Tuesday, May 01, 2007

Aula 66 - MATERIALISMO E PANTEÍSMO

Aula 66 - MATERIALISMO E PANTEÍSMO


Materialismo. Enciclopédia Mirador Internacional. S.P.: Enciclopédia Britânica do Brasil, 1977. Item 3 v. 14, pag.7329 e 7350.

Apesar de todas as razões que levam convictamente à crença de que Deus existe, como causa transcendente necessária do Universo, como os atributos de suprema inteligência, onipotência, bondade e justiça perfeitas, e infinito em todas as suas perfeições, há homens, e sempre os houve, que negam a Divina existência.

O seu ateísmo disfarçado ou sincero, mas que é sempre conseqüência da arrogância, da presunção e do orgulho, leva-os a negar a existência de todo Espírito n Universo, tanto o Espírito Divino como o que em si mesmo existe e é a sede da própria inteligência e da consciência de cada um; isto é, negam a existência da alma humana como individualidade independente da matéria corporal e a ela sobrevivente, considerando-a apenas como resultante da organização cerebral altamente evoluída do Homo Sapiens.

São ateus e materialistas, profitentes do mais radical materialismo.

Materialismo é a doutrina filosófica segundo a qual não existe essencialmente no Universo coisa alguma além da matéria, quer como causa, quer como efeito. Implica um sistema dos mundos em que o fundamento único é a matéria, incriada e eterna, isto é, existente por si mesma, necessária e suficientemente, sem interferência alguma de Deus.

Os que professam são filósofos, quer dizer, refletem sobre os conhecimentos adquiridos pelas experiências objetivas, as realidades visíveis e palpáveis, suscetíveis de ser atingidas pela observação direta e a experimentação, sobre os movimentos universais que animam todas as coisas; já chegaram até às realidades invisíveis e impalpáveis como os átomos, as radiações energéticas, as vibrações e as ondas que se propagam através do Cosmos, mas nada concebem para tudo isso senão um substrato material submetido a leis cegas, não emanadas de uma inteligência diretora e criadora.

É muito antiga essa concepção, vem desde os primeiros filósofos gregos em toda a Antigüidade Greco-Romana.

Traçaremos, a seguir, um esboço das idéias materialistas ao longo da história humana, de maneira que possamos entender o significado delas.

O materialismo, como doutrina, ensino ou escola, nasce, praticamente, com Tales de Mileto, na Antiga Grécia, por volta do século VI a.C. “O materialismo dos filósofos jônicos inclui algumas teses que se tornarão características de todo o materialismo posterior:
1- a filosofia deve explicar os fenômenos não por meio de mitos religiosos, mas pela observação da própria realidade;
2- a matéria, incriada e indestrutível, é a substância de que todas as coisas se compõem e à qual todas se reduzem;
3- a geração e a corrupção das coisas obedecem a uma necessidade não sobrenatural, mas natural, não ao destino, mas às leis físicas;
4- a matéria não é estática, mas se acha em constante movimento, em permanente metamorfose;
5- a experiência sensível é a origem do conhecimento;
6- a alma faz parte da natureza e obedece às mesmas leis que regem o seu movimento”

“Para Tales, a substância primordial é a água, para Anaxímenes, o ar, e para Anaximandro, a matéria indeterminada. Todos os fenômenos da natureza consistem em transformações do mesmo princípio material, independentemente de qualquer interferência divina.

O pensamento consiste em dizer a verdade após ter penetrado a natureza e suas leis, e a sabedoria consiste em viver de acordo com essas leis.

“Para Anaxágoras, a natureza se constitui de homeomerias, unidades que contêm os elementos de todas as coisas em proporções infinitesimais. Demócrito, sustenta que o princípio de todas as coisas são os átomos. Tudo o que existe é material, e a matéria que constitui os átomos é qualitativamente idêntica, determinando os diferentes fenômenos da natureza em função da diversidade quantitativa dos átomos ( forma, dimensão e ordem). As transformações que se observam na natureza consistem em associações e dissociações de átomos.”

“A alma humana, feita também de átomos, esta sujeita à decomposição e à morte. A natureza se explica por si mesma, e os acontecimentos que hoje se produzem, dizia Demócrito, não têm causa primeira, pois preexistem de toda a eternidade no tempo infinito, contendo, sem exceção, tudo o que foi, é e será.”

Em tese, foram estas as idéias materialistas reinantes até o século XIII, havendo em contraposição as escolas espiritualistas – sobre a platônica e a neoplatônica – e aquelas que tentavam conciliar o materialismo com a teologia, como a escola Aristotélica.

No longo período que constituiu a idade Média, o materialismo foi sofrendo algumas alterações, porém sempre rejeitando a idéia de um Criador supremo para todas as coisas.

Segundo Francis Bacon ( 1561-1626). “As ciências físicas e naturais constituem, a seus olhos, a verdadeira ciência. Por sua vez Hobbes (1588 – 1679) cria um sistema materialista perfeitamente coerente. Concebendo o mundo à maneira de Descartes, a geometria como paradigma do pensamento lógico e a mecânica de Galileu como ideal da ciência da natureza, considera o mundo um conjunto de corpos materiais, definidos geometricamente, por sua forma e sua extensão. O homem é um corpo. Como os demais, a alma não existe e os organismos não passam de engrenagem do mecanismo universal.

Vivendo no período de 1632-1704, John Locke nega as idéias inatas e afirma que todas as idéias humanas têm origem na experiência.

