Monday, May 14, 2007

Aula 68 - CRIAÇÃO DIVINA

Aula 68 - CRIAÇÃO DIVINA

FORMAÇÃO DOS MUNDOS E DOS SERES VIVOS


Tudo o que existe é obra de Deus. Por isso dizemos Criação Divina, reportando-nos a esse imenso Universo que, como diz Kardec “abrange a infinidade dos mundos que vemos e dos que não vemos, todos os seres animados e inanimados, todo os astros que se movem no espaço, assim como os fluidos que os enchem.

Mas, como criou Deus o Universo? A resposta a esta pergunta é ainda um mistério, como o é a própria existência do Criador e não será a inteligência humana, no estado em que por enquanto se encontra, que irá penetrar tal mistério.

Temos de conformar-nos, portanto, a esse respeito, com o que disseram a Kardec os Espíritos Superiores, por intermédio de um deles, e se encontra na resposta à pergunta 38 do livro dos Espíritos . (resposta vide folha 4 )

Sabemos, entretanto, também pela revelação dos Espíritos Superiores, que Deus criou fundamentalmente dois princípios diferentes, diametralmente opostos por suas qualidades essenciais, que são os dois elementos gerais do Universo : o elemento material ( bruto) e totalmente inerte, e o elemento espiritual ( Inteligente), suscetível de elaboração e desenvolvimento evolutivo, objetivando à realização de individualidades conscientes, dotadas de razão e de vontade.

Com este segundo elemento, criou Deus os Espíritos, que são os seres inteligentes, conscientes e livres, por isso mesmo responsáveis, do Universos, sujeito a leis morais.

Como o primeiro, o elemento material e bruto, formou Deus os mundos que rolam no espaço, sujeitos apenas às leis da Mecânica Celeste, bem como todos os seres que formam a Natureza desses mundos. É deste elemento material que vamos especialmente tratar nesta síntese, ao mesmo tempo que, à luz da Doutrina Espírita, procurar penetrar, por pouco que seja, na origem e formação dos mundos. Chamemo-lo simplesmente de matéria e tentemos defini-la

Em um simples esboço de definição, podemos dizer que matéria é tudo o que existe constituindo o Universo físico, isto é, onde ocorrem os fenômenos que afetam os nossos sentidos, estejam eles desarmados ou armados com potentíssimos instrumentos ópticos – os telescópios, espectroscópios, microscópio, os quais nos possibilitam observações muito além do alcance natural de nossos órgãos sensórios, levando-nos tanto aos gigantescos mundos, estrelas e galáxias que enchem o espaço, como às mais íntimas estruturas dos seres e das coisas no nosso mundo e de outros, relativamente próximos da terra.

Mas é infinita a extensão do Universo Material e, para estudar a matéria, a fim de bem compreendê-la e defini-la, tem necessariamente o homem que reduzir suas observações a porções limitadas da matéria que se encontre a seu alcance, verificando a possibilidade de generalizar os resultados das observações assim feitas a toda matéria do Universo.

Ora, os corpos embora tenham todos propriedades gerais que os identifiquem como materiais, à mais simples e superficial observação, vê-se que diferem, extraordinariamente uns dos outros, podendo apresentar variedades de aspecto quase infinitas.

Diferem em primeiro lugar pelo estado físico, podendo apresentar-se no estado sólido líquido ou gasoso, ou ainda em estados intermediários, como o pastoso ou o de vapor.

Se nos ativermos agora somente aos corpos sólidos, veremos que eles diferem pela forma exterior, e é atendendo a essas diferentes formas com que os designaremos: um cilindro, uma esfera, um cubo ou uma pirâmide; uma lâmina, uma chapa, um fio ou um anel; uma grade, uma mesa, uma cadeira, uma estante; árvore, erva, musgo, cogumelo, cão, gato, boi ou homem.

