Saturday, June 03, 2006

41 Aula Conclaves de Lideres

Texto enviado pelo Sr. Egon - Presidente da AME de São Sebastião do Paraíso
( será nossa AULA –41 para uma avaliação do assunto e do expositor )

CONCLAVES DE LIDERES

Conforme narrado pelo espírito Ermance Dufaux no livro Reforma Íntima sem Martírio, psicografado pelo médium Wanderley Soares de Oliveira (MG), houve na dimensão espiritual, nas dependências do Hospital Esperança, situado no ambiente astral de Minas Gerais, um conclave de líderes espíritas para importantes assertivas e orientações, tendo em vista o terceiro período do Espiritismo, a iniciar-se com o novo milênio.

Para podermos repassar com mais fidelidade o que foi dito nessa reunião, vamos transcrever alguns trechos do livro acima citado:

“Faltavam apenas dez minutos para as duas horas. A madrugada revestia-se de intenso trabalho. Era a última semana do segundo milênio da era cristã. As expectativas criavam um clima psicológico na Terra de rara amplitude - uma “virada” na qual as esperanças se renovavam coroadas de júbilo e fé.

Cumprindo mais uma de nossas programações no Hospital Esperança, reunimos influente grupo encarnado de pouco mais de mil formadores de opinião no movimento espírita. Trouxemo-los para uma breve e oportuna advertência. Radialistas, unificadores, médiuns, escritores, oradores, dirigentes, apresentadores, jornalistas, expositores, diretores, estudiosos e muitos presidentes de centro espírita estavam sendo devidamente preparados há quase três dias para que pudessem cooperar com o desligamento perispiritual e ampliassem sua lucidez quanto ao tentame.

O professor Cícero Pereira foi encarregado a fazer os comentários em nome de Bezerra de Menezes e Eurípedes Barsanulfo.

Observávamos a chegada de cada um dos membros, todos em estado de emancipação e acompanhados de pelo menos três cooperadores que se revezavam em várias tarefas, junto a cada um deles.
Alguns ofereciam dificuldade até para se assentarem nos lugares a eles reservados no salão, contudo, no horário previsto, tudo era calmaria e prontidão para o serviço da noite.

Aos dois para as duas horas, entraram Eurípedes e dona Maria Modesto Cravo, ladeando o amado Bezerra e o professor.” (...) Dona Maria Modesto fez um sinal ao professor, o qual assumiu a tribuna: - Declinarei de quaisquer detalhes que nos desaproximem do tema. Desejo que todos enriqueçam as almas nesse conclave com a paz e a esperança.

Constatamos um ascendente número de adeptos que têm desistido dos ideais de melhoria, em razão do ônus voluntário que carreiam para si mesmos ao conceberem reforma íntima como um compromisso de angelitude imediata. O momento exige autocrítica e vigilância. Além do ônus do martírio a que se impõem, ilusões lamentáveis têm povoado a mente de muitos espíritas sobre o porvir que os espera para além dos muros da morte, em razão dessa angelitude de adorno.” (Reforma Íntima sem Martírio, pág. 175, 176 e 177)

Essas palavras refletem a exata realidade, porque encontramos a cada passo companheiros muito preocupados com essa “angelitude de adorno”, ao entenderem que dirigentes, expositores, médiuns ou quaisquer trabalhadores da seara espírita precisam mostrar ao mundo que são melhores que os outros, em razão da doutrina esclarecedora que professam, ou que necessitam vestir-se com as vestes da santidade para serem recebidos nos planos superiores após a morte.

Então, ouvimos nos meios espíritas frases assim: “Um espírita não pode ter raiva”; “O espírita tem que ser paciente, manso, humilde e perdoar sempre”; “O espírita não pode ter medo de morrer”; “não pode isso, não pode aquilo... tem que ser assim ou assado...” e por aí afora.

Mas será que alguém, pelo fato de ser espírita, é capaz de passar pelas injustiças que a vida muitas vezes impõe, pelas agressões, humilhações e demais situações revoltantes sem sentir raiva, embora possa controlá-la e livrar-se dela em maior ou menor espaço de tempo? Será que a maioria de nós é formada por pessoas pacientes, mansas, humildes e que sempre perdoam, sem restrições? Será que nenhum de nós sente medo de morrer?
Por que então ostentarmos qualidades que ainda não alcançamos, passando uma falsa idéia sobre nós mesmos?
Lembremos que, na codificação da Doutrina Espírita, se diz que é possível conhecer-se o verdadeiro espírita pelo esforço que faz em melhorar-se. (Item 4 do capítulo XVII de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”). E esse esforço é que deve ser a nossa bandeira, assim como os valores que já conseguimos vivenciar em profundidade.

Na verdade, as posturas delineadas para o espírita são muito difíceis de ser desenvolvidas e mantidas. Somos seres egressos de longos percursos através dos milênios, nos quais fomos aprendendo e vivenciando alguns valores positivos, mas também negativos, muitos deles completamente enraizados em nosso psiquismo. Quem cultivou a violência, o orgulho, a prepotência, o desamor, a vaidade e demais atitudes e ações negativas em suas jornadas reencarnatórias (e certamente todos nós já desenvolvemos essas culturas) precisará de muita força de vontade, esforço e persistência para transmutá-los definitivamente em valores positivos, e isto certamente demandará muito tempo, provavelmente várias encarnações.

Assim, com um mínimo de reflexão, podemos perceber o quanto é utópico esse enfoque da “angelitude imediata”. No mínimo, será apenas de fachada, sem a profundidade necessária para enfrentar incólume as intempéries da vida e as situações adversas ou estimuladoras dos valores negativos enterrados no inconsciente e não completamente transmutados em positivos.

Essas posturas que foram erigidas como padrões de comportamento, conduzem muitos companheiros à acomodação, bastando-lhes aparentar as virtudes solicitadas por esses padrões para se sentirem quites com a doutrina que professam. Com isso, furtam-se às devidas avaliações de si mesmos, do que lhes vai no íntimo, perdendo valiosas oportunidades de crescimento. Essa é uma característica herdada das religiões tradicionais que se ocupam com o exterior, sem maiores compromissos com o interior, onde reside a verdade de cada um.

Nessa passarela de perfis adotados dentro da seara, além de uma “angelitude de adorno”, que agrega admiradores incautos em torno de quem a ostenta, ocorre também, com grande freqüência, o oposto, a marginalização daqueles que não conseguem dominar seus impulsos, não se adequando ao modelo que foi criado para um “verdadeiro espírita”. Quem se encontra em situação dessa natureza precisa de fraternidade e compreensão (não conivência), além do auxílio dos companheiros para não arrefecer em seus ideais, ante as dificuldades que enfrenta. Com poucas exceções, isso não acontece, ao contrário, tal pessoa vê-se logo excluída, tachada de obsedada e relegada ao abandono.

Formadores de opinião

Mas vejamos o que é um formador de opinião, tendo em vista que o conclave em referência foi realizado para os formadores de opinião espíritas.
Trata-se das pessoas que desenvolvem e passam, ou repassam, idéias capazes de influenciar outras pessoas, e cujas posições ou atividades as credenciam à confiabilidade, seja esta real ou fictícia.

No contexto espírita ocorre com freqüência que um escritor, orador, ou outro formador de opinião tem uma idéia cujo conteúdo lhe parece adequado para ser inserido num livro, numa palestra ou em outro veículo, dentro da sua área de atuação.

Essa idéia pode ter surgido de suas reflexões, ter-lhe sido inspirada por espíritos, ou pode ter sido ouvida ou lida em alguma parte, e ele a desenvolve de acordo com seus próprios conteúdos e/ou interesse, visando incluí-la no livro que está escrevendo, em suas palestras, em conversas habituais, ou em algo relacionado a suas atividades em prol do Espiritismo.

Acontece muito freqüentemente que aquela idéia lhe chegou (ou lhe foi enviada) visando a seu próprio enriquecimento espiritual, seu crescimento interior, mas raras vezes ela é utilizada para esse fim.

Quantos de nós que somos “passadores de idéias” estamos sempre atentos ao que nos chega, no intuito de nos apropriarmos do aproveitável, visando apenas a esse repasse, sem a preocupação de utilizá-lo em primeiro lugar para nossa própria edificação?
Nosso foco está no repassar, não no apropriar. Quando nos chega alguma advertência, em vez de olharmos para nosso próprio interior à procura de identificar onde ela se encaixa, cuidamos de olhar em torno, para verificar a quem ela pode estar sendo dirigida.

Com isso perdemos as melhores oportunidades que o Alto nos dá para nossa própria edificação e, então, ao retornarmos ao mundo espiritual, a decepção e a amargura serão as nossas anfitriãs e o arrependimento tardio, o nosso companheiro de todas as horas.

Tivemos sim merecimento pelo que fizemos na qualidade de formadores de opinião, mas não construímos a ponte que nos poderia elevar a planos melhores, a dimensões mais felizes. Sabemos que, para ter acesso a essas dimensões de luz, não basta o merecimento, é necessária a vivência, pois é por essa via que elevamos nossa freqüência vibratória, tornando-nos mais “leves”, ou seja, compatíveis com aquelas faixas onde a felicidade reside.

Também é importante perceber que a responsabilidade de um formador de opinião é muitíssimo maior do que a das demais pessoas, porque ele é um condutor de almas. Na seara espírita, assemelha-se ao Sacerdote, ao Pastor.
É sempre responsável pelo que passa àqueles que são alcançados pelas suas palavras. Quanto maior o âmbito da sua influência ou do alcance das suas palavras, maior a sua responsabilidade.
Será que temos nós procurado refletir profundamente sobre o teor do que passamos?

Ocupamo-nos, porventura, em edificar nosso interior com a argamassa dos ensinos de Jesus, a fim de podermos passar a mensagem que se desenvolve em nossas mentes, ou nos vem do Mais Alto, perfumada com o aroma da nossa realidade mais íntima?
Ou será essa “nossa realidade” apenas uma aparência, um “sepulcro caiado”?

Se exercemos influência sobre outras pessoas, urge encetarmos avaliações constantes, sinceras e profundas sobre nós mesmos e retirarmos nossas máscaras, aquelas que fomos construindo ao longo dos elogios que recebemos e da admiração que possamos ter percebido nos circunstantes, porque os elogios e a admiração refletem aquilo que os outros vêem em nós, raramente a nossa realidade.

Da mesma forma, cabe-nos sempre reciclar nossos discursos, aqueles que estão nos arquivos sempre abertos da nossa mente e de onde fluem para a palestra, a conversa ou a resposta a quem que nos faz uma pergunta.

Nos meios espíritas é grande o número de formadores de opinião que sempre têm uma resposta para tudo “na ponta da língua”. Percebe-se que não refletem se aquela resposta é adequada, atual, oportuna, ou mesmo se deve ser dita. Na verdade, está-lhes faltando humildade e sabedoria: humildade para se declararem momentaneamente incapazes de responder, quando não têm certeza da resposta a ser dada, e sabedoria para dizer com acerto o que deve ser dito, ou calar o que não deve ser dito.

A reflexão constante e o constante questionamento devem fazer parte do cotidiano dos formadores de opinião, face à sua responsabilidade pelas idéias que passam ou repassam. Nos meios espíritas deparamo-nos constantemente com slogans, cujo conteúdo repassamos sem maiores avaliações sobre seu significado, como: “O silêncio é uma prece”, “Não critique, coopere” ou “O mal não merece comentário em tempo algum”. O primeiro é inverídico, porque o silêncio apenas favorece a prece.

Os outros dois, interpretados de forma equivocada, têm paralisado o movimento espírita pela falta de autocrítica e de crítica construtiva.

Cabe aos formadores de opinião refletir e esclarecer questões como essas, mostrando como se pode atuar construtivamente, utilizando a ferramenta da crítica com fraternidade e alteridade, sempre seguida de sugestões de melhoria.
Quanto ao mal, certamente não merece comentários, quando estes nada possam acrescentar ou construir de bom, mas seremos cegos tentando conduzir outros cegos se restringirmos nossa visão apenas ao bem que encontramos em nossos caminhos.

