Sunday, September 25, 2005

AULA SOBRE O PRINCIPIO DE AÇÃO E REAÇÃO:

DO LIVRO O EVANGELHO SEGUNDO O ESPÍRITISMO CAPÍTULO 5 BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS

CAUSAS ATUAIS DAS AFLIÇÕES

4 As contrariedades da vida são de duas espécies, ou, pode-se dizer, de duas origens bem diferentes, as quais é muito importante distinguir: umas têm sua causa na vida presente, outras, não nesta vida.
Ao buscar as origens dos males terrenos, percebe-se que muitos são a natural conseqüência do caráter e da conduta dos que os sofrem.
Quantos homens caem por causa de sua própria culpa! Quantos são vítimas do seu desleixo, imprevidência, orgulho e ambição! Quantas pessoas arruinadas pela desordem, desânimo, má conduta ou por não limitarem seus desejos! Quantas uniões infelizes, fruto do interesse e da vaidade e nas quais o coração não serviu para nada! Quantos desentendimentos e desastrosas disputas se evitariam com um pouco mais de calma e com menos melindres! Quantas doenças e enfermidades resultam da imprudência e excessos de toda ordem! Quantos pais são infelizes por causa dos filhos, por não combaterem neles desde pequeninos as manifestações de suas más tendências! Por indiferença e comodismo, deixaram desenvolver neles os germens do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade, que ressecam o coração, e depois, mais tarde, ao colherem o que semearam, espantam-se e afligem-se com a falta de respeito e a ingratidão deles.
Que todos aqueles que são feridos no coração pelas contrariedades e decepções da vida interroguem friamente suas consciências.
Que busquem primeiro a origem dos males que os afligem e sintam se, na maioria das vezes, não podem dizer: Se eu tivesse feito ou deixado de fazer tal coisa, não estaria nesta situação.
A quem culpar então, por todas essas aflições, senão a si mesmo?
Deste modo o homem é, na maior parte dos casos, o autor de seus próprios infortúnios, mas, ao invés de reconhecer isso, acha mais conveniente e menos humilhante para sua vaidade acusar a sorte, a Providência, o azar, sua má estrela, quando, na verdade, sua má estrela é a sua negligência.
Os males dessa natureza formam seguramente a grande maioria das contrariedades da vida, e o homem os evitará quando trabalhar para o seu aperfeiçoamento moral e intelectual.