Mas além da forma, também podem distinguir-se pelas dimensões, e ninguém confundirá uma mesa de determinada forma e avantajado tamanho com uma mesinha exatamente da mesma forma, mas com as dimensões de um brinquedo de criança.

Há, porém, uma terceira coisa que permite distinguir mais profundamente os corpos uns dos outros. Vejamos:

Consideremos cinco esferas ( portanto da mesma forma) e exatamente das mesmas dimensões. Distinguí-las-emos perfeitamente pela constatação de que uma, por exemplo, é de vidro, outra de madeira, mais outra de ferro, ainda outra de cobre e a última de marfim.

Esta coisa que permite distinguir dois ou mais corpos, ainda que tenham a mesma forma e as mesmas dimensões chama-se a substância do corpo. Dir-se-ia, assim, que cada corpo tem a sua substância individual e unívoca, isto é, constituída de partes absolutamente iguais umas às outras, formando o que se poderia chamar de corpo puro.

Em realidade, entretanto, as coisas não são bem assim. O estudo de diversas amostras de matéria provindas quer da Natureza, quer da Indústria humana, mostrou que somente algumas podem efetivamente considerar-se substâncias puras, isto é, espécies individuais de matéria, caracterizadas por propriedades específicas e invariáveis; enquanto que inúmeras outras, em imensa maioria da Natureza, são constituídas de porções diferentes, separáveis por processos apropriados, ditos de análise imediata, mostrando que são, em verdade, misturas de duas ou mais substâncias, misturas que podem ser mais ou menos heterogêneas ou aparentemente homogêneas, conforme as dimensões das partículas em que se encontram divididas as substâncias misturadas.

Corpos puros, isto é, formados de uma só substância individual, isolada de qualquer outra, são raríssimos na Natureza, podendo citar-se, como um dos pouquíssimos exemplos, as amostras de quartzo hialino ou cristal de rocha, constituídas de óxido de silício ou sílica, substâncias que nessas amostras se encontram em estado puro.

A obtenção de corpos puros é obra da indústria química, em quantidades consideráveis.

Obtidos os corpos puros, verificou a análise química, entretanto, que nem todos são constituídos de princípios materiais indecomponíveis e unívocos, revelando-se, ao contrário, a grande maioria, decomponíveis em outras substâncias, as quais, por sua vez, podem ainda decompor-se; ou não mais.

Foram essas substâncias, assim decomponíveis em duas ou mais outras, chamadas substâncias compostas. Há, todavia, um pequeno número de substâncias simples, isto é, indecomponíveis, delas não se podendo extrair outras substâncias, senão elas próprias, mostrando que constituem princípios elementares e unos, pelo que foram também chamadas elementos químicos.

Cabe aqui, agora, uma observação elucidativa. Os químicos antigos diziam corpos simples, em vez de substâncias simples, estendendo as propriedades das substâncias aos corpos que elas formam. Abrangiam, assim, na mesma designação, corpo e substância, e que não apresentava maior inconveniente, pois no corpo, quaisquer que sejam sua forma e dimensões, se refletem evidentemente as propriedades inerentes à substância que o forma.

É por isso que nos livros escritos por Allan Kardec aparece freqüentemente a expressão corpos simples e que em A Gênese, livro que ele publicou em 1868, pode ler-se, em comunicação oriunda do Espírito de Galileu “A Química, cujos progressos foram tão rápidos depois da minha época, fez tábua rasa dos quatro elementos primitivos que os antigos concordaram em reconhecer na Natureza.

Em compensação, fez surgir considerável número de princípios, até então desconhecidos, que lhe pareceram formar, por determinadas combinações, as diversas substâncias que ela estudou. Deu a esses princípios o nome de corpos simples, indicando de tal modo que os considera primitivos e indecomponíveis e que nenhuma operação, até hoje, pode reduzi-los a frações relativamente mais simples do que eles próprios.