Envergonhados e atormentados

E Cícero Pereira continua, esclarecendo:
“Aqui mesmo nesse nosocômio enfrentamos situações severas da parte de homens e mulheres, os quais foram agraciados com o conhecimento e o trabalho nos campos educativos da seara espírita e que, a despeito de suas honrosas fichas de prestação de serviços, encontram-se envergonhados uns e atormentados outros, porque descuidaram do erguimento dos valores eternos na sua intimidade. Muitos deles, aliás, não esqueceram a reforma íntima, mas não souberam edificá-la.” (Idem pág. 177)

Vemos nessas palavras um fato comum nos meios espíritas; percebe-se que não há muita clareza nas definições, misturando-se muitas vezes a idéia de merecimento com a de evolução, quando as duas refletem situações bem diversas.

Merecimento é resultado de ações exteriores e evolução é algo que se processa na intimidade da alma.

Mas se as ações meritórias são movidas pelo amor, ou seja, se são atos de amor, então são duplamente proveitosas, porque quem assim age está ganhando méritos que representam créditos para quem as pratica, e são importantes para quem as recebe.
Ocorre, no entanto, que quem amealha apenas merecimentos, sem desenvolver os valores da alma, assemelha-se a um pássaro com uma só asa. Não conseguirá alçar vôo elevando-se aos altiplanos de luz, onde a felicidade habita.

Ocorre também que pelo fato de as ações exteriores que proporcionam merecimento serem bem mais fáceis e ficarem mais à vista que a construção dos valores da alma, a tendência é optar pelas primeiras, empurrando-se a segunda para um futuro qualquer, talvez para depois do retorno ao mundo espiritual, quem sabe, com a errônea idéia de que lá seja mais fácil cultivá-las.
Mas, pelo que dizem os espíritos, o número de decepcionados na dimensão espiritual é muito grande. E eles não se sentem apenas decepcionados, mas também profundamente arrependidos e amargurados por causa das oportunidades perdidas.

Maioridade do Espiritismo

Cícero Pereira continua:
“Tivemos três fases bem marcadas e entrelaçadas no movimento humano em torno das idéias espíritas: o fenômeno, a caridade seguida da difusão e agora, mais que nunca, a interiorização.
Estamos no período da maioridade, preparando-nos para a aquisição de valores incorruptíveis. Nossa meta é o Espiritismo por dentro, o intercâmbio de vivências morais à luz das bases que consolidam a lógica do pensamento espírita.” (Idem pág. 178)

Esse período da maioridade do Espiritismo ao qual se refere Cícero Pereira, foi anunciado por Bezerra de Menezes num discurso que fez para mais de 5.000 espíritos desencarnados e encarnados num encontro na dimensão espiritual, ao término do Congresso Espírita Brasileiro de 1999, ocorrido em Goiânia-GO, e narrado no livro Seara Bendita, psicografado pelo médium Wanderley S. de Oliveira.

Nesse discurso Bezerra informou que o Espiritismo está entrando em sua terceira fase, esclarecendo que a primeira, de 70 anos, representara a legitimação da ciência e da filosofia espírita; a segunda, com idêntica duração, fora a da proliferação do conhecimento espírita e a terceira, a iniciar-se com o novo milênio, daria lugar à maioridade das idéias espíritas.

Será, conforme afirmou, o período da atitude, quando a essência da doutrina, os seus ensinamentos éticos, deverão ser vivenciados e não apenas falados.

Santificação de adorno

Cícero Pereira continua, esclarecendo:
“Inspirados em padrões de comportamentos rígidos da religião organizada, muitos discípulos da “boa nova espírita” asseveram seguir os exemplos de Jesus e de Kardec guardando cenho carregado e distância das atitudes espontâneas de alegria e afeto, alegando seguir as orientações doutrinárias como se houvesse um estilo exterior e predefinido de reconhecimento dos espíritas.
A grandes malefícios tem levado essa cultura de “santificação de adorno” por impedir as criaturas a uma incursão nas profundezas de si mesmas, objetivando identificar as necessidades individuais de aprimoramento.
Cada espírito tem imperfeições próprias, únicas, e, também, qualidades em diversificada intensidade e característica, não sendo útil e nem sensato a adoção de um elenco de convenções religiosas de fora para dentro para serem seguidas.” (Idem pág. 178)

“Santificação de adorno...” Reflitamos por instantes. Percebe-se que esse tipo de “santificação” está no nosso exterior, como mera vestimenta ou adorno a ser mostrado aos outros, principalmente aos companheiros da seara, por receio de sermos por eles julgados e tidos como “maus espíritas”, ou seja, de cairmos no conceito da comunidade em que estamos inseridos.

Mas lembremos que Jesus enfatizou muito essa questão das aparências e a própria lógica nos diz que ela não tem qualquer consistência. Ao contrário, é muito prejudicial à nossa evolução porque nos leva, ao longo do tempo, a acreditar que realmente somos o que aparentamos, engano que nos custará muitas dores, tristezas e arrependimento após ingressarmos no reino da verdade pelas portas da desencarnação.

Então pergunto: o que é mais importante? crescer no conceito da nossa comunidade, mas sofrer no além-túmulo, carregando seqüelas para as futuras encarnações? ou conduzir-nos (nos pensamentos, atitudes, palavras, sentimentos e ações) visando tão somente buscar nosso crescimento interior, apoiando-nos, inclusive, uns nos outros, para mais facilmente podermos alcançar nossas metas, sem recear julgamentos humanos, nem mesmo discriminações?

Essa segunda opção certamente é bem mais difícil, mas de que vale caminhar por caminhos mais fáceis quando encarnados, para depois sofrer no mundo espiritual e ter de recomeçar tudo em futuras encarnações? Aqui cabe lembrar aquela conhecida exortação de Jesus: “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta que leva à perdição”.

Gostar das pessoas

Voltemos a Cícero Pereira, que conclama:
“Motivemos os núcleos espiritistas a uma campanha de esforços pela implantação da noção de “escola do espírito”, erguendo trincheiras seguras e generosas para o entendimento mais consistente do ato de educar a si mesmo.” (...) Nessa “escola da alma” pensemos os valores humanos como metas possíveis e não como virtudes angelicais, das quais permanecemos muito distantes da possibilidade de experimentá-las.” (...) Mais do que práticas e instituições é necessário preparar o seguidor da doutrina para aprender a gostar de relacionamentos.
Com raríssimas exceções, o espírita, assim como a maioria dos homens reencarnados, não aprendeu a gostar das pessoas com as quais convive, descobrir-lhes as virtudes, encantar-se com suas diferenças, cultivar a empatia.
Muitos agem como se pudessem beneficiar-se das práticas que tanto amam sem ter que suportar o “peso” das imperfeições alheias - o que muito lhes agradaria. Ama-se muitas vezes com mais alegria o Centro, suas dependências e tarefas, que aqueles que nele transitam...
Há companheiros com mais cuidado com seus livros espíritas que com os amigos de tarefa...” (Idem pág. 180)
Sentir amizade, gostar das pessoas com as quais se convive, cultivar a empatia, são conselhos extremamente importantes, e em se tratando de assim proceder na instituição espírita, tornam-se essenciais. Lembremo-nos das afirmativas do Mestre: “Meus discípulos serão conhecidos por muito se amarem”.

A constante prática da afetividade, do cultivo da amizade, da empatia, mesmo de maneira forçada, como obrigação que alguém se impõe, leva essa pessoa, pouco a pouco, a desenvolver amor, a maior e mais plena das virtudes.
Nos locais onde se cultiva a afetividade é possível senti-la no próprio ambiente.
Quando isto ocorre num centro espírita este se torna muito mais agradável e mais propício a oferecer melhor auxílio a quem o procura, necessitado de ajuda. Torna-se também mais capacitado a mais plenas manifestações espirituais.

Quando ingressamos num local onde as pessoas desenvolvem a afetividade, podemos facilmente percebê-la pelas sensações e pelos sentimentos que passamos a nutrir. Por vezes essas sensações são tão fortes que podem até levar pessoas sensíveis às lagrimas.

Se você é dirigente espírita, ou se tem alguma influência no centro que freqüenta ou onde trabalha, pense na importância de incentivar os trabalhadores da casa, e também os freqüentadores, a desenvolverem sentimentos de amizade, de amor fraterno. Isto pode ser viabilizado pelas mais diversas formas: campanhas com a colocação de cartazes e distribuição de folhetos incentivando à vivência do afeto; criação de slogans; rápida abordagem desse tema antes e/ou após as palestras públicas; promoção de reuniões específicas visando desenvolver a afetividade, estimulando sempre os companheiros nesse sentido, e outras ações semelhantes.

Vivência

Voltemos à palestra de Cícero Pereira:
(...) O espírita passou a ser um conhecedor da vida espiritual e suas leis, mas continua ignorante sobre si mesmo, o autoconhecimento. Temos aqui mesmo no Hospital Esperança muitos devotos que detinham toda a história do Espiritismo na memória, conheciam bem todos os clássicos da Doutrina, contudo, não se esforçavam para estampar um sorriso aos companheiros de grupo.” (Idem pág. 181)

Essas palavras dão o que pensar. De que vale uma cabeça repleta de conhecimento superior sobre um coração vazio de amor?

Foi por muito refletirmos nessas questões que em nosso último livro, A TRANSIÇÃO está pedindo mudanças, sugerimos aos dirigentes espíritas algumas mudanças em algumas metodologias, como a inclusão de atividades dedicadas à vivência espírita nas reuniões de Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita - ESDE, ou de quaisquer outros modelos de estudos doutrinários.

A idéia é a de intercalar estudo com vivência, ou seja, uma reunião doutrinária e outra de vivência, ou crescimento interior, porque, se não conseguimos vivenciar o que estudamos e pregamos, seremos como balões vazios que não sairão do chão, em busca das alturas.
Nessas condições, como poderemos pretender melhorar o mundo, ou minimamente nosso próprio âmbito de influência?
De que vale conhecermos profundamente a Doutrina Espírita, nos extasiarmos ante a perfeição das leis maiores que vamos descortinando através desse conhecimento, se em nossos espaços interiores não conseguimos desenvolver o amor, a humildade e demais valores?
Ora, se a vivência desses valores é tão difícil que preferimos relegá-la a segundo plano, ou “empurrá-la com a barriga” e, por outro lado, sendo ela o aspecto mais importante do Espiritismo..., o que nos poderia dizer o bom senso?
Que faríamos se enfrentássemos situação semelhante em nossa vida material? Certamente iríamos priorizar a busca de soluções. Quando uma pessoa ou um grupo deseja real e decididamente ganhar pontos em sua evolução, saberá encontrar meios para tanto.

Refletindo sobre tudo isso, concluímos que há uma forma bem mais fácil e proveitosa para evoluir e que poderia ser adotada nos centros espíritas, como orientação primordial, tanto para os trabalhadores, quanto para os freqüentadores.

Ela está num contínuo ocupar-se em desenvolver sempre em todo o ser um sentimento de fraternidade ou de amor universal, dentro de um enfoque alteritário, porque o amor, quando vivenciado junto com a alteridade, representa uma extraordinária força de crescimento em nossa evolução espiritual.
No amor estão embutidas todas as demais virtudes, e na alteridade encontramos o melhor instrumento para uma convivência fraterna e harmoniosa.

O amor inclui a solidariedade, a compreensão, o perdão, a ajuda mútua, a humildade...

O amor exclui o despeito, a maledicência, os melindres, as fofocas, as críticas negativas, as malquerenças, o orgulho, a vaidade, a ambição...

Imagine-se a seguinte situação:

“Alguém faz uma auto-avaliação e conclui que está precisando corrigir-se do melindre, da vaidade, do egoísmo, da prepotência e do rancor, entendendo que deve priorizar o combate ao egoísmo, seu valor negativo mais forte, para depois passar aos demais, cinco ao todo”.

Mesmo que fique atento, tempo integral, à determinação de liberar-se do egoísmo, quanto tempo levará para consegui-lo?
E os outros quatro valores negativos restantes?
Mas se essa pessoa se fixa em apenas uma ação constante, a de imprimir em seus sentimentos o amor pleno, com essa única ação, estará transmutando aqueles cinco valores negativos em positivos.