CAUSAS ANTERIORES DAS AFLIÇÕES

6 Se há males dos quais o homem é a principal causa nesta vida, há outros que, pelo menos na aparência, lhe são completamente estranhos e parecem atingi-lo como que por fatalidade. Tal é, por exemplo, a perda de seres queridos e dos que sustentam a família. Tais são também os acidentes que nenhuma precaução pode impedir; os reveses da vida que tornam inúteis todas as medidas de prudência; as calamidades naturais e as enfermidades de nascença, sobretudo as que tiram a tantos infelizes os meios de ganhar a vida pelo trabalho: as deformidades, a idiotia, o cretinismo, etc.
Aqueles que nascem nessas condições seguramente não fizeram nada nesta vida para merecer uma sorte tão triste, sem solução, sem reparação e que não puderam evitar, estando impossibilitados de as mudarem por si mesmos, e que os expõe à caridade pública.
Por que, então, seres tão desventurados e infelizes, enquanto ao seu lado, sob o mesmo teto, na mesma família, outros tão favorecidos sob todos os aspectos?
O que dizer, enfim, dessas crianças que morrem ainda pequeninas e que apenas conheceram da vida o sofrimento?
Estes são os problemas que nenhuma filosofia ainda pôde explicar ou resolver até agora, anormalidades que nenhuma religião pôde justificar e que parecem ser a negação da bondade, da justiça e da providência de Deus, na suposição de que a alma e o corpo são criados ao mesmo tempo, e de ter sua sorte irrevogavelmente fixada após uma estada de alguns instantes na Terra.
Que fizeram essas almas que acabam de sair das mãos do Criador, para suportar tantas misérias aqui na Terra e merecer no futuro ou uma recompensa, ou uma punição qualquer, se não fizeram nem o bem e nem o mal?
Entretanto, em virtude do princípio de que todo efeito tem uma causa, essas misérias são o efeito que deve ter uma causa. E desde que se admita um Deus justo, essa causa deve ser justa. Portanto, como a causa vem sempre antes do efeito, se não está na vida atual, deve ser anterior a esta vida, ou seja, está numa existência anterior.
É certo que Deus não pune o bem que se faz e nem o mal que não se faz; se somos punidos, é porque fizemos o mal; se não o fizemos nesta vida, seguramente o fizemos em outra. É uma conclusão da qual é impossível fugir e que demonstra a lógica da justiça de Deus.
O homem nem sempre é punido, ou completamente punido em sua existência presente, mas nunca escapa às conseqüências de suas faltas. A prosperidade do mau é apenas momentâneo; se não for punido no hoje, o será no amanhã, e, sendo assim, aquele que sofre está expiando os erros do seu passado. A infelicidade, que à primeira vista nos parece imerecida, tem, pois, sua razão de ser, e aquele que sofre pode sempre dizer: “Perdoai-me, Senhor, porque errei”.
7 Os sofrimentos com que nos defrontamos na vida presente, devido às causas anteriores, são, na maioria das vezes, como também o são os das faltas atuais, a conseqüência natural de erros cometidos, ou seja: por uma rigorosa justiça distributiva, o homem suporta o que fez os outros suportarem. Se foi duro e desumano, poderá, por sua vez, ser tratado duramente e com desumanidade. Se foi orgulhoso, poderá nascer em uma condição humilhante; se foi avarento, egoísta, ou se fez mau uso de sua fortuna, poderá ser privado do necessário. Se foi um mau filho, poderá sofrer com os seus próprios filhos, etc.
Assim, pela pluralidade das existências e da destinação da Terra como mundo expiatório, se explicam os absurdos que a divisão da felicidade e da infelicidade apresenta entre os bons e os maus neste mundo. Esse absurdo existe somente na aparência, pois é considerado apenas do ponto de vista da vida presente; mas, se nos elevarmos pelo pensamento, de modo a incluir uma série de existências, compreenderemos que cada um tem o que merece, sem prejuízo do que lhe está reservado no mundo dos Espíritos, e que a justiça de Deus nunca falha.
O homem não deve se esquecer nunca de que está num mundo inferior, ao qual está preso devido às suas imperfeições. A cada contrariedade ou sofrimento da vida, deve dizer de si para si mesmo que, se estivesse num mundo mais avançado, isso não aconteceria e que depende dele não retornar a este mundo, trabalhando por sua melhoria.

