrangeira, inclusive em Paris, tomou o nome de Grupo Confucius. Na organização dessa primeira entidade jurídica do Espiritismo no Brasil entrou o elemento homeopático com preponderância. Alguns de seus membros tornaram-se mesmo, com o tempo, notáveis médiuns curadores, que só empregavam a homeopatia.
Pelo Grupo Confucius, na sua curta existência de menos de três anos, passaram quase todos os curiosos e crentes da época e muitos vieram de longe. A ele deve o Espiritismo Brasileiro três serviços inestimáveis: a primeira tradução das obras de Kardec; a primeira assistência gratuita homeopática; a primeira revelação do nome do guia do Espiritismo no Brasil

Bezerra, que não era crente, nem curioso, não passou por ele. Mas Travassos, que havia empreendido a primeira tradução das obras de Kardec e levara a tarefa a bom termo, logo que saiu o prelo “O Livro dos Espíritos”’ , levou um exemplar ao deputado Bezerra, entregando-lho, com dedicatória. “Deu-mo na cidade e eu morava na Tijuca, a uma hora de viagem em bonde. Embarquei com o livro e, como não tinha distração para a longa viagem, disse comigo: ora, adeus! Não hei de ir para o inferno por ler isto... Depois, é ridículo confessar-me ignorante desta filosofia, quando tenho estudado todas as escolas filosóficas. Pensando assim, abri o livro e prendi-me a ele, como acontecera com a Bíblia. Lia.. Mas não encontrava nada que fosse novo para meu espírito. Entretanto tudo aquilo era novo para mim.!... Eu já tinha lido ou ouvido tudo o que se achava em “O livro dos Espíritos”... Preocupei-me seriamente com este fato maravilhoso e a mim mesmo dizia: parece que eu era espírita inconsciente, ou como diz vulgarmente, de nascença....
O GRUPO CONFUCIUS era espiritista puro. O Artigo 28 dos estatutos adotava somente “O Livro dos Espíritos” e “O Livro dos Médiuns”. Os Kardecistas principiaram a reclamar. Achavam que o Espiritismo puro, sem o Kardecismo, não vingaria no meio popular, numa nação visceralmente cristã. A melhor propaganda devia ser calcada no Cristianismo. Apoiado no Evangelho, na moral de Jesus, no Kardecismo enfim, o êxito seria uma questão de tempo. Essa opinião era tratada com calor. Os Kardecistas queriam fechá-la. O “Guia” procurava a conciliação no terreno puramente espírita.

“Nossa missão, como a vossa, é de virmos ao encontro da boa vontade. Cristo disse “Quando vos reunirdes em meu nome, estarei no meio de vós”. A nós, que não somos o Mestre, Cumpre o dever de assistir-vos, encorajar-vos e dizer-vos: Homens de boa vontade, que a fé, a caridade, a união animem vossos corações, para que os bons Espíritos sejam convosco. Animados desses sentimentos, que a todos almejamos, vereis aumentar as vossas forças, decupletar os meios de fazer o bem. E se tiverdes humildade para reconhecer que estes fatos são dons de nosso Pai e não o efeito de vossa personalidade, as bênçãos descerão sobre vós e tereis a gloria de haver colocado a mão na obra de regeneração, aplicando a lei do progresso. Coragem. Fé, perseverança e seremos sempre convosco. Confucius” ........O Espírito Kardec explicava: “trabalhar na vinha do Senhor é levar aos vossos irmãos a coragem, a consolação, a resignação e sobretudo a esperança, quando encarnados, e indicar, aos desencarnados, a via da felicidade que perderam. Trabalhai sem cessar e sereis assistidos, esclarecidos e abençoados “

Em suas raras e preciosas mensagens, repetia sempre: O Brasil tem a missão de cristianizar. É a terra da promissão. A terra de todos. A terra da fraternidade. A terra de Jesus. A Terra do Evangelho. Não foi por casualidade que tomou o nome de Vera Cruz, de Santa Cruz. Não foi por casualidade que recebeu desde o berço o leite da religião cristã. Não foi sem significação que a viram os primeiros navegadores debaixo do Cruzeiro do Sul. Na Era Nova e próxima, abrigará um povo diferente pelos costumes cristãos. Cumpre ao que ora ouve os arautos do Espaço, que convocam os homens de boa vontade para o preparo da Nova Era, reconhecer em Jesus o chefe espiritual.
Com o Evangelho explicado à luz do Espiritismo, a moral de Jesus, semeada pelos jesuítas e alimentada pelos católicos, atingirá a sua finalidade, que é rejuvenescer os homens velhos, que aqui nascerão ou para aqui virão de todos os pontos do globo, cansados de lutas fratricidas e sedentos de confraternidade. A missão dos espíritas no Brasil é divulgar o Evangelho em espírito e verdade. Os que quiserem bem cumprir o dever, a que se obrigaram antes de nascer, deverão, pis, reunir-se debaixo deste pálio trinário : Deus, Cristo e Caridade. “Onde estiver esta bandeira, ai estarei eu, Ismael” ............

AUGUSTO ELIAS DA SILVA

Ao lançar em 21/01/1883 0 “Reformador” que devia marcar o inicio do quarto período ( 1.883 a 1893) era ainda neófito e quase desconhecido. Datava de fins de 1.881 o começo de seus estudos, numa sessão da Academia diante de uns cinqüenta “científicos”........................................
O Reformador defendeu, o ponto de vista da União Espírita do Brasil que era criar “centro, no Rio formado por delegados de todos os grupos”, Não se tardou porém, a perceber a dificuldade do plano. Não querendo ligar o Reformador s “nenhuma sociedade ou grupo espírita já organizado. Elias e seus amigos Quadros, Xavier Pinheiro, Fernandes Figueira, Silveira Pinto, Romualdo Nunes e Pedro da Nobrega, deliberaram, no Natal de 1883, fundar uma sociedade nova destinada a federar todos os grupos por um programa e equilibrado ou misto. Esses amigos costumavam reunir-se em casa de Elias, à rua da Carioca n.120, às terças, para confraternização espiritual e resolveram transformar esse grupo íntimo numa entidade jurídica de vastos horizontes. Na reunião seguinte 01 de janeiro de 1884, aprovaram o plano duma FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA. O médium Manoel Fernandes Figueira leu um interessante acróstico de “federação espírita brasileira” escrito na véspera, 31 de dezembro de 1.883, em cujos dois últimos versos se pode ver a verdadeira finalidade da agremiação:

REUNINDO EM UM FORTE, INDISSOLÚVEL LAÇO A CRENTE COMUNHÃO ESPÍRITA BRASILEIRA!

Assentaram que o Reformador passaria a ser órgão da Federação, de 15 de janeiro em diante, marcaram , ainda, prazo de 60 dias para a adesão dos que quisessem figurar no Quadro dos Fundadores......

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