A contínua prática desse exercício acaba transformando-se em hábito, criando raízes, implantando-se no subconsciente ou no inconsciente, passando, com o tempo, a fazer parte da personalidade.

E se acrescentar a esse foco a alteridade, com essa ação dupla - imprimir em todo o ser o amor e a alteridade - estará trabalhando intensa e proveitosamente pelo ganho e fixação de valores morais e espirituais, ou seja, pela sua reforma íntima.

Os sentimentos de amor e fraternidade no âmbito físico têm o poder de relaxar, eliminar estresse e possibilitar melhor circulação de energias no organismo, além de fortalecer o sistema imunológico. Eqüivalem à saúde e ao bem-estar.

No âmbito espiritual, são o melhor antídoto para o orgulho, o egoísmo, a ambição, a ganância, a agressividade e tantos outros valores negativos. Predispõem à paz, à brandura, ao bom relacionamento, à compreensão, à tolerância, ao equilíbrio e a diversos outros valores positivos, abrindo caminhos para a sabedoria.

O amor é um estado de espírito. A alteridade representa um elevado nível de compreensão.

Os sentimentos fraternos e alteritários, envoltos em júbilo, refletem o esplendor das leis de Deus.

Imprimi-los continuamente nas próprias emoções é caminhar nessa luz. Esta é uma das maneiras mais fáceis de crescer interiormente. Basta querer.

Pensemos então nos extraordinários ganhos dos centros que adotarem como bandeira a exortação constante para a aplicação dessa simples fórmula: um contínuo ocupar-se em desenvolver sempre em todo o ser um sentimento de fraternidade ou de amor universal, dentro de um enfoque alteritário.

Alteridade

Para melhor compreensão sobre alteridade, vamos nos valer da explicação dada por Marcelo Henrique Pereira, Diretor de Política e Metodologias de Comunicação da Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo (ABRADE), a um participante de uma das listas dessa entidade na Internet:

O “movimento alteridade na seara espírita” consiste numa proposta clara de entendimento entre os espíritas, com base no respeito recíproco.

A bandeira da alteridade vem sendo defendida por nós, da Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo (ABRADE), como uma proposta de entendimento interpessoal, à luz da filosofia espírita.

A postura ou comportamento alteritário pressupõe “colocar-se no lugar do outro”, aprender com ele, com suas experiências, princípios e teorias.

Num diálogo, não devemos estar preocupados em “convencer” o outro sobre nossas verdades pessoais. Pelo contrário, é preciso aproveitar a rica ocasião do convívio para crescer enquanto pessoa e permitir o crescimento do outro.

Comumente, em diversas situações de nossa existência, quando travamos contatos, sobretudo nos ramos diversos de nossa participação na vida, temos a intenção de convencer os outros sobre nossos argumentos.

No movimento espírita - e, conseqüentemente, na vida - percebemos, nós, a necessidade de humildade e fraternidade, abrindo possibilidades de aprendizado e crescimento a partir das informações e comportamentos do outro, com quem estabelecemos relações.

Esta atitude de “desprendimento”, de “abertura”, de “conviviabilidade”, acaba sendo importantíssima para a formação do “conhecimento coletivo”, em que as soluções, as alternativas, as propostas, surgem do amadurecimento coletivo.

Evidentemente, o processo é a médio e longo prazos, pois não se trata de uma “fórmula”, uma “bula” de posicionamento, mas uma conquista, uma conscientização, paulatina e constante.

É importante, nos núcleos de filosofia espírita, que possamos exercitar a convivência e a ambiência democrática e participativa, sem nos esquecermos, é claro, das balizas que norteiam qualquer associação e/ou trabalho.

Não se trata, pois, da pregação da “anarquia”, nem da ruptura total de condicionantes e regulamentos.
É, acima de tudo, uma vivência espírita, que se torna natural na medida em que, individual e coletivamente, invistamos no processo. Em nossa homepage (www.abrade.com.br), temos material sobre a alteridade.

Recomendamos, ainda, a leitura de alguns livros que têm sido lançados, que traduzem o pensamento e os ideais da espiritualidade e do próprio movimento espírita, para estes novos tempos.

Entre eles, citamos: “A transição está pedindo mudanças” (Saara Nousiainen, Ed. Caminhos de Harmonia/ABRADE), “Seara bendita” (Diversos Espíritos/Maria José e Wanderley Soares de Oliveira/INEDE) e “Nosso endereço de luz pede mudanças” (Saara Nousiainen, Ed. Caminhos de Harmonia).

Importante é destacar que o comprometimento dos espíritas interessados é a necessária alavanca para a construção de novas relações humanas, tanto no cenário espírita como fora dele.

Você é nosso convidado para fazer parte deste movimento.
Venha conversar conosco (abrade@abrade.com.br)!
Um novo tempo começa a ser construído.

Paz e Alteridade.”

Como vemos, alteridade pode ser assim resumida:
1 - disposição para aceitar e aprender com os que são diferentes e pensam diferente de nós;
2 - construção da fraternidade apesar das divergências, respeitando-as e procurando aprender com as diferentes opiniões, entendendo-se que vivenciar o valor da alteridade não quer dizer deixar de discutir, debater, questionar. A discussão, o debate e o questionamento são saudáveis quando se respeita a maneira de ser e de pensar do outro.

As idéias alteritárias também alicerçam a Política de Comunicação Social Espírita (PCSE) que a ABRADE vem discutindo junto ao movimento espírita, e que pode ser sintetizada em dez pontos principais:

Aceitar as participações para o debate, mesmo que elas sejam divergentes da maioria;
Valorizar o diálogo, o intercâmbio e a liberdade de pensamento;
Disseminar a idéia da fraternidade como relação de alteridade;
Valorizar a relação com outras identidades culturais;
Priorizar as pessoas acima da instituições;
Estabelecer a ética da fraternidade como critério de união inter-institucional;
Inserir o sujeito não espírita, em regime de diálogo, no debate espírita;
Gerar benefícios sociais pela participação em parcerias nas campanhas públicas;
Superar quaisquer barreiras discriminatórias e compreender as diferenças;
Reconhecer a legitimidade do outro e de sua autonomia.

Crescimento interior

Muitos espíritas entendem que o mero estudo doutrinário dará subsídios para a reforma íntima, ou crescimento interior, e que não são necessárias ações mais objetivas nesse sentido, mas a realidade nos mostra que não é assim.
Essa reforma, ou crescimento, pelas imensas dificuldades que apresenta, requer esforços dirigidos, organizados e permanentes. Também não pode ser relegada ao tempo, ao crescimento natural do ser, nem mesmo aos auxílios decorrentes do estudo doutrinário.

O estudo esclarece, mas para alavancar a reforma, ou o crescimento interior do ser, em razão das grandes dificuldades que apresenta, é preciso mais que esclarecimentos e conhecimento.

É preciso ação, uma ação organizada, roteirizada, priorizada. E é ai que entra a responsabilidade dos dirigentes espíritas, porque tais ações dependem deles. A implantação de reuniões e/ou “oficinas” voltadas ao crescimento interior está nas mãos dos dirigentes.
A viabilização de campanhas dirigidas à reforma íntima também está em suas mãos.

O dirigente espírita é alguém que detém graves responsabilidades, e uma delas é conduzir o “seu rebanho” pelos melhores e mais adequados caminhos, visando sempre a sua evolução.
Assim, se você é dirigente espírita ou detém influência em qualquer área da seara que freqüenta ou na qual trabalha, pode simplesmente omitir-se, tornando-se responsável por essa omissão.

Mas pode também começar a refletir detidamente sobre essas questões e, acima de tudo, arregaçar mangas, juntando-se aos que já se mobilizaram visando a essa meta.

Talvez você diga que não tem “poderes” para implementar campanhas, mudar metodologias ou promover quaisquer outras ações relacionadas ao crescimento interior do grupo, ou grupos, de que participa.
Ocorre que SEMPRE é possível fazer-se algo, nem que seja assimilando idéias e passando-as adiante, conversando com uns e outros, principalmente com aqueles que detêm os “poderes” em referência. Por mais que alguém se ache insignificante, sempre poderá exercer influência, boa ou má, nos ambientes em que estagia ou por onde circula.
Fantasias

Mas voltemos a garimpar algumas valiosas pepitas da palestra de Cícero Pereira:
(...) Assim expressamos com rigor, para que não estimulem em suas fainas de formação de opinião as expectativas de angelitude após a morte corporal. Por mais nobres sejam as obras que ergamos, por mais devoção a elas ofereçamos, torna-se imperioso o desapego de fantasias de merecimento em torno de supostas honrarias no reino dos espíritos.

Adotemos a condição de aprendizes e servos, pelo bem de nossa paz. Nossas atividades, por mais nobres, não passam de frutos da boa-vontade de quem está recomeçando.” (Idem pág. 181)

Qual de nós, que nos dedicamos à faina nos arraiais espíritas, pode olhar para trás, fazendo inventário de tudo que conseguiu realizar, e não nutrir a expectativa de um retorno glorioso à dimensão espiritual após sua desencarnação, ou, no mínimo, a de receber algumas honrarias, ou pelo menos louvores e agradecimentos pelo que realizou na Terra?

Quantas reportagens nos chegam do outro lado da vida, através da psicografia e da psicofonia, narrando as desventuras de espíritos que partiram daqui na doce expectativa de grandiosas recepções no mundo espiritual e acabaram sofrendo terríveis decepções.

Na verdade, dar o melhor de nós mesmos pela doutrina que esposamos, certamente gera merecimento, mas também reflete a oportunidade de resgates e de reajuste com as leis maiores.

E mesmo que não haja erros do passado a resgatar, se o móvel de alguém, ao desenvolver atividades no âmbito espírita, é tornar-se merecedor de aplausos e honrarias, o valor da obra se esvai na vaidade. Portanto, o espírita esclarecido trabalha apenas por amor, por um impulso interior a fim de fazer o bem, entendendo que esta é a parte que lhe cabe na divina tarefa da evolução.
Seu salário não será pago com qualquer tipo de honraria, nem em vantagens adicionais, mas com o júbilo que advém da própria realização e da consciência em harmonia com as leis de Deus.

Reforma íntima X policiamento
Voltemos a Cícero Pereira:
(...) Nosso apelo a todos que aqui se encontram, perante a toga da responsabilidade de serem influentes líderes da comunidade doutrinária, é a de que debrucem sobre o tema pouco devassado da conquista de si mesmos e nos auxiliem a estender um “programa de moralização dos conceitos espíritas”, promovendo a casa espírita ao ideário de ser uma autêntica “escola do espírito”. A reforma íntima, tão decantada, não tem sido devidamente aplicada.” (Idem pág. 183)

Observe, caro leitor, a importância desse apelo para os líderes da comunidade doutrinária espírita buscarem a conquista de si mesmos, a sua edificação interior, a fim de se tornar aptos a ajudar os espíritos benfeitores a desenvolverem um programa de “moralização dos conceitos espíritas”, visando transformar os centros em autênticas “escolas do espírito”, indicando que isto se faz a partir da reforma íntima.

Mas o que é exatamente uma reforma íntima?
Parece-nos imperioso fazer-se uma análise mais abrangente sobre o que ela realmente significa, porque muitos a confundem com policiamento e cobrança.

Há companheiros que, policiando a si próprios, ao perceberem que “resvalaram”, descumprindo algum ponto do que entendem como “conduta espírita”, passam a cobrar de si mesmos, às vezes com excessivo rigor e de forma até prejudicial.
Diria mesmo que esse excesso de zelo e cobrança refletem amiúde a vaidade de quem não aceita sua condição de criatura imperfeita, em fase evolutiva não muito avançada.

Essa cobrança, quando excessiva, prejudica a auto-estima e pode levar a um estado negativo de desânimo, de estagnação, ao catalogar a condição de verdadeiro espírita como algo inalcançável.
Quando equilibrada, é fator de crescimento. Mas há também os que vivem policiando os outros, exortando-os continuamente quanto às tais normas de conduta que devem ser seguidas pelos “verdadeiros espíritas”, numa sucessão de cobranças que podem prejudicar seu livre crescimento e a alegria de ser, viver e evoluir, levando-as, conforme o caso, a desenvolverem a tal “santidade de adorno”.