O LIVRO DOS ESPÍRITOS

LIVRE-ARBÍTRIO

843 O homem tem sempre o livre-arbítrio?
– Uma vez que tem a liberdade de pensar, tem a de agir. Sem o livre arbítrio o homem seria como uma máquina.
844 O homem desfruta de seu livre-arbítrio desde seu nascimento?
– Há liberdade de agir desde que haja a liberdade de fazer. Nos primeiros tempos da vida a liberdade é quase nula; ela vai evoluindo e seus objetivos mudam de acordo com o desenvolvimento das faculdades. A criança, tendo pensamentos relacionados com as necessidades de sua idade, aplica seu livre-arbítrio às escolhas que lhe são necessárias.
845 As predisposições instintivas que o homem traz ao nascer não são um obstáculo ao exercício do livre-arbítrio?
– As predisposições instintivas são do Espírito antes de sua encarnação; conforme é mais ou menos adiantado, podem levá-lo a praticar atos condenáveis, e ele será auxiliado nisso pelos Espíritos com essas mesmas tendências, mas não há arrebatamento irresistível quando se tem a vontade de resistir. Lembrai-vos de que querer é poder. (Veja a questão 361.)
846 O organismo tem influência sobre os atos da vida? E se tem, ela não acaba anulando o livre-arbítrio?
– O Espírito está certamente influenciado pela matéria que o pode entravar em suas manifestações; eis por que, nos mundos onde os corpos são menos materiais, as faculdades se desenvolvem com mais liberdade.
Porém, não é o instrumento que dá as faculdades. Além disso, é preciso separar aqui as faculdades morais das intelectuais; se um homem tem o instinto assassino, é seguramente seu próprio Espírito que o possui e o transmite, e não seus órgãos. Aquele que canaliza o pensamento para a vida da matéria torna-se semelhante ao irracional e, pior ainda, porque não pensa mais em se prevenir contra o mal, e é nisso que é culpado, uma vez que age assim por sua vontade. (Veja a questão 367 e segs. – “Influência do organismo”.)
847 A anormalidade das faculdades tira do homem o livre-arbítrio?
– Aquele cuja inteligência é perturbada por uma causa qualquer não é mais senhor de seu pensamento e assim não tem mais liberdade. Essa anormalidade é, muitas vezes, uma punição para o Espírito que, numa outra encarnação, pode ter sido fútil e orgulhoso e ter feito mau uso de suas faculdades. Ele pode renascer no corpo de um deficiente mental, como o escravizador no corpo de um escravo e o mau rico no de um mendigo. Porém, o Espírito sofreu esse constrangimento com perfeita consciência.
Está aí a ação da matéria. (Veja a questão 371 e seguintes)
848 Os desatinos das faculdades intelectuais causadas pela embriaguez é desculpa para atos condenáveis?
– Não, porque o bêbado voluntariamente se privou de sua razão para satisfazer paixões brutais; em vez de uma falta, comete duas.
849 No homem primitivo, a faculdade dominante é o instinto ou o livre-arbítrio?
– É o instinto, o que não o impede de agir com total liberdade em certas circunstâncias; como a criança, ele aplica essa liberdade às suas necessidades e ela se desenvolve com a inteligência. Porém, como vós, sois mais esclarecidos do que um selvagem e também mais responsáveis pelo que fazeis.
850 A posição social não é, algumas vezes, um obstáculo à total liberdade dos atos?
– O mundo tem, sem dúvida, suas exigências. Deus é justo e tudo leva em conta, mas vos deixa a responsabilidade do pouco esforço que fazeis para superar os obstáculos.

FATALIDADE

851 Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida, conforme o sentido que se dá a essa palavra, ou seja, todos os acontecimentos são predeterminados? Nesse caso, como fica o livre-arbítrio?
– A fatalidade existe apenas na escolha que o Espírito fez ao encarnar e suportar esta ou aquela prova. E da escolha resulta uma espécie de destino, que é a própria conseqüência da posição que ele próprio escolheu e em que se acha. Falo das provas de natureza física, porque, quanto às de natureza moral e às tentações, o Espírito, ao conservar seu livre arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor para ceder ou resistir.
Um bom Espírito, ao vê-lo fraquejar, pode vir em sua ajuda, mas não pode influir de modo a dominar sua vontade. Um Espírito mau, ao lhe mostrar de forma exagerada um perigo físico, pode abalá-lo e assustá-lo. Porém, a vontade do Espírito encarnado está constantemente livre para decidir.

852 Há pessoas que parecem ser perseguidas por uma fatalidade, independentemente de seu modo de agir; a infelicidade não é um destino?
– São, talvez, provas que devem suportar e que escolheram. Mas definitivamente não deveis acusar o destino pelo que, freqüentemente, é apenas a conseqüência de vossas próprias faltas. Nos males que vos afligem, esforçais-vos para que vossa consciência esteja pura, e já vos sentireis bastante consolados.
• As idéias justas ou falsas que fazemos das coisas nos fazem vencer ou fracassar de acordo com nosso caráter e posição social. Achamos mais simples e menos humilhante para o nosso amor-próprio atribuir nossos fracassos à sorte ou ao destino, e não à nossa própria falta. Se a influência dos Espíritos contribui para isso algumas vezes, podemos sempre nos defender dessa influência afastando as idéias que nos sugerem, quando são más.