Resumindo e atualizando, pode dizer-se : A Química, até o momento, pôde estabelecer a existência de um certo número de princípios materiais primitivos e indecomponíveis, os elementos químicos, os quais formam por si mesmos e isoladamente, ou combinados entre si, todas as substâncias dos corpos. Em número de 92 (os elementos químicos naturais), escalonados desde o Hidrogênio, que é o primeiro da escala, até o Urânio, que é o último, existem no estado atômico, ou seja: de corpúsculos chamados átomos, tendo massa e volume ínfimos, variáveis conforme os elementos, mas fixos e característicos para cada elemento.

É pela agregação desses átomos que se formam todas as substâncias naturais ou industriais. Quando se agregam átomos de um só elemento, forma-se substâncias simples; quando se combina átomos de dois ou mais elementos, formam-se substâncias compostas.

Eis o que em brevíssimo resumo, os químicos puderam estabelecer. Mas onde os homens não podem ir com seus mais poderosos instrumentos de análises, penetram os Espíritos Superiores e nos vêm revelar que, além do estado denso, que conhecemos no nosso mundo, a matéria reveste estados mais sutis, puramente fluídicos.

Esses fluidos enchem todo o espaço, originários por sua vez, de uma substância elementar primitiva e única, fluido universal ou matéria cósmica, que em realidade, é a fonte de que, por modificações variadíssimas, provém tudo no Universo, mesmo a matéria mais densa.

Vejamos o que diz nas obras de Kardec :

LIVRO DOS ESPÍRITOS - CAPÍTULO III - DA CRIAÇÃO - Formação dos mundos

37. O Universo foi criado, ou existe de toda a eternidade, como Deus?

“É fora de dúvida que ele não pode ter-se feito a si mesmo. Se existisse, como Deus, de toda a eternidade, não seria obra de Deus.”

Diz-nos a razão não ser possível que o Universo se tenha feito a si mesmo e que, não podendo também ser obra do acaso, há de ser obra de Deus.

38. Como criou Deus o Universo?

“Para me servir de uma expressão corrente, direi: pela sua Vontade. Nada caracteriza melhor essa vontade onipotente do que estas belas palavras da Gênese - “Deus disse: Faça-se a luz e a luz foi feita.”

39. Poderemos conhecer o modo de formação dos mundos?

“Tudo o que a esse respeito se pode dizer e podeis compreender é que os mundos se formam pela condensação da matéria disseminada no Espaço.”

40. Serão os cometas, como agora se pensa, um começo de condensação da matéria, mundos em via de formação?

“Isso está certo; absurdo, porém, é acreditar-se na influência deles. Refiro-me à influência que vulgarmente lhes atribuem, porquanto todos os corpos celestes influem de algum modo em certos fenômenos físicos.”

41. Pode um mundo completamente formado desaparecer e disseminar-se de novo no Espaço a matéria que o compõe?

“Sim, Deus renova os mundos, como renova os seres vivos.”

42. Poder-se-á conhecer o tempo que dura a formação dos mundos: da Terra, por exemplo?

“Nada te posso dizer a respeito, porque só o Criador o sabe e bem louco será quem pretenda sabê-lo, ou conhecer que número de séculos dura essa formação.”


Formação dos seres vivos

43. Quando começou a Terra a ser povoada?

“No começo tudo era caos; os elementos estavam em confusão. Pouco a pouco cada coisa tomou o seu lugar. Apareceram então os seres vivos apropriados ao estado do globo.”

44. Donde vieram para a Terra os seres vivos?

“A Terra lhes continha os germens, que aguardavam momento favorável para se desenvolverem. Os princípios orgânicos se congregaram, desde que cessou a atuação da força que os mantinha afastados, e formaram os germens de todos os seres vivos. Estes germens permaneceram em estado latente de inércia, como a crisálida e as sementes das plantas, até o momento propício ao surto de cada espécie. Os seres de cada uma destas se reuniram, então, e se multiplicaram.”