A cobrança, conforme Cícero Pereira, gera angústia e somente o esforço sereno leva à libertação.
Portanto, pela dificuldade em se definir o que realmente significa reforma íntima e como realizá-la, vemos a necessidade de o movimento espírita debruçar-se intensamente sobre esta questão, tornando-a tema de debates, além de desenvolver atividades destinadas a facilitar e/ou promover o crescimento interior daqueles que militam em seus arraiais.
Temos dado preferência ao termo crescimento interior, em vez de reforma interior, porque a palavra reforma indica uma ação, a de reformar e, depois, a estagnação.

Já o crescimento implica em aquisição de valores em todos sentidos das necessidades humanas, não apenas das virtudes, mas também de tudo o mais que possa levar a pessoa a sentir-se plena, feliz, com equilíbrio e bem-estar, capaz de interagir de forma benéfica com tudo que o cerca, desde a comunidade em que está inserido, até a própria natureza.
É uma ação contínua.
Esse crescimento pode ser natural, desenvolvendo-se no bojo do tempo e das experiências reencarnatórias.
Mas também pode ser consciente, ou seja, planejado, organizado e autocomandado.

Crescer interiormente eqüivale a:
desenvolver virtudes;
assimilar aprendizados diversos;
adquirir equilíbrio mental, psíquico e emocional;
conquistar bom relacionamento consigo mesmo e com os outros;
amadurecer;
desenvolver maior comando consciente de si mesmo (orgânico, mental e psíquico);
desenvolver contentamento;
liberar-se de traumas, fobias, medos, ansiedades, frustrações...

Auto-suficiência espiritual

Diz ainda Ermance Dufaux que, ao final do conclave, vários trabalhadores do Hospital Esperança aproximaram-se dela e de dona Maria Modesto com perguntas.

Uma delas referia-se a um certo estado de desagrado que haviam percebido em vários companheiros reencarnados, ao ouvirem certas passagens da fala de Cícero Pereira.

A esta indagação D. Maria Modesto respondeu:

“São almas que lutam tenazmente com suas tendências. (...) são os mil líderes espíritas encarnados que mais padecem de um terrível mal, o qual assola a maioria das leiras do serviço do Cristo nas expressões religiosas de todos os tempos.” (...)
É a doença da auto-suficiência espiritual ou o fascínio com a importância grandiosa que muitos corações supõem possuir nos serviços de Jesus.
Os amigos espíritas, especialmente os mais experimentados na arte de liderar, precisam vigiar com muita cautela o encanto que têm devotado a suas “folhas de serviço”.
Bastas vezes confundem quantidade de tarefas e realizações com ascensão evolutiva, como se fizessem carreira nos ofícios de sua espiritualização. (...)
Temos por aqui vastos pavilhões de médiuns, divulgadores, escritores, evangelizadores da juventude, presidentes de centros espíritas, dispensadores da caridade pública, todos abençoados com as luzes da Doutrina Espírita, entretanto, sem conquistarem sua luz própria.
Sufocaram-se no orgulho com a cultura e a experiência doutrinária e negligenciaram o engrandecimento moral de si mesmos através da reeducação dos hábitos e da aquisição de virtudes essenciais.” (Idem pág. 184 e 185)

Essas explicações de dona Maria Modesto certamente serão matéria para muita reflexão da parte daqueles que se interessam pela própria evolução e futuro espiritual, particularmente no que tange às agruras daqueles internos do Hospital Esperança que foram espíritas, influentes ou não, quando encarnados, e não souberam ou não quiseram encetar a maior das empreitadas, o desenvolvimento dos valores da alma.

Nada nos fala tão forte quanto a mostragem da situação daqueles que jornadearam pelos caminhos por onde andamos agora.

Felizes aqueles que aprendem com as experiências alheias.
Respondendo a outra pergunta sobre quais as chances de sucesso daquele conclave, dona Maria Modesto responde:

“Apesar do êxito deste momento, as chances são muito reduzidas de que nossos irmãos aproveitem a ocasião tanto quanto necessitam. Eles já perderam o gosto de ouvir, adoram mesmo é falar muito. Seus ouvidos não estão conforme a assertiva evangélica, ouvidos de ouvir.” (Idem pág. 187)

É triste termos que concordar em que há infinito número de companheiros espíritas, particularmente formadores de opinião, que se ocupam tanto em falar, falar... sempre falar, que não assimilam o que lhes é dito.

E quando alguém intenta dizer-lhes algo, é logo cortado, e mesmo que seja escutado, percebe-se claramente que o “falador”, quando ouvinte, nada apreende. Sua mente está ocupada em pensar no que irá continuar dizendo, completamente desinteressado do que ouve, como se fosse ele o dono e senhor do conhecimento e da verdade, e todos os demais nada soubessem que lhe pudesse ser de utilidade.

Dona Maria Modesto continua:
“(...) Não somente esses mil. Mas uma infinidade de homens e mulheres da direção nos arraiais espiritistas se encontram nas garras da auto-suficiência, fascinados por seus feitos e com sua bagagem, nutrindo pouca disposição para serem avaliados e criticados em suas idéias e ações. Gostam mesmo é de serem admirados e aprovados sem restrições, sendo que alguns adoram impressionar...
(...) Muitos e graves episódios de fascinação coletiva rondam a Seara Espírita em razão desse lamentável quadro de personalismo e vaidade.
(...) basta olhar os pavilhões deste hospital lotados de dirigentes que não souberam se diminuir para que o Cristo crescesse. Ajudaram muitos a se renovarem, mas não cuidaram tanto quanto careciam da mudança interior de si próprios.
(...) As almas que cristalizarem o pensamento nos redutos do preconceito ou do dogmatismo enfrentarão sofrida crise de impotência, amargando o vexame e o desânimo.

É por amor aos nossos líderes espíritas que aqui os trouxemos. Mais que nunca precisarão sedimentar em seus atos a tolerância construtiva, visão futurista, empatia com o próximo e desapego de suas realizações pessoais - quesitos essenciais para formarem o clima do diálogo e do entendimento com alteridade, as únicas vias de acesso ao paradigma do século XXI que estabelece a parceria solidária e pacífica como alvo de todas as aspirações sociais e humanitárias.
Se rebelarem e fixarem na condição de apaixonados por suas obras, experimentarão a falência e a angústia quando aqui aportarem. (...) Se os avisamos agora é para que não se queixem depois.” (Idem pág. 188, 189 e 190)
Será que conseguimos nos dar conta da seriedade dessas advertências?

Será que vamos continuar indiferentes, ou vamos levantar a bandeira das mudanças necessárias, começando pelas nossas próprias posturas ante a vida e o Espiritismo?

Atualização de metodologias, comportamentos, práticas e conceitos

A uma nova pergunta dona Maria Modesto responde:
(...) O Espiritismo penetra seu terceiro ciclo de setenta anos no qual se concretizará a maioridade das idéias espíritas. Nossos companheiros, se souberem adequar, serão excelentes operários de um tempo novo.
Uma geração nova regressa às fileiras carnais da humanidade para arejar o panorama de todas as expressões segmentarias do orbe, interligando-as e projetando-as a ampliados patamares de utilidade.
O movimento espírita não ficará fora desse contexto, sendo bafejado por um processo de atualização de metodologias, comportamentos, práticas e conceitos, o que ensejará uma cultura cujos traços serão o pluralismo e a lógica. (Idem pág. 189)

Nos últimos anos, vêm-se observando inúmeros movimentos em várias partes da Terra, visando à busca aos valores humanos, ao crescimento interior. Há a clara percepção de que os modelos atuais não são bons porque levam ao sofrimento e à destruição. Inúmeros livros têm sido e continuam a ser escritos pelos mais diversos autores, dentro e fora do âmbito espírita, através da mediunidade ostensiva ou pelas vias da inspiração ou “canalização”, como também é conhecida, desenvolvendo e aprofundando esses temas, esclarecendo e ajudando milhões de pessoas em suas dificuldades evolutivas a encontrarem meios mais adequados e mais eficazes para fazerem medrar os valores da alma.

Algumas ciências, como a Psicologia, também vêm se ocupando com essas questões, procurando meios para ajudar as pessoas em seu crescimento interno, na busca dos valores humanos, reconhecendo que apenas pela vivência desses valores é possível alcançar-se o equilíbrio e o bem-estar interior.

Vemos assim como as informações de dona Maria Modesto e outros muitos Espíritos sobre essa nova geração que regressa às fileiras carnais da humanidade para arejar o panorama de todas as expressões segmentárias do orbe, vêm se concretizando.
Isto vem confirmar a imperiosa e urgente necessidade de o movimento espírita começar a despertar para estas realidades e mobilizar-se para as necessárias mudanças, tanto em algumas metodologias, quanto em alguns enfoques e conceitos, visando a buscar novos caminhos para a sua própria reforma e crescimento, nos rumos da vivência do amor, da humildade e da alteridade.
Estes temas são ampliados e aprofundados no já citado livro de nossa autoria A TRANSIÇÃO está pedindo mudanças.

Para os dirigentes espíritas e/ou companheiros que quiserem desenvolver atividades visando ao crescimento interior de si mesmos ou dos grupos que freqüentam, colocamos à disposição o livro de nossa autoria Crescimento Interior, que contém um roteiro para trabalhos em grupo, como oficinas, e um manual individual.

Esse livro é vendido a baixo custo para que qualquer pessoa possa adquiri-lo. Para os membros dos grupos que quiserem adotá-lo, é repassado a preço de custo.

Quanto aos centros espíritas, há muitas maneiras de procurarem desenvolver, naqueles que circulam entre suas paredes, uma cultura de crescimento interior.
Isto pode ser feito através de reuniões específicas, oficinas, inserção desse tema nas reuniões, distribuição de folhetos apropriados, colocação de cartazes, como:

“Pense nas pessoas que estão neste ambiente e envolva-as numa vibração de afeto, confiança e alegria.” ou “Quer evoluir? Passe a desenvolver de forma contínua um estado de espírito fraterno e jubiloso”.
Se a diretoria de um centro se reúne visando a determinado fim, certamente encontrará os melhores caminhos para alcançá-lo.
Se você, amigo leitor, sintoniza-se com as idéias que aqui foram colocadas, junte-se a nós na tarefa de divulgá-las e para trabalhar a fim de que sejam aplicadas na prática.

Esses primeiros passos neste novo período do Espiritismo requerem dos espíritas conscientes mais participação e mais dedicação à causa que abraçaram.

Para finalizar, vamos transcrever um texto de Marcelo Henrique Pereira, Diretor de Política e Metodologias de Comunicação da Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo (ABRADE), conforme veiculado na Home Page dessa instituição (www.abrade.com.br), que reflete importante material para reflexão e incentivo à prática da fraternidade entre companheiros de seara.
Próximos e Distantes

Pense no trabalho que você realiza na Instituição Espírita com a qual mantém laços de afinidade. Recorde todos aqueles momentos em que, desinteressadamente, você deixou seus afazeres particulares, para realizar algo em prol dos outros - e, conseqüentemente, para si mesmo.
Compute todas aquelas horas que você privou seus familiares e amigos mais diletos da convivência com você, por causa desta ou daquela atividade no Centro. Ainda assim, rememore quantas vezes você deixou seu bairro, sua cidade, e até seu estado ou país, para realizar alguma atividade espírita, a bem do ideal que abraçaste...

Pois bem, foram vários os momentos de serviço, na messe do Senhor, não é mesmo?

Quanta alegria experimentada, quanta gente nova que você conheceu, quantos “amigos” você cativou, não é assim?

Tão próximos... Você e os outros... Pareciam, até, uma família!

Agora, dedique alguns minutos de sua atenção para vislumbrar o cenário que vamos reproduzir aqui. Garantimos que ele é a mais pura expressão da verdade. A semelhança deste relato com os fatos e acontecimentos da vida real não terá sido mera coincidência.

A personagem de nossa história é uma senhora idosa, 70 e poucos anos.

Depois de uma vida ativa, no serviço público, no intercâmbio familiar, onde criou seus filhos e netos, e do trabalho de algumas décadas nas instituições espíritas da região, em diversificadas atividades, adoeceu.