853 Algumas pessoas mal escapam de um perigo mortal para logo cair em outro; parece que não teriam como escapar à morte. Não há fatalidade nisso?
– A fatalidade só existe, no verdadeiro sentido da palavra, apenas no instante da morte. Quando esse momento chega, seja por um meio ou por outro, não o podeis evitar.

853 a Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, não morreremos se a hora não é chegada?
– Não, não morrereis, e sobre isso há milhares de exemplos; mas quando a hora chegar, nada poderá impedir. Deus sabe por antecipação qual o gênero de morte que terás na Terra e, muitas vezes, vosso Espírito também sabe, porque isso foi revelado quando fez a escolha desta ou daquela existência.

FACULDADES MORAIS E INTELECTUAIS DO HOMEM

361 De onde vêm, para o homem, suas qualidades morais, boas ou más?
– São do Espírito encarnado nele; quanto mais o Espírito for puro, mais o homem é levado ao bem.
361 a Parece resultar daí que o homem de bem é a encarnaçãode um Espírito bom e o homem vicioso a de um mau?
– Sim. Mas devemos dizer que é um Espírito imperfeito, senão poderia se acreditar na existência de Espíritos sempre maus, a quem chamais de demônios.
362 Qual é o caráter dos indivíduos nos quais encarnam os Espíritos travessos e levianos?
– São criaturas imprudentes, maliciosas e, algumas vezes, seres maldosos.
363 Os Espíritos possuem paixões que não pertencem à humanidade?
– Não; se as tivessem as teriam comunicado aos homens.
364 É o mesmo Espírito que dá ao homem as qualidades morais e da inteligência?
– Certamente é o mesmo, e isso em razão do grau que alcançou na escala evolutiva. O homem não tem em si dois Espíritos.


365 Por que alguns homens muito inteligentes, que evidenciam estar neles encarnados Espíritos Superiores, são, ao mesmo tempo, cheios de vícios?
– É que os Espíritos encarnados neles não são puros o suficiente, e o homem cede à influência de outros Espíritos ainda piores. O Espírito progride numa marcha ascendente insensível, mas o progresso não se cumpre simultaneamente em todos os sentidos. Durante um período das suas muitas existências, pode avançar em ciência; num outro, em moralidade.

366 O que pensar da opinião de que as diferentes faculdades intelectuais e morais do homem seriam o produto de diferentes Espíritos encarnados nele e tendo cada um uma aptidão especial?
– Ao refletir sobre essa opinião, reconhece-se que é absurda. O Espírito deve ter todas as aptidões; para poder progredir, lhe é necessária uma vontade única. Se o homem fosse uma mistura de Espíritos, essa vontade não existiria e não teria individualidade, uma vez que, em sua morte, todos esses Espíritos seriam como um bando de pássaros escapados duma gaiola. O homem lamenta-se, freqüentemente, de não compreender certas coisas, e é curioso ver como multiplica as dificuldades, quando tem ao seu alcance uma explicação muito simples e natural. Ainda aqui, toma o efeito pela causa; é fazer em relação ao homem o que os pagãos faziam em relação a Deus. Eles acreditavam em tantos deuses quantos são os fenômenos no universo, mas mesmo entre eles havia pessoas sensatas que já viam nesses fenômenos apenas efeitos, que tinham uma única causa – Deus.
O mundo físico e o mundo moral nos oferecem, a esse respeito, numerosos pontos de comparação. Acreditou-se na existência múltipla da matéria enquanto se esteve apegado à aparência dos fenômenos.
Hoje, compreende-se que esses fenômenos tão variados podem muito bem não passar de modificações de uma matéria elementar única. Os diversos dons são manifestações de uma mesma causa que é a alma, ou Espírito encarnado, e não de diversas almas, assim como os diferentes sons do órgão são o produto do mesmo ar e não de tantas outras espécies de ar quantos sejam os sons.
Desse sistema resultaria que, quando um homem perde ou adquire certas aptidões, certas tendências, isso seria pela ação de outros tantos Espíritos que vieram a encarnar nele ou que se foram, o que o tornaria um ser múltiplo, sem individualidade e, conseqüentemente, sem responsabilidade. Também contradizem essa idéia os exemplos tão numerosos de manifestações pelas quais os Espíritos provam sua personalidade e identidade.