No século XVIII, Julien Offroy de la Mettrie ( 1709-1751) – filósofo sensualista, afirma que o prazer e o amor-próprio são os únicos critérios da vida moral e, também, que os fenômenos psíquicos resultam de alterações orgânicas no cérebro e no sistema nervoso. Outro filósofo da época, considerado o precursor ideológico da Revolução Francesa, materialista e ateísta intransigente, defende a tese de que todas as idéias são sensações provocadas pelos objetos materiais e a personalidade é produto do meio e da educação. Esse filósofo chamava-se Cloude Adrien Helvétius (1715 - 1771).

Encerrando o século XVIII, Paul Henri Dietrich ( 1723 – 1789), francês de origem alemã, considerava o Cristianismo como contrário à razão e à natureza. Nega as idéias inatas, a existência da alma e de Deus. Vê no comportamento religioso um despotismo político.

No século XIX, surge com Karl Marx ( 1818 – 1883) e Friedrich Engels (1820 – 1895) o chamado materialismo histórico e dialético.

Marxismo é, pois, a doutrina segundo a qual as organizações políticas e jurídicas, os costumes e a religião são estritamente determinados pelas condições econômicas, pelo estado da indústria e do comércio, da produção e das vendas.

Só crêem na matéria! Mas não podem deixar os materialistas de ver a ordem existente no Universo, entretanto, admitem uma ordem inteligente existindo sem uma causa inteligente, que a preceda, conceba e a ela presida.

Vejamos o que nos fala Camile Flammarion, em sua obra Deus na Natureza – FEB 1987- págs.402 a 407.

De resto, a que se reduz a negação materialista?

Buscando o âmago das coisas, percebemos logo que essas negações não podem ser tão absolutamente negativas quanto pretendem. O insensato não o será jamais impunemente e não é tão fácil, quanto possa parecer, uma convicção profunda no ateísmo. Na maioria dos casos, o que é o deslocamento da questão e nada mais. Em vez de chamar Deus à direção das forças que regem o mundo, os convencidos de ateísmo deixam de o nomear, e, em vez de atribuir a um ser inteligente a inteligência dessas forças, outorgam-na à própria matéria.

Removem, assim, mas não resolvem o problema, pois os fatos continuam irrevogáveis.
Negam a Deus, mas não podem negar a força. Apenas, em lugar de proclamarem a soberania dessa força, consideram-na escrava da matéria inerte.

Todas as propriedades instintivas ou intelectuais que os nossos adversários não podem deixar de atribuir à matéria para explicar a ação desta, sua tendência progressiva, seu método seletivo, desde a formação do vegetal humilde à formação de um cérebro humano, são atributos que eles extraem do ignoto que nós denominamos Deus, e que eles homenageiam chamando-lhe matéria. Parece-nos absurdo integral a crença de que o Espírito pudesse surgir no cérebro humano e manifestar-se nas leis do Universo, se não existisse de toda a eternidade.

Não é só o materialismo que nega a Deus e a existência do Espírito humano. Há ainda o panteísmo. Para os que professam essa doutrina, entre os quais avulta a mentalidade vigorosa de Spinozza, Deus, sendo embora o Ser Supremo, não é, entretanto, um ser distinto, pois consideram-no resultante da reunião de todas as forças, todas as inteligências do Universo.

Sente-se desde logo a inconsistência de uma tal doutrina que, se verdadeira, derrogaria os mais necessários dos atributos de Deus: ser eterno, infinito, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom.

Esta doutrina ( comenta Allan Kardec) faz de Deus um ser material que, embora dotado de suprema inteligência, seria em ponto grande o que somos em ponto pequeno. Ora, transformando-se a matéria incessantemente, Deus, se fosse assim, nenhuma estabilidade teria; achar-se-ia sujeito a todas as vicissitudes, mesmo a todas as necessidades da Humanidade; faltar-lhe-ia um dos atributos essenciais da Divindade : a imutabilidade.

Não se podem aliar as propriedades da matéria à idéia de Deus, sem que ele fique rebaixado ante a nossa compreensão e não haverá sutilezas de sofismas que cheguem a resolver o problema da sua natureza íntima.

Não sabemos tudo o que ele é, mas sabemos o que ele não pode deixar de ser, e o sistema de que tratamos está em contradição com as suas mais essenciais propriedades.
Ele confunde o Criador com a criatura, exatamente como o faria quem pretendesse que engenhosa máquina fosse parte integrante do mecânico que a imaginou.

A inteligência se revela em suas obras como a de um pintor no seu quadro; mas as obras de Deus não são o próprio Deus, como o quadro não é o pintor que o concebeu e executou.

Materialismo e panteísmo se confundem, pois, na mesma negação de Deus como o Ser distinto, que é a inteligência Suprema e a Causa Primária do Universo. Mas escreve Camille Flammarion, na obra citada, ainda bem que o ateísmo absoluto só pode ser uma loucura nominal, e o Espírito mais negativista não pode, realmente, atribuir à matéria senão o que pertence ao Espírito, criando assim um deus-matéria, à sua imagem e semelhança.

Assim, temos visto que, desde o panteísmo místico ao mais rigoroso ateísmo, os erros humanos a respeito da personalidade divina não puderam, senão, velar ou desnaturar a revelação do Universo, sem aniquilá-la.

Nosso Deus da Natureza permanece inatacável, no seio mesmo da Natureza, força intrínseca e universal governando cada átomo, formando organismos e mundos, princípio e fim das criações que passam, luz incriada a brilhar no mundo invisível e para a qual, oscilantes, se dirigem as almas, como a agulha imantada, que não mais repousa enquanto não se encontra identificada com o plano do pólo magnético.

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