Gravemente enferma, não pode mais se dirigir ao centro, para continuar fazendo com carinho o que sempre fez, atender àqueles a quem tanto consolou e amou. Dos amigos do centro, apenas uma vaga lembrança, porque nunca recebeu uma visita, nem daqueles que lhe eram mais próximos, com os quais nutria uma maior afinidade.

Abandonada, até pelos entes mais próximos, está triste, deprimida, desconsolada...

Onde estão nossas tão decantadas fraternidade e solidariedade espíritas?

Onde foram parar seus “amigos”? Até que ponto nós que ombreamos lado a lado as atividades da seara espírita prezamo-nos mutuamente, de modo que, entre nós, além do coleguismo do convívio, sejam formados laços reais de amizade e companheirismo?

Ou será que eles, os colegas de trabalho e atividade espírita não perceberam que aquela senhora, de repente, não apareceu mais? Que ela possa estar doente ou necessitada? Será que ela não estará precisando de alguma coisa?

Ou, transmutando a situação para nós, que estamos “no centro”, será que nunca perguntamos onde os membros do nosso grupo moram, nem nunca fomos fazer-lhe uma visita, só para saber onde eles moram?
Ou, ademais, nunca os recebemos em nossa casa, porque nos falta tempo, ou porque “não queremos misturar as coisas”?
Sentimo-nos muito tristes...

Decepcionados conosco mesmos...

E, ao vermos tanta perda de tempo no movimento dos espíritas, para discutir “o sexo dos anjos”, a “pureza doutrinária”, “o que é ou o que não é espiritismo”, se “é ou não é religião”, se Cristo “foi isto ou aquilo”, se aquela casa, que realiza a atividade “x”, “é ou não é genuinamente espírita”, que deixamos de lado a “poesia” da mensagem espírita, que consola e esclarece, que levanta e acaricia, que intui e liberta, fique presa aos condicionamentos e às exterioridades dos rótulos, da presunção, da arrogância, da prepotência, da “seleção espiritual” conforme nossos requisitos (pessoais) de conveniência e oportunidade.


Choramos... Ao visitá-la, porque seu carinho para com o trabalho de imprensa espírita que realizamos, e o seu receio de que ela estivesse atrasada no pagamento da assinatura do periódico a levou a telefonar para nós, percebemos o quanto necessitamos uns dos outros, e como somos duros e rudes com nossos semelhantes...

Decepcionados - conosco e com os outros - nos vimos naquela irmã, imaginando o que nos pode acontecer daqui há algumas décadas... Será que também padeceremos do abandono, da solidão, da falta de carinho? Será que também mendigaremos uma visita, um atendimento, uma conversa, ou ficaremos, sós, à espera da morte?

O que aconteceu com aquele grupo grande, com muita alegria e conversa, que se reunia semanalmente no centro?

Com certeza, não sentiram a falta da velha senhora, ou porque nos achamos melhores do que os outros, ou porque ela era mais um número de nossas estatísticas, já tendo sido substituída por alguém mais jovem, mais atuante, mais risonho...

Então, meu amigo, minha amiga, o que você acha que lhe espera, daqui a alguns anos?

Tão próximos e tão distantes... Eu, você e os demais “trabalhadores” espíritas se preocupam tanto com o “caráter” do trabalho, com os “resultados”, com o “cumprimento de obrigações e regulamentos”, que esquecemos de ser gente..

Que pena!

Mas, ainda é tempo de mudar este quadro... Hoje, amanhã, na próxima vez que você voltar ao centro. Conte aos seus “colegas” esta história, e proporcione um debate e uma reflexão, no cenário da casa em que você trabalha...

Mude paradigmas, empreste mais “humanidade” às tarefas, transformando o convívio maquinal e obrigatório em uma relação de sólida amizade e bem-querência...

Humanize sua Instituição!

Amanhã, poderá ser tarde, muito tarde...

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Aula 40 – O Bem e o Mal

Aula 40 – O Bem e o Mal

Na Gênese Capitulo III.....................................Origem do bem e do mal........................

1. - Sendo Deus o princípio de todas as coisas e sendo todo sabedoria, todo bondade, todo justiça, tudo o que dele procede há de participar dos seus atributos, porquanto o que é infinitamente sábio, justo e bom nada pode produzir que seja ininteligente, mau e injusto. O mal que observamos não pode ter nele a sua origem.

2. - Se o mal estivesse nas atribuições de um ser especial, quer se lhe chame Arimane, quer Satanás, ou ele seria igual a Deus, e, por conseguinte, tão poderoso quanto este, e de toda a eternidade como ele, ou lhe seria inferior.

No primeiro caso, haveria duas potências rivais, incessantemente em luta, procurando cada uma desfazer o que fizesse a outra, contrariando-se mutuamente, hipótese esta inconciliável com a unidade de vistas que se revela na estrutura do Universo.

No segundo caso, sendo inferior a Deus, aquele ser lhe estaria subordinado. Não podendo existir de toda a eternidade como Deus, sem ser igual a este, teria tido um começo. Se fora criado, só o poderia ter sido por Deus, que, então, houvera criado o Espírito do mal, o que implicaria negação da bondade infinita.
(Veja-se: O Céu e o Inferno, cap. X: «Os demônios»...descrito na página 4 desta lição)

3. - Entretanto, o mal existe e tem uma causa.

Os males de toda espécie, físicos ou morais, que afligem a Humanidade, formam duas categorias que importa distinguir: a dos males que o homem pode evitar e a dos que lhe independem da vontade.

Entre os primeiros, cumpre se incluam os flagelos naturais.

O homem, cujas faculdades são restritas, não pode penetrar, nem abarcar o conjunto dos desígnios do Criador; aprecia as coisas do ponto de vista da sua personalidade, dos interesses factícios e convencionais que criou para si mesmo e que não se compreendem na ordem da Natureza.
Por isso é que, muitas vezes, se lhe afigura mau e injusto aquilo que consideraria justo e admirável, se lhe conhecesse a causa, o objetivo, o resultado definitivo.
Pesquisando a razão de ser e a utilidade de cada coisa, verificará que tudo traz o sinete da sabedoria infinita e se dobrará a essa sabedoria, mesmo com relação ao que lhe não seja compreensível.

4. - O homem recebeu em partilha uma inteligência com cujo auxílio lhe é possível conjurar, ou, pelo menos, atenuar os efeitos de todos os flagelos naturais. Quanto mais saber ele adquire e mais se adianta em civilização, tanto menos desastrosos se tornam os flagelos.

Com uma organização sábia e previdente, chegará mesmo a lhes neutralizar as conseqüências, quando não possam ser inteiramente evitados. Assim, com referência, até, aos flagelos que têm certa utilidade para a ordem geral da Natureza e para o futuro, mas que, no presente, causam danos, facultou Deus ao homem os meios de lhes paralisar os efeitos.
Assim é que ele saneia as regiões insalubres, imuniza contra os miasmas pestíferos, fertiliza terras áridas e se industria em preservá-las das inundações; constrói habitações mais salubres, mais sólidas para resistirem aos ventos tão necessários à purificação da atmosfera
e se coloca ao abrigo das intempéries.
É assim, finalmente, que, pouco a pouco, a necessidade lhe fez criar as ciências, por meio das quais melhora as condições de habitabilidade do globo e aumenta o seu próprio bem-estar.

5. - Tendo o homem que progredir, os males a que se acha exposto são um estimulante para o exercício da sua inteligência, de todas as suas faculdades físicas e morais, incitando-o a procurar os meios de evitá-los. Se ele nada houvesse de temer, nenhuma necessidade o induziria a procurar o melhor; o espírito se lhe entorpeceria na inatividade; nada inventaria, nem descobriria. A dor é o aguilhão que o impede para a frente, na senda do progresso.

6. - Porém, os males mais numerosos são os que o homem cria pelos seus vícios, os que provêm do seu orgulho, do seu egoísmo, da sua ambição, da sua cupidez, de seus excessos em tudo. Aí a causa das guerras e das calamidades que estas acarretam, das dissenções, das injustiças, da opressão do fraco pelo forte, da maior parte, afinal, das enfermidades.
Deus promulgou leis plenas de sabedoria, tendo por único objetivo o bem. Em si mesmo encontra o homem tudo o que lhe é necessário para cumpri-las.

A consciência lhe traça a rota, a lei divina lhe está gravada no coração e, ao demais, Deus lha lembra constantemente por intermédio de seus messias e profetas, de todos os Espíritos encarnados que trazem a missão de o esclarecer, moralizar e melhorar e, nestes últimos tempos, pela multidão dos Espíritos desencarnados que se manifestam em toda parte. Se o homem se conformasse rigorosamente com as leis divinas, não há duvidar de que se pouparia aos mais agudos males e viveria ditoso na Terra. Se assim procede, é por virtude do seu livre-arbítrio: sofre então as conseqüências do seu proceder.

(O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V, nos 4, 5, 6 e seguintes.) página 9desta lição

7. - Entretanto, Deus, todo bondade, Pôs o remédio ao lado do mal, isto é, faz que do próprio mal saia o remédio. Um momento chega em que o excesso do mal moral se torna intolerável e impõe ao homem a necessidade de mudar de vida. Instruído pela experiência, ele se sente compelido a procurar no bem o remédio, sempre por efeito do seu livre-arbítrio.

Quando toma melhor caminho, é por sua vontade e porque reconheceu os inconvenientes do outro. A necessidade, pois, o constrange a melhorar-se moralmente, para ser mais feliz, do mesmo modo que o constrangeu a melhorar as condições materiais da sua existência (nº 5).
8. - Pode dizer-se que o mal é a ausência do bem, como o frio é a ausência do calor. Assim como o frio não é um fluido especial, também o mal não é atributo distinto; um é o negativo do outro.
Onde não existe o bem, forçosamente existe o mal. Não praticar o mal, já é um princípio do bem. Deus somente quer o bem; só do homem procede o mal.

Se na criação houvesse um ser preposto ao mal, ninguém o poderia evitar; mas, tendo o homem a causa do mal em SI MESMO, tendo simultaneamente o livre-arbítrio e por guia as leis divinas, evitá-lo-á sempre que o queira.

Tomemos para termo de comparação um fato vulgar.
Sabe um proprietário que nos confins de suas terras há um lugar perigoso, onde poderia perecer ou ferir-se quem por lá se aventurasse. Que faz, a fim de prevenir os acidentes?

Manda colocar perto um aviso, tornando defeso ao transeunte ir mais longe, por motivo do perigo. Ai está a lei, que é sábia e previdente. Se, apesar de tudo, um imprudente desatende o aviso, vai além do ponto onde este se encontra e sai-se mal, de quem se pode ele queixar, senão de si próprio?

Outro tanto se dá com o mal: evitá-lo-ia o homem, se cumprisse as leis divinas.
Por exemplo: Deus pôs limite à satisfação das necessidades: desse limite a saciedade adverte o homem; se este o ultrapassa, fá-lo voluntariamente.

As doenças, as enfermidades, a morte, que daí podem resultar, provêm da sua imprevidência, não de Deus.

9. - Decorrendo, o mal, das imperfeições do homem e tendo sido este criado por Deus, dir-se-á, Deus não deixa de ter criado, se não o mal, pelo menos, a causa do mal; se houvesse criado perfeito o homem, o mal não existiria.

Se fora criado perfeito, o homem fatalmente penderia para o bem. Ora, em virtude do seu livre-arbítrio, ele não pende fatalmente nem para o bem, nem para o mal. Quis Deus que ele ficasse sujeito à lei do progresso e que o progresso resulte do seu trabalho, a fim de que lhe pertença o fruto deste, da mesma maneira que lhe cabe a responsabilidade do mal que por sua vontade pratique. A questão, pois, consiste em saber-se qual é, no homem, a origem da sua propensão para o mal. (1)

10. - Estudando-se todas as paixões e, mesmo, todos os vícios, vê-se que as raízes de umas e outros se acham no instinto de conservação, instinto que se encontra em toda a pujança nos animais e nos seres primitivos mais próximos da animalidade, nos quais ele exclusivamente domina, sem o contrapeso do senso moral, por não ter ainda o ser nascido para a vida intelectual. O instinto se enfraquece, à medida que a inteligência se desenvolve, porque esta domina a matéria.