INFLUÊNCIA DO ORGANISMO

367 O Espírito, ao se unir ao corpo, se identifica com a matéria?
– A matéria é apenas o envoltório do Espírito, assim como a roupa é o envoltório do corpo. O Espírito, ao se unir ao corpo, conserva o que é próprio de sua natureza espiritual.
368 As faculdades ou dons do Espírito se exercem com toda a liberdade após sua união com o corpo?
– O exercício das faculdades depende dos órgãos que lhes servem de instrumento: são enfraquecidas pela grosseria da matéria.
368 a Assim, o corpo material seria um obstáculo à livre manifestação das faculdades do Espírito, como um vidro opaco se opõe à livre emissão da luz?
– Sim, é como um vidro muito opaco.
*Pode-se ainda comparar a ação da matéria grosseira do corpo sobre o Espírito à de uma água lamacenta, que tira a liberdade dos movimentos dos corpos nela mergulhados.
369 O livre exercício das faculdades da alma está subordinado ao desenvolvimento dos órgãos?
– Os órgãos são os instrumentos da manifestação das faculdades da alma; essa manifestação depende do desenvolvimento e grau de perfeição desses mesmos órgãos, como a boa qualidade de um trabalho depende da boa qualidade da ferramenta.
370 Pode-se deduzir que, da influência dos órgãos na ação das faculdades do Espírito, possa haver uma relação entre o desenvolvimento do cérebro e das qualidades morais e intelectuais?
– Não se deve confundir o efeito com a causa. O Espírito tem sempre as faculdades que lhe são próprias. Não são, portanto, os órgãos que dão as faculdades e sim as faculdades que conduzem ao desenvolvimento dos órgãos.
370 a Assim sendo, a diversidade das aptidões no homem provém unicamente do estado do Espírito?
– Unicamente não é o termo mais exato; as qualidades do Espírito, que pode ser mais ou menos avançado, são o princípio; mas é preciso Ter em conta a influência da matéria, que limita mais ou menos o exercício dessas faculdades.
*O Espírito, ao encarnar, traz certas predisposições, admitindo-se para cada uma um órgão correspondente no cérebro; o desenvolvimento desses órgãos será um efeito e não uma causa. Se as faculdades tivessem seu princípio nos órgãos, o homem seria uma máquina sem
livre-arbítrio e sem responsabilidade por seus atos. Seria preciso admitir que os maiores gênios, os sábios, poetas, artistas, são gênios apenas porque o acaso lhes deu órgãos especiais, e que sem esses órgãos não seriam gênios. Assim, o maior imbecil poderia ser um Newton, um Virgílio1 ou um Rafael 2, se tivesse possuído certos órgãos. Essa suposição é mais absurda ainda quando aplicada às qualidades morais.
Assim, conforme esse sistema, um São Vicente de Paulo, dotado por natureza desse ou daquele órgão, poderia ter sido um criminoso, e faltaria ao maior criminoso apenas um órgão para ser um São Vicente de Paulo. Admiti, ao contrário, que os órgãos especiais, se é que existem, são uma conseqüência, que se desenvolvem pelo exercício da faculdade, assim como
os músculos, pelo movimento, e não tereis nada de irracional. Façamos uma comparação simples, mas verdadeira: por meio de certos sinais fisionômicos, reconheceis o homem dado à bebida; são esses sinais que o tornam ébrio, ou é a embriaguez que faz surgirem esses sinais? Pode-se dizer que os órgãos recebem a marca das faculdades.
1 - Virgílio: Poeta latino. Autor da Eneida. Viveu entre 71 e 19 a.C (N. E.).
2 - Rafael: Rafael Sanzio (1483-1520) pintor, escultor e arquiteto italiano (N. E.).