45. Onde estavam os elementos orgânicos, antes da formação da Terra?

“Achavam-se, por assim dizer, em estado de fluido no Espaço, no meio dos Espíritos, ou em outros planetas, à espera da criação da Terra para começarem existência nova em novo globo.”
A Química nos mostra as moléculas dos corpos inorgânicos unindo-se para formarem cristais de uma regularidade constante, conforme cada espécie, desde que se encontrem nas condições precisas. A menor perturbação nestas condições basta para impedir a reunião dos elementos, ou, pelo menos, para obstar à disposição regular que constitui o cristal. Por que não se daria o mesmo com os elementos orgânicos?

Durante anos se conservam germens de plantas e de animais, que não se desenvolvem senão a uma certa temperatura e em meio apropriado. Têm-se visto grãos de trigo germinarem depois de séculos. Há, pois, nesses germens um princípio latente de vitalidade, que apenas espera uma circunstância favorável para se desenvolver. O que diariamente ocorre debaixo das nossas vistas, por que não pode ter ocorrido desde a origem do globo terráqueo?

A formação dos seres vivos, saindo eles do caos pela força mesma da Natureza, diminui de alguma coisa a grandeza de Deus?

Longe disso: corresponde melhor à idéia que fazemos do Seu poder a se exercer sobre a infinidade dos mundos por meio de leis eternas. Esta teoria não resolve, é verdade, a questão da origem dos elementos vitais; mas, Deus tem Seus mistérios e pôs limites às nossas investigações.

46. Ainda há seres que nasçam espontaneamente?

“Sim, mas o gérmen primitivo já existia em estado latente. Sois todos os dias testemunhas desse fenômeno.

Os tecidos do corpo humano e do dos animais não encerram os germens de uma multidão de vermes que só esperam, para desabrochar, a fermentação pútrida que lhes é necessária à existência? É um mundo minúsculo que dormita e se cria.”

47. A espécie humana se encontrava entre os elementos orgânicos contidos no globo terrestre?

“Sim, e veio a seu tempo. Foi o que deu lugar a que se dissesse que o homem se formou do limo da terra.”

48. Poderemos conhecer a época do aparecimento do homem e dos outros seres vivos na Terra?

“Não; todos os vossos cálculos são quiméricos.”

49. Se o gérmen da espécie humana se encontrava entre os elementos orgânicos do globo, por que não se formam espontaneamente homens, como na origem dos tempos?

“O princípio das coisas está nos segredos de Deus. Entretanto, pode dizer-se que os homens, uma vez espalhados pela Terra, absorvem em si mesmos os elementos necessários à sua própria formação, para os transmitir segundo as leis da reprodução.

O mesmo se deu com as diferentes espécies de seres vivos.”


Do Livro - A GÊNESE - A matéria


3. - À primeira vista, não há o que pareça tão profundamente variado, nem tão essencialmente distinto, como as diversas substâncias que compõem o mundo. Entre os objetos que a Arte ou a Natureza nos fazem passar diariamente ante o olhar, haverá duas que revelem perfeita identidade, ou, sequer, paridade de composição?

Quanta dessemelhança, sob os aspectos da solidez, da compressibilidade, do peso e das múltiplas propriedades dos corpos, entre os gases atmosféricos e um filete de ouro, entre a molécula aquosa da nuvem e a do mineral que forma a carcaça óssea do globo! que diversidade entre o tecido químico das variadas plantas que adornam o reino vegetal e o dos representantes não menos numerosos da animalidade na Terra!

Entretanto, podemos estabelecer como princípio absoluto que todas as substâncias, conhecidas e desconhecidas, por mais dessemelhantes que pareçam, quer do ponto de vista da constituição íntima, quer pelo prisma de suas ações recíprocas, são, de fato, apenas modos diversos sob que a matéria se apresenta; variedades em que ela se transforma sob a direção das forças inumeráveis que a governam.