O Espírito tem por destino a vida espiritual, porém, nas primeiras fases da sua existência corpórea, somente a exigências materiais lhe cumpre satisfazer e, para tal, o exercício das paixões constitui uma necessidade para o efeito da conservação da espécie e dos indivíduos, materialmente falando.
Mas, uma vez saído desse período, outras necessidades se lhe apresentam, a princípio semimorais e semimateriais, depois exclusivamente morais. É então que o Espírito exerce domínio sobre a matéria, sacode-lhe o jugo, avança pela senda providencial que se lhe acha traçada e se aproxima do seu destino final.
Se, ao contrário, ele se deixa dominar pela matéria, atrasa-se e se identifica com o bruto.

Nessa situação, o que era outrora um bem, porque era uma necessidade da sua natureza, transforma-se num mal, não só porque já não constitui uma necessidade, como porque se torna prejudicial à espiritualização do ser.
Muita coisa, que é qualidade na criança, torna-se defeito no adulto. O mal e, pois, relativo e a responsabilidade é proporcionada ao grau de adiantamento. Todas as paixões têm, portanto, uma utilidade providencial, visto que, a não ser assim, Deus teria feito coisas inúteis e, até, nocivas.
No abuso é que reside o mal e o homem abusa em virtude do seu livre-arbítrio. Mais tarde, esclarecido pelo seu próprio interesse, livremente escolhe entre o bem e o mal.
_________
(1) O erro esta em pretender-se que a alma haja saído perfeita das mãos do Criador, quando este, ao contrario, quis que a perfeição resulte da depuração gradual do Espírito e seja obra sua. Houve Deus por bem que a alma, dotada de livre-arbítrio, pudesse optar entre o bem e o mal e chegasse a suas finalidades últimas de forma militante e resistindo ao mal. Se houvera criado a alma tão perfeita quanto ele e, ao sair-lhe ela das mãos, a houvesse associado à sua beatitude eterna, Deus tê-la-ia feito, não à sua imagem, mas semelhante a si próprio. (Bonnamy, A Razão do Espiritismo, cap. VI.)
__________

No Livro Céu e Inferno no CAPÍTULO X
INTERVENÇÃO DOS DEMÔNIOS NAS MODERNAS MANIFESTAÇÕES

1. - Os modernos fenômenos do Espiritismo têm atraído a atenção sobre fatos análogos de todos os tempos, e nunca a História foi tão compulsada neste sentido como ultimamente. Pela semelhança dos efeitos, inferiu-se a unidade da causa.

Como sempre acontece relativamente a fatos extraordinários que o senso comum desconhece, o vulgo viu nos fenômenos espíritas uma causa sobrenatural, e a superstição completou o erro ajuntando-lhes absurdas crendices.

Provém dai uma multidão de lendas que, pela maior parte, são um amálgama de poucas verdades e muitas mentiras.

2. - As doutrinas sobre o demônio, prevalecendo por tanto tempo, haviam de tal maneira exagerado o seu poder, que fizeram, por assim dizer, esquecer Deus; por toda parte surgia o dedo de Satanás, bastando para tanto que o fato observado ultrapassasse os limites do poder humano.
Até as coisas melhores, as descobertas mais úteis, sobretudo as que podiam abalar a ignorância e alargar o circulo das idéias foram tidas muita vez por obras diabólicas.
Os fenômenos espíritas de nossos dias, mais generalizados e mais bem observados à luz da razão e com o auxilio da Ciência, confirmaram, é certo, a intervenção de inteligências ocultas, porém agindo dentro de leis naturais e revelando por sua ação uma nova força e leis até então desconhecidas.

A questão reduz-se, portanto, a saber de que ordem são essas inteligências.

Enquanto se não possuía do mundo espiritual noções mais que incertas e sistemáticas, a verdade podia ser desviada; mas hoje que observações rigorosas e estudos experimentais esclareceram a natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como o seu modo de ação e papel no Universo - hoje, dizemos, a questão se resolve por fatos.

Sabemos, agora, que essas inteligências ocultas são as almas dos que viveram na Terra. Sabemos também que as diversas categorias de bons e maus Espíritos não são seres de espécies diferentes, porém que apenas representam graus diversos de adiantamento. Segundo a posição que ocupam em virtude do desenvolvimento intelectual e moral, os seres que se manifestam apresentam os mais fundos contrastes, sem que por isso possamos supor não tenham saído todos da grande família humana, do mesmo modo que o selvagem, o bárbaro e o homem civilizado.

3. - Sobre este ponto, como sobre muitos outros, a Igreja mantém as velhas crenças a respeito dos demônios. Diz ela: "Há princípios que não variam há dezoito séculos, porque são imutáveis." O seu erro é precisamente esse de não levar em conta o progresso das idéias; é supor Deus insuficientemente sábio para não proporcionar a revelação ao desenvolvimento das inteligências; é, em suma, falar aos contemporâneos a mesma linguagem do passado.
Ora, progredindo a Humanidade enquanto a Igreja se abroquela em velhos erros sistematicamente, tanto em matéria espiritual como na científica, cedo virá a incredulidade, avassalando a própria Igreja.

4 . - Eis como esta explica a intervenção exclusiva dos demônios nas manifestações espíritas: (1)
__________
As citações deste capítulo são extraídas da mesma pastoral indicada no precedente, e da qual são corolários. É a mesma fonte e, por conseguinte, a mesma autoridade.

"Nas suas intervenções exteriores os demônios procuram dissimular a sua presença, a fim de afastar suspeitas. Sempre astutos e pérfidos, seduzem o homem com ciladas antes de algemá-lo na opressão e no servilismo.
"Aqui lhe aguçam a curiosidade com fenômenos e partidas pueris; além, despertam-lhe a admiração e subjugam-no pelo encanto do maravilhoso.
"Se o sobrenatural aparece e os desmascara, então, acalmam-se, extinguem quaisquer apreensões, solicitam confiança e provocam familiaridade.
"Ora se apresentam como divindades e bons gênios, ora assimilam nomes e mesmo traços de memorados mortos. Com o auxílio de tais fraudes dignas da antiga serpente, falam e são ouvidos; dogmatizam e são acreditados; misturam com suas mentiras algumas verdades e inculcam o erro debaixo de todas as formas. Eis o que significam as pretensas revelações de além-túmulo. E é para tal resultado que a madeira e a pedra, as florestas e as fontes, o santuário dos ídolos e os pés das mesas e as mãos das crianças se tornam oráculos: é por isso que a pitonisa profetiza em delírio; que o ignorante se torna cientista num sono misterioso. Enganar e perverter, tal é, em toda parte e de todos os tempos, o supremo objetivo dessas manifestações.
"Os resultados surpreendentes dessas práticas ou atos ordinariamente fantásticos e ridículos, não podendo provir da sua virtude intrínseca, nem da ordem estabelecida por Deus, só podem ser atribuídos ao concurso das potências ocultas.

Tais são, notadamente, os fenômenos extraordinários obtidos em nossos dias pelos processos aparentemente inofensivos do magnetismo, como os das mesas falantes.

Por meio das operações da moderna magia, vemos reproduzirem-se no presente as evocações, as consultas, as curas e sortilégios que ilustraram os templos dos ídolos e os antros das sibilas.
Como outrora, interroga-se a madeira e esta responde; manda-se e ela obedece; isto em todas as línguas e sobre todos os assuntos; acha-se a gente em presença de seres invisíveis a usurparem nomes de mortos, e cujas pretensas revelações têm o cunho da contradição e da mentira; formas inconsistentes e leves aparecem rápidas e repentinas, patenteando-se dotadas de força sobre-humana.

"Quais são os agentes secretos desses fenômenos, os verdadeiros atores dessas cenas inexplicáveis?
Os anjos, esses não aceitariam tais papéis indignos, como também não se prestariam a todos os caprichos da curiosidade.
"As almas dos mortos, que Deus proíbe evocar, essas demoram no lugar que lhes designa a sua justiça, e não podem, sem sua permissão, colocar-se às ordens dos vivos.
Assim, os seres misteriosos que acodem ao primeiro apelo do herege, do ímpio ou do crente - o que importa dizer da inocência ou do crime - não são nem enviados de Deus, nem apóstolos da verdade e da salvação, porém fatores do erro e agentes do inferno.

Apesar do cuidado com que se ocultam sob os mais veneráveis nomes, eles traem-se pela nulidade das suas doutrinas, pela baixeza dos atos e incoerência das palavras.

"Procuram apagar do símbolo religioso os dogmas do pecado original, da ressurreição do corpo, da eternidade das penas, como de toda a revelação divina, para subtrair às leis a sua verdadeira sanção e abrir ao vício todas as barreiras. Se as suas sugestões pudessem prevalecer, acabariam por formar uma religião cômoda para uso do socialismo e de todos a quem importuna a noção do dever e da consciência.

"A incredulidade do nosso século facilitou-lhes o caminho. Assim possam as sociedades cristãs, por uma sincera dedicação à fé católica, escapar ao perigo desta nova e terrível invasão!"

5. - Toda esta teoria deriva do princípio de que os anjos e os demônios são seres distintos das almas humanas, sendo estas antes o produto de uma criação especial, aliás inferiores aos demônios em inteligência, em conhecimento e em toda espécie de faculdade. E é assim que opina pela exclusiva intervenção dos maus anjos, nas antigas como nas modernas manifestações dos Espíritos.

A possibilidade da comunicação dos mortos é uma questão de fato, é o resultado de observações e experiências que não vêm ao caso discutir aqui.
Admitamos, porém, como hipótese, a doutrina acima citada, e vejamos se ela se não destrói por si mesma com os seus próprios argumentos.

6. - Das três categorias de anjos segundo a Igreja, a primeira ocupa-se exclusivamente do céu; a segunda do governo do Universo, e a terceira, da Terra. É nesta última que se encontram os anjos de guarda encarregados da proteção de cada indivíduo.

Somente uma parte dos anjos, desta última categoria, é que compartilhou da revolta e foi transformada em demônios. Ora, desde que Deus lhes permitira com tanta liberdade, já por sugestões ocultas, já por ostensivas manifestações, induzir os homens em erro, e porque esse Deus é soberanamente justo e bom, devia ao menos, para atenuar os males de tão odiosa concessão, permitir também a manifestação dos bons anjos. Ao menos, assim, os homens teriam a liberdade e o recurso da escolha.

Dar, porém, aos anjos maus o monopólio da tentação, com poderes amplos de simular o bem para melhor seduzir; e vedando ao mesmo tempo toda e qualquer intervenção dos bons, é atribuir a Deus o intuito inconcebível de agravar a fraqueza, a inexperiência e a boa fé dos homens.
É mais ainda: é supor da parte de Deus um abuso de confiança, pela fé que nos merece. A razão recusa admitir tanta parcialidade em proveito do mal. Vejamos os fatos.

7. - Aos demônios concedem-se faculdades transcendentes: nada perderam da natureza angélica; possuem o saber, a perspicácia, a previdência e a penetração dos anjos, tendo ainda, a mais, astúcia, ardil e artifício, tudo em grau mais elevado.

O objetivo que os move é desviar os homens do bem, afastá-los de Deus e arrastá-los ao inferno, do qual são provedores e recrutadores.

Assim, compreende-se que se dirijam de preferência aos que estão no bom caminho e nele persistem; compreendesse o emprego das seduções e simulacros do bem para atraí-los e perdê-los; mas o que se não compreende é que se dirijam aos que já lhes pertencem de corpo e alma, procurando reconduzi-los a Deus e ao bem.

Quem mais estará nas garras do demônio do que aquele que de Deus blasfema, atido ao vício e à desordem das paixões?
Esse não estará no caminho do inferno?
Mas então como compreender que a uma tal presa esse demônio exorte a rogar a Deus, a submeter-se à sua vontade, a renunciar ao mal?