OS DEFICIENTES MENTAIS E A LOUCURA

371 A opinião de que os deficientes mentais teriam uma alma inferior tem fundamento?
– Não. Eles têm uma alma humana, muitas vezes mais inteligente do que pensais, que sofre da insuficiência dos meios que tem para se manifestar, assim como o mudo sofre por não poder falar.
372 Qual o objetivo da Providência ao criar seres infelizes como os loucos e os deficientes mentais?
– São Espíritos em punição que habitam corpos deficientes. Esses Espíritos sofrem com o constrangimento que experimentam e com a dificuldade que têm de se manifestarem por meio de órgãos não desenvolvidos ou desarranjados.

372 a É exato dizer que os órgãos não têm influência sobre as faculdades?
– Nunca dissemos que os órgãos não têm influência. Têm uma influência muito grande sobre a manifestação das faculdades; porém, não as produzem; eis a diferença. Um bom músico com um instrumento ruim não fará boa música, mas isso não o impedirá de ser um bom músico.
*É preciso distinguir o estado normal do estado patológico3. No estado normal, a moral4 suplanta o obstáculo que a matéria lhe opõe. Mas há casos em que a matéria oferece tanta resistência que as manifestações são limitadas ou deturpadas, como na deficiência mental e na loucura.
São casos patológicos e, nesse estado, não desfrutando a alma de toda a sua liberdade, a própria lei humana a livra da responsabilidade de seus atos.
373 Qual pode ser o mérito da existência para seres que, como os loucos e os deficientes mentais, não podendo fazer o bem nem o mal, não podem progredir?
– É uma expiação obrigatória pelo abuso que fizeram de certas faculdades; é um tempo de prisão.
373 a O corpo de um deficiente mental pode, assim, abrigar um Espírito que teria animado um homem de gênio em uma existência precedente?
– Sim. A genialidade torna-se às vezes um flagelo quando dela se abusa.
*A superioridade moral nem sempre está em razão da superioridade intelectual, e os maiores gênios podem ter muito para expiar. Daí resulta freqüentemente para eles uma existência inferior à que tiveram e causa de sofrimentos. As dificuldades que o Espírito experimenta em suas manifestações são para ele como correntes que impedem os movimentos de um homem vigoroso. Pode-se dizer que deficientes mentais são aleijados do cérebro, assim como o coxo das pernas e o cego dos olhos.
3 - Estado patológico: situação em que o organismo sofre alterações provocadas por doenças
(N. E.). 4 - A moral: o conjunto das virtudes; a vergonha; o brio (N. E.).

PERGUNTAS


1- QUE É LIVRE ARBÍTRIO?

2- QUE É FATALIDADE?


3- NÃO SENDO O DETERMINISMO INFLEXÍVEL, OS RUMOS DA NOSSA EXISTÊNCIA TERRENA PODEM SER ALTERADOS, ALIVIANDO OU AGRAVANDO AS NOSSAS DORES?

4- EXPLIQUE, À LUZ DO PRINCÍPIO DA AÇÃO E REAÇÃO, O QUE PARECE SER FATALIDADE.


5- CONCEITUE LIVRE-ARBÍTRIO E FATALIDADE USANDO AS INFORMAÇÕES DO TEXTO.

6- JUSTIFIQUE DE ACORDO COM OS CONCEITOS DE LIVRE–ARBÍTRIO E FATALIDADE AS DESENCARNAÇÕES INSPERADAS, AS EPIDEMIAS, AS HECATOMBES (matança humana, carnificina), OS FLAGELOS NATURAIS (secas, enchentes,pragas)


7- O LIVRE-ARBÍTRIO, FACULDADE CONCEDIDA POR DEUS AO HOMEM, PODE SOFRER ALTERAÇÕES? EM OUTRAS PALAVRAS, O LIVRE–ARBÍTRIO, ISTO É, CAPACIDADE DE DECIDIR, DE ESCOLHER, PODE AUMENTAR, DIMINUIR OU É ESTACIONÁRIA?

8- QUAL A RELAÇÃO ENTRE LIVRE-ARBÍTRIO E REPONSABILIDADE?

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