4. - A Química, cujos progressos foram tão rápidos depois da minha época, em a qual seus próprios adeptos ainda a relegavam para o domínio secreto da magia; ciência que se pode considerar, com justiça, filha do século da observação e baseada unicamente, e maneira bem mais sólida do que suas irmãs mais velhas, no método experimental; a Química, digo, fez tábua rasa dos quatro elementos primitivos que os antigos concordaram em reconhecer na Natureza; mostrou que o elemento terrestre mais não é do que a combinação de diversas substâncias variadas ao infinito; que o ar e a água são igualmente decomponíveis e produtos de certo número de equivalentes de gás; que o fogo, longe de ser também um elemento principal, é apenas um estado da matéria, resultante do movimento universal a que esta se acha submetida e de uma combustão sensível ou latente.

Em compensação, fez surgir considerável número de princípios, até então desconhecidos, que lhe pareceram formar, por determinadas combinações, as diversas substâncias, os diversos corpos que ela estudou e que atuam simultaneamente, segundo certas leis e em certas proporções, nos trabalhos que se realizam dentro do grande laboratório da Natureza. Deu a esses princípios o nome de corpos simples, indicando de tal modo que os considera primitivos e indecomponíveis e que nenhuma operação, até hoje, pode reduzi-los a frações relativamente mais simples do que eles próprios. (1)

(1) Os principais corpos simples são: entre os não metálicos, o oxigênio, o hidrogênio, o azoto, o cloro, o carbono, o fósforo, o enxofre, o iodo; entre os metálicos, o ouro, a prata, a platina, o mercúrio, o chumbo, o estanho, o zinco, o ferro, o cobre, o arsênico, o sódio, o potássio, o cálcio, o alumínio, etc. (Vide nota especial à pág. 138.)

Notas especiais da Editora, à 16ª edição, de 1973:
I - Corpos simples
A respeito dos corpos simples, a que se referiu o Codificador à pág. 108, é conveniente, para maiores detalhes, o exame da "classificação periódica natural dos elementos", de Mendeleiev (Grande Enciclopédia Delta Larousse, pág. 2.361, Rio, 1971). E, para interessantes conclusões adicionais, será valiosa a leitura dos caps. XV (A evolução da matéria por individualidades químicas - O hidrogênio e as nebulosas), XVI (A série das individuações químicas, de H a U, por peso atômico e isovalências periódicas) e XVII (A estequiogênese e as espécies químicas desconhecidas) de "A Grande Síntese", obra mediúnica de Pietro Ubaldi, traduzida por Guillon Ribeiro, edição de 1939, da FEB.

5. - Mas, onde param as apreciações do homem, mesmo ajudadas pelos mais impressionantes sentidos artificiais, prossegue a obra da Natureza; onde o vulgo toma a aparência como realidade, onde o prático levanta o véu e percebe o começo das coisas, o olhar daquele que pode apreender o modo de agir da Natureza apenas vê, nos materiais constitutivos do mundo, a matéria cósmica primitiva, simples e una, diversificada em certas regiões na época do aparecimento destas, repartida em corpos solidários entre si, enquanto têm vida, e que um dia se desmembram, por efeitos da decomposição no receptáculo da extensão.

6. - Há questões que nós mesmos, Espíritos amantes da Ciência, não podemos aprofundar e sobre as quais não poderemos emitir senão opiniões pessoais, mais ou menos hipotéticas. Sobre essas questões, calar-me-ei, ou justificarei a minha maneira de ver. A com que nos ocupamos, porém, não pertence a esse numero.

Àqueles, portanto, que fossem tentados a enxergar nas minhas palavras unicamente uma teoria ousada, direi: abarcai, se for possível, com olhar investigador, a multiplicidade das operações da Natureza e reconhecereis que, se se não admitir a unidade da matéria, impossível será explicar, já não direi somente os sóis e as esferas, mas, sem ir tão longe, a germinação de uma semente na terra, ou a produção dum inseto.