Como se compreende que exalte aos seus olhos a vida deliciosa dos bons Espíritos e lhe pinte a horrorosa posição dos maus?
Jamais se viu negociante realçar aos seus fregueses a mercadoria do vizinho em detrimento da sua, aconselhando-os a ir à casa dele. Nunca se viu um arrebanhador de soldados depreciar a vida militar, decantando o repouso da vida doméstica!
Poderá ele dizer aos recrutas que terão vida de trabalhos e privações com dez probabilidades contra uma de morrerem ou, pelo menos, de ficarem sem braços nem pernas?
É este, no entanto, o papel estúpido do demônio, pois é notório e é um fato que as instruções emanadas do mundo invisível têm regenerado incrédulos e ateus, insuflando-lhes nalma fervor e crenças nunca havidos.

Ainda por influência dessas manifestações têm-se visto e vêem-se diariamente regenerarem-se viciosos contumazes, procurando melhorarem-se a si mesmos. Ora, atribuir ao demônio tão benéfica propaganda e salutar resultado, é conferir-lhe diploma de tolo.
E como não se trata de simples suposição, mas de fato experimental contra o qual não há argumento, havemos de concluir, ou que o demônio é um desazado de primeira ordem, ou que não é tão astuto e mau como se pretende, e, consequentemente, tão temível quanto dizem; ou, então, que todas as manifestações não partem dele.

8. - "Eles inculcam o erro sob todas as formas, e é para obter esse resultado que a madeira, a pedra, as florestas, as fontes, os santuários dos ídolos, os pés das mesas e as mãos dos meninos se tornam oráculos."
Mas, se assim é, qual o sentido e valor destas palavras do Evangelho:

"Eu repartirei meu Espírito por toda a carne: - vossos filhos e filhas profetizarão; os jovens terão visões e os velhos terão sonhos. Nesses dias repartirei meu Espírito por todos os meus servidores e servidoras, e eles profetizarão." (Atos dos Apóstolos, cap. II, vv. 17 e 18.)

Não estará nessas palavras a predição tácita da mediunidade dos nossos dias a todos concedida, mesmo às crianças?
E essa faculdade foi anatematizada pelos apóstolos?
Não; eles a apregoam como graça divina e não como obra do demônio.

Terão os teólogos de hoje mais autoridade que os apóstolos?
Por que não ver antes o dedo de Deus na realização daquelas palavras?

9. - "Por meio das operações da moderna magia vemos reproduzirem-se no presente as evocações, as consultas, as curas e os sortilégios que ilustraram os templos dos ídolos e os antros das sibilas."

Nós perguntamos: que há de comum entre as operações da magia e as evocações espíritas?
Houve tempo em que tais operações faziam fé e acreditava-se na sua eficácia, mas hoje são simplesmente ridículas. Ninguém as toma a sério, e o Espiritismo condena-as.

Na época em que florescera a magia, era imperfeita a noção sobre a natureza dos Espíritos, geralmente havidos por seres dotados de poder sobre-humano.

A troco da própria alma, ninguém os evocava que não fosse para obter favores da sorte e da fortuna, achar tesouros, revelar o futuro ou obter filtros. A magia com seus sinais, fórmulas e práticas cabalísticas era increpada de fornecer segredos para operar prodígios, constranger Espíritos a ficarem às ordens dos homens e satisfazerem-lhes os desejos.
Hoje sabemos que os Espíritos são as almas dos mortos e não os evocamos senão para receber conselhos dos bons, moralizar os maus e continuar relações com seres que nos são caros. Eis o que diz o Espiritismo a tal respeito:

10. Não podereis obrigar nunca a presença de um Espírito vosso igual ou superior em moralidade, por vos faltar autoridade sobre ele; mas, do vosso inferior, e sendo para seu beneficio, conseguí-lo-eis, visto como outros Espíritos vos secundam.

( O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, cap. XXV.= Considerações gerais. - Espíritos que se podem evocar. - Linguagem de que se deve usar com os Espíritos. - Utilidade das evocações particulares. - Questões sobre as evocações. - Evocações dos animais. - Evocações das pessoas vivas. – Telegrafia humana.)

Considerações gerais

269. Os Espíritos podem comunicar-se espontaneamente, ou acudir ao nosso chamado, isto é, vir por evocação. Pensam algumas pessoas que todos devem abster-se de evocar tal ou tal Espírito e ser preferível que se espere aquele que queira comunicar-se.

Fundam-se em que, chamando determinado Espírito, não podemos ter a certeza de ser ele quem se apresente, ao passo que aquele que vem espontaneamente, de seu moto próprio, melhor prova a sua identidade, pois que manifesta assim o desejo que tem de se entreter conosco.

Em nossa opinião, isso é um erro: primeiramente, porque há sempre em tomo de nós Espíritos, as mais das vezes de condição inferior, que outra coisa não querem senão comunicar-se; em segundo lugar e mesmo por esta última razão, não chamar a nenhum em particular é abrir a porta a todos os que queiram entrar.

Numa assembléia, não dar a palavra a ninguém é deixá-la livre a toda a gente e sabe-se o que daí resulta. A chamada direta de determinado Espírito constitui um laço entre ele e nós; chamamo-lo pelo nosso desejo e opomos assim uma espécie de barreira aos
intrusos.
Sem uma chamada direta, um Espírito nenhum motivo terá muitas vezes para vir confabular conosco, a menos que seja o nosso Espírito familiar.

Cada uma destas duas maneiras de operar tem suas vantagens e nenhuma desvantagem haveria, senão na exclusão absoluta de uma delas. As comunicações espontâneas inconveniente nenhum apresentam, quando se está senhor dos Espíritos e certo de não deixar que os maus tomem a dianteira.
Então, é quase sempre bom aguardar a boa vontade dos que se disponham a comunicar-se, porque nenhum constrangimento sofre o pensamento deles e dessa maneira se podem obter coisas admiráveis; entretanto, pode suceder que o Espírito por quem se chama não esteja disposto a falar, ou não seja capaz de fazê-lo no sentido desejado.
O exame escrupuloso, que temos aconselhado, é, aliás, uma garantia contra as comunicações más. Nas reuniões regulares, naquelas, sobretudo, em que se faz um trabalho continuado, há sempre Espíritos habituais que a elas comparecem, sem que sejam chamados, por estarem prevenidos, em virtude mesmo da regularidade das sessões.
Tomam, então, freqüentemente a palavra, de modo espontâneo, para tratar de um assunto qualquer, desenvolver uma proposição ou prescrever o que se deva fazer, caso em que são facilmente reconhecíveis, quer pela forma da linguagem, que é sempre idêntica, quer pela escrita, quer por certos hábitos que lhes são peculiares.

(O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V, nos 4, 5, 6 e seguintes.)
Causas atuais das aflições

4. De duas espécies são as vicissitudes da vida, ou, se o preferirem, promanam de duas fontes bem diferentes, que importa distinguir. Umas têm sua causa na vida presente; outras, fora desta vida.

BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS

Remontando-se à origem dos males terrestres, reconhecer-se-á que muitos são conseqüência natural do caráter e do proceder dos que os suportam.
Quantos homens caem por sua própria culpa! Quantos são vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho e de sua ambição!

Quantos se arruinam por falta de ordem, de perseverança, pelo mau proceder, ou por não terem sabido limitar seus desejos!

Quantas uniões desgraçadas, porque resultaram de um cálculo de interesse ou de vaidade e nas quais o coração não tomou parte alguma!
Quantas dissensões e funestas disputas se teriam evitado com um pouco de moderação e menos suscetibilidade!

Quantas doenças e enfermidades decorrem da intemperança e dos excessos de todo gênero!
Quantos pais são infelizes com seus filhos, porque não lhes combateram desde o princípio as más tendências! Por fraqueza, ou indiferença, deixaram que neles se desenvolvessem os germens do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade, que produzem a secura do coração; depois, mais tarde, quando colhem o que semearam, admiram-se e se afligem da falta de deferência com que são tratados e da ingratidão deles.

Interroguem friamente suas consciências todos os que são feridos no coração pelas vicissitudes e decepções da vida; remontem passo a passo à origem dos males que os torturam e verifiquem se, as mais das vezes, não poderão dizer: Se eu houvesse feito, ou deixado de fazer tal coisa, não estaria em semelhante condição.

A quem, então, há de o homem responsabilizar por todas essas aflições, senão a si mesmo?
O homem, pois, em grande número de casos, é o causador de seus próprios infortúnios; mas, em vez de reconhecê-lo, acha mais simples, menos humilhante para a sua vaidade acusar a sorte, a Providência, a má fortuna, a má estrela, ao passo que a má estrela é apenas a sua incúria.

Os males dessa natureza fornecem, indubitavelmente, um notável contingente ao cômputo das vicissitudes da vida. O homem as evitará quando trabalhar por se melhorar moralmente, tanto quanto intelectualmente.

5. A lei humana atinge certas faltas e as pune. Pode, então, o condenado reconhecer que sofre a conseqüência do que fez. Mas a lei não atinge, nem pode atingir todas as faltas; incide especialmente sobre as que trazem prejuízo â sociedade e não sobre as que só prejudicam os que as cometem, Deus, porém, quer que todas as suas criaturas progridam e, portanto, não deixa impune qualquer desvio do caminho reto,
Não há falta alguma, por mais leve que seja, nenhuma infração da sua lei, que não acarrete forçosas e inevitáveis conseqüências, mais ou menos deploráveis. Daí se segue que, nas pequenas coisas, como nas grandes, o homem é sempre punido por aquilo em que pecou. os sofrimentos que decorrem do pecado são-lhe uma advertência de que procedeu mal.
Dão-lhe experiência, fazem-lhe sentir a diferença existente entre o bem e o mal e a necessidade de se melhorar para, de futuro, evitar o que lhe originou uma fonte de amarguras; sem o que, motivo não haveria para que se emendasse. Confiante na impunidade, retardaria seu avanço e, conseqüentemente, a sua felicidade futura.

Entretanto, a experiência, algumas vezes, chega um pouco tarde: quando a vida já foi desperdiçada e turbada; quando as forças já estão gastas e sem remédio o mal, Põe-se então o homem a dizer:
"Se no começo dos meus dias eu soubera o que sei hoje, quantos passos em falso teria evitado! Se houvesse de recomeçar, conduzir-me-ia de outra maneira. No entanto, já não há mais tempo!"
Como o obreiro preguiçoso, que diz:
"Perdi o meu dia", também ele diz: "Perdi a minha vida". Contudo, assim como para o obreiro o Sol se levanta no dia seguinte, permitindo-lhe neste reparar o tempo perdido, também para o homem, após a noite do túmulo, brilhará o Sol de uma nova vida, em que lhe será possível aproveitar a experiência do passado e suas boas resoluções para o futuro.
Causas anteriores das aflições

6. Mas, se há males nesta vida cuja causa primária é o homem, outros há também aos quais, pelo menos na aparência, ele é completamente estranho e que parecem atingi-lo como por fatalidade.
Tal, por exemplo, a perda de entes queridos e a dos que são o amparo da família.

Tais, ainda, os acidentes que nenhuma previsão poderia impedir; os reveses da fortuna, que frustram todas as precauções aconselhadas pela prudência; os flagelos naturais, as enfermidades de nascença, sobretudo as que tiram a tantos infelizes os meios de ganhar a vida pelo trabalho: as deformidades, a idiotia, o cretinismo, etc.

Os que nascem nessas condições, certamente nada hão feito na existência atual para merecer, sem compensação, tão triste sorte, que não podiam evitar, que são impotentes para mudar por si mesmos e que os põe à mercê da comiseração pública.

Por que, pois, seres tão desgraçados, enquanto, ao lado deles, sob o mesmo teto, na mesma família, outros são favorecidos de todos os modos?

Que dizer, enfim, dessas crianças que morrem em tenra idade e da vida só conheceram sofrimentos?
Problemas são esses que ainda nenhuma filosofia pôde resolver, anomalias que nenhuma religião pôde justificar e que seriam a negação da bondade, da justiça e da providência de Deus, se verificasse a hipótese de ser criada a alma ao mesmo tempo que o corpo e de estar a sua sorte irrevogavelmente determinada após a permanência de alguns instantes na Terra.
Que fizeram essas almas, que acabam de sair das mãos do Criador, para se verem, neste mundo, a braços com tantas misérias e para merecerem no futuro urna recompensa ou uma punição qualquer, visto que não hão podido praticar nem o bem, nem o mal?
Todavia, por virtude do axioma segundo o qual todo efeito tem uma causa, tais misérias são efeitos que hão de ter uma causa e, desde que se admita um Deus justo, essa causa também há de ser justa.
Ora, ao efeito precedendo sempre a causa, se esta não se encontra na vida atual, há de ser anterior a essa vida, isto é, há de estar numa existência precedente. Por outro lado, não podendo Deus punir alguém pelo bem que fez, nem pelo mal que não fez, se somos punidos, é que fizemos o mal; se esse mal não o fizemos na presente vida, tê-lo-emos feito noutra.
E uma alternativa a que ninguém pode fugir e em que a lógica decide de que parte se acha a justiça de Deus.

O homem, pois, nem sempre é punido, ou punido completamente, na sua existência atual; mas não escapa nunca às conseqüências de suas faltas. A prosperidade do mau é apenas momentânea; se ele não expiar hoje, expiará amanhã, ao passo que aquele que sofre está expiando o seu passado.

O infortúnio que, à primeira vista, parece imerecido tem sua razão de ser, e aquele que se encontra em sofrimento pode sempre dizer: 'Perdoa-me, Senhor, porque pequei.

7. Os sofrimentos devidos a causas anteriores à existência presente, como os que se originam de culpas atuais, são muitas vezes a conseqüência da falta cometida, isto é, o
homem, pela ação de uma rigorosa justiça distributiva, sofre o que fez sofrer aos outros.
Se foi duro e desumano, poderá ser a seu turno tratado duramente e com desumanidade; se foi orgulhoso, poderá nascer em humilhante condição; se foi avaro, egoísta, ou se fez mau uso de suas riquezas, poderá ver-se privado do necessário; se foi mau filho, poderá sofrer pelo procedimento de seus filhos, etc.

Assim se explicam pela pluralidade das existências e pela destinação da Terra, como mundo expiatório, as anomalias que apresenta a distribuição da ventura e da desventura entre os bons e os maus neste planeta.

Semelhante anomalia, contudo, só existe na aparência, porque considerada tão-só do ponto de vista da vida presente. Aquele que se elevar, pelo pensamento, de maneira a apreender toda uma série de existências, verá que a cada um é atribuída a parte que lhe compete, sem prejuízo da que lhe tocará no mundo dos Espíritos, e verá que a justiça de Deus nunca se interrompe.

Jamais deve o homem olvidar que se acha num mundo inferior, ao qual somente as suas imperfeições o conservam preso. A cada vicissitude, cumpre-lhe lembrar-se de que, se pertencesse a um mundo mais adiantado, isso não se daria e que só de si depende não voltar a este, trabalhando por se melhorar.

8. As tribulações podem ser impostas a Espíritos endurecidos, ou extremamente ignorantes, para levá-los a fazer uma escolha com conhecimento de causa. Os Espíritos penitentes, porém, desejosos de reparar o mal que hajam feito e de proceder melhor, esses as escolhem livremente.
Tal o caso de um que, havendo desempenhado mal sua tarefa, pede lha deixem recomeçar, para não perder o fruto de seu trabalho.
As tribulações, portanto, são, ao mesmo tempo, expiações do passado, que recebe nelas o merecido castigo, e provas com relação ao futuro, que elas preparam.

Rendamos graças a Deus, que, em sua bondade, faculta ao homem reparar seus erros e não o condena irrevogavelmente por uma primeira falta.

9. Não há crer, no entanto, que todo sofrimento suportado neste mundo denote a existência de uma determinada falta. Muitas vezes são simples provas buscadas pelo Espírito para concluir a sua depuração e ativar o seu progresso.
Assim, a expiação serve sempre de prova, mas nem sempre a prova é uma expiação.

Provas e expiações, todavia, são sempre sinais de relativa inferioridade, porquanto o que é perfeito não precisa ser provado. Pode, pois, um Espírito haver chegado a certo grau de elevação e, nada obstante, desejoso de adiantar-se mais, solicitar uma missão, uma tarefa a executar, pela qual tanto mais recompensado será, se sair vitorioso, quanto mais rude haja sido a luta.

Tais são, especialmente, essas pessoas de instintos naturalmente bons, de alma elevada, de nobres sentimentos inatos, que parece nada de mau haverem trazido de suas precedentes existências e que sofrem, com resignação toda cristã, as maiores dores, somente pedindo a Deus que as possam suportar sem murmurar. Pode-se, ao contrário, considerar como expiações as aflições que provocam queixas e impelem o homem à revolta contra Deus.

Sem dúvida, o sofrimento que não provoca queixumes pode ser uma expiação; mas, é indício de que foi buscada voluntariamente, antes que imposta, e constitui prova de forte resolução, o que é sinal de progresso.

10. Os Espíritos não podem aspirar à completa felicidade, enquanto não se tenham tornado puros: qualquer mácula lhes interdita a entrada nos mundos ditosos. São como os passageiros de um navio onde há pestosos, aos quais se veda o acesso à cidade a que aportem, até que se hajam expurgado.

Mediante as diversas existências corpóreas é que os Espíritos se vão expungindo, pouco a pouco, de suas imperfeições.
As provações da vida os fazem adiantar-se, quando bem suportadas. Como expiações, elas apagam as faltas e purificam. São o remédio que limpa as chagas e cura o doente.

Quanto mais grave é o mal, tanto mais enérgico deve ser o remédio. Aquele, pois, que muito sofre deve reconhecer que muito tinha a expiar e deve regozijar-se à idéia da sua próxima cura.
Dele depende, pela resignação, tornar proveitoso o seu sofrimento e não lhe estragar o fruto com as suas impaciências, visto que, do contrário, terá de recomeçar.
Esquecimento do passado

11. Em vão se objeta que o esquecimento constitui obstáculo a que se possa aproveitar
da experiência de vidas anteriores. havendo Deus entendido de lançar um véu sobre o passado, é que há nisso vantagem. Com efeito, a lembrança traria gravíssimos inconvenientes.
Poderia, em certos casos, humilhar-nos singularmente, ou, então, exaltar-nos o orgulho e, assim, entravar o nosso livre-arbítrio. Em todas as circunstâncias, acarretaria inevitável perturbação nas relações sociais.
Freqüentemente, o Espírito renasce no mesmo meio em que já viveu, estabelecendo de novo relações com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes haja feito. Se reconhecesse nelas as a quem odiara, quiçá o ódio se lhe despertaria outra vez no íntimo. De todo modo, ele se sentiria humilhado em presença daquelas a quem houvesse ofendido.

Para nos melhorarmos, outorgou-nos Deus, precisamente, o de que necessitamos e nos basta: a voz da consciência e as tendências instintivas. Priva-nos do que nos seria prejudicial.
Ao nascer, traz o homem consigo o que adquiriu, nasce qual se fez; em cada existência, tem um novo ponto de partida. Pouco lhe importa saber o que foi antes: se vê punido, é que praticou o mal.

Suas atuais tendências más indicam o que lhe resta a corrigir em si próprio e é nisso que deve concentrar-se toda a sua atenção, porquanto, daquilo de que se haja corrigido completamente, nenhum traço mais conservará. As boas resoluções que tomou são a voz da consciência, advertindo-o do que é bem e do que é mal e dando-lhe forças para resistir às tentações.

Aliás, o esquecimento ocorre apenas durante a vida corpórea. Volvendo à vida espiritual, readquire o Espírito a lembrança do passado; nada mais há, portanto, do que uma interrupção temporária, semelhante à que se dá na vida terrestre durante o sono, a qual não obsta a que, no dia seguinte, nos recordemos do que tenhamos feito na véspera e nos dias precedentes.

E não é somente após a morte que o Espírito recobra a lembrança dó passado. Pode dizer-se que jamais a perde, pois que, como a experiência o demonstra, mesmo encarnado, adormecido o corpo, ocasião em que goza de certa liberdade, o Espírito tem consciência de seus atos anteriores; sabe por que sofre e que sofre com justiça.

A lembrança unicamente se apaga no curso da vida exterior, da vida de relação. Mas, na falta de uma recordação exata, que lhe poderia ser penosa e prejudicá-lo nas suas relações sociais, forças novas haure ele nesses instantes de emancipação da alma, se os sabe aproveitar.
Motivos de resignação

12. Por estas palavras: Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados, Jesus aponta a compensação que hão de ter os que sofrem e a resignação que leva o padecente a bendizer do sofrimento, como prelúdio da cura.

Também podem essas palavras ser traduzidas assim: Deveis considerar-vos felizes por sofrerdes, visto que as dores deste mundo são o pagamento da dívida que as vossas passadas faltas vos fizeram contrair; suportadas pacientemente na Terra, essas dores vos poupam séculos de sofrimentos na vida futura. Deveis, pois, sentir-vos felizes por reduzir Deus a vossa dívida, permitindo que a saldeis agora, o que vos garantirá a tranqüilidade no porvir.
O homem que sofre assemelha-se a um devedor de avultada soma, a quem o credor diz: "Se me pagares hoje mesmo a centésima parte do teu débito, quitar-te-ei do restante e ficarás livre; se o não fizeres, atormentar-te-ei, até que pagues a última parcela." Não se sentiria feliz o devedor por suportar toda espécie de privações para se libertar, pagando apenas a centésima parte do que deve? Em vez de se queixar do seu credor, não lhe ficará agradecido?

Tal o sentido das palavras: "Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados."

São ditosos, porque se quitam e porque, depois de se haverem quitado, estarão livres. Se, porém, o homem, ao quitar-se de um lado, endivida-se de outro, jamais poderá alcançar a sua libertação. Ora, cada nova falta aumenta a dívida, porquanto nenhuma há, qualquer que ela seja, que não acarrete forçosa e inevitavelmente uma punição.

Se não for hoje, será amanhã; se não for na vida atual, será noutra. Entre essas faltas, cumpre se coloque na primeira fiada a carência de submissão à vontade de Deus.

Logo, se murmurarmos nas aflições, se não as aceitarmos com resignação e como algo que devemos ter merecido, se acusarmos a Deus de ser injusto, nova dívida contraímos, que nos faz perder o fruto que devíamos colher do sofrimento. E por isso que teremos de recomeçar, absolutamente como se, a um credor que nos atormente, pagássemos uma cota e a tomássemos de novo por empréstimo.
Ao entrar no mundo dos Espíritos, o homem ainda está como o operário que comparece no dia do pagamento. A uns dirá o Senhor: "Aqui tens a paga dos teus dias de trabalho"; a outros, aos venturosos da Terra, aos que hajam vivido na ociosidade, que tiverem feito consistir a sua felicidade nas satisfações do amor-próprio e nos gozos mundanos: "Nada vos toca, pois que recebestes na Terra o vosso salário. Ide e recomeçai a tarefa."
13. O homem pode suavizar ou aumentar o amargor de suas provas, conforme o modo por que encare a vida terrena. Tanto mais sofre ele, quanto mais longa se lhe afigura a duração do sofrimento.
Ora, aquele que a encara pelo prisma da vida espiritual apanha, num golpe de vista, a vida corpórea.
Ele a vê como um ponto no infinito, compreende-lhe a curteza e reconhece que esse penoso momento terá presto passado. A certeza de um próximo futuro mais ditoso o sustenta e anima e, longe de se queixar, agradece ao Céu as dores que o fazem avançar.
Contrariamente, para aquele que apenas vê a vida corpórea, interminável lhe parece esta, e a dor o oprime com todo o seu peso. Daquela maneira de considerar a vida, resulta ser diminuída a importância das coisas deste mundo, e sentir-se compelido o homem a moderar seus desejos, a contentar-se com a sua posição, sem invejar a dos outros, a receber atenuada a impressão dos reveses e das decepções que experimente.
Dai tira ele uma calma e uma resignação tão úteis à saúde do corpo quanto à da alma, ao passo que, com a inveja, o ciúme e a ambição, voluntariamente se condena à tortura e aumenta as misérias e as angústias da sua curta existência.

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