7. - Se se observa tão grande diversidade na matéria, é porque, sendo em número ilimitado as forças que hão presidido às suas transformações e as condições em que estas se produziram, também as várias combinações da matéria não podiam deixar de ser ilimitadas.
Logo, quer a substância que se considere pertença aos fluidos propriamente ditos, isto é, aos corpos imponderáveis, quer revista os caracteres e as propriedades ordinárias da matéria, não há, em todo o Universo, senão uma única substância primitiva; o cosmo, ou matéria cósmica dos uranógrafos.

As leis e as forças

8. - Se um desses seres desconhecidos que consomem a sua efêmera existência no fundo das tenebrosas regiões do oceano; se um desses poligástricos, uma dessas nereidas - miseráveis animálculos que da Natureza mais não conhecem do que os peixes ictiófagos e as florestas submarinas recebesse de repente o dom da inteligência, a faculdade de estudar o seu mundo e de basear suas apreciações num raciocínio conjetural extensivo à universalidade das coisas, que idéia faria da natureza viva que se desenvolve no meio por ele habitado e do mundo terrestre que escapa ao campo de suas observações?

Se, agora, por maravilhoso efeito do poder da sua nova faculdade, esse mesmo ser chegasse a elevar-se, acima das suas trevas eternas, a galgar a superfície do mar, não distante das margens opulentas de uma ilha de esplêndida vegetação, banhada pelo Sol fecundante, dispensador de calor benéfico, que juízo faria ele das suas antecipadas teorias sobre a criação universal?

Não as baniria, de pronto, substituindo-as por uma apreciação mais ampla, relativamente tão incompleta quanto a primeira? Tal, ó homens, a imagem da vossa ciência toda especulativa. (1)

(1) Tal também a situação dos negadores do mundo dos Espíritos, quando, após se haverem despojado do envoltório carnal, contemplam, desdobrados às suas vistas, os horizontes desse mundo. Compreendem, então, quão ocas eram as teorias com que pretendiam tudo explicar por meio exclusivamente da matéria. Contudo, esses horizontes ainda lhes ocultam mistérios que só posteriormente se lhes desvendam, à medida que, depurando-se, eles se elevam. Desde, porém, os seus primeiros momentos no outro mundo, vêem-se forçados a reconhecer a própria cegueira e quão longe estavam da verdade.

9. - Vindo, pois, tratar aqui da questão das leis e das forças que regem o Universo, eu, que apenas sou, como vós, um ser relativamente ignorante, em face da ciência real, mau grado a aparente superioridade que, com relação aos meus irmãos da Terra, me advém da possibilidade de estudar problemas naturais que lhes são interditos na posição em que eles se encontram como terrícolas, trago por único objetivo dar-vos uma noção geral das leis universais, sem explicar pormenorizadamente o modo de ação e a natureza das forças especiais que lhes são dependentes.

10. - Há um fluido etéreo que enche o espaço e penetra os corpos. Esse fluido é o éter ou matéria cósmica primitiva, geradora do mundo e dos seres.

São-lhe inerentes as forças que presidiram às metamorfoses da matéria, as leis imutáveis e necessárias que regem o mundo. Essas múltiplas forças, indefinidamente variadas segundo as combinações da matéria, localizadas segundo as massas, diversificadas em seus modos de ação, segundo as circunstâncias e os meios, são conhecidas na Terra sob os nomes de gravidade, coesão, afinidade, atração, magnetismo, eletricidade ativa.

Os movimentos vibratórios do agente são conhecidos sob os nomes de som, calor, luz, etc. Em outros mundos, elas se apresentam sob outros aspectos, revelam outros caracteres desconhecidos na Terra e, na imensa amplidão dos céus, forças em número indefinito se têm desenvolvido numa escala inimaginável, cuja grandeza tão incapazes somos de avaliar, como o é o crustáceo, no fundo do oceano, para apreender a universalidade dos fenômenos terrestres. (1)

Ora, assim como só há uma substância simples, primitiva, geradora de todos os corpos, mas diversificada em suas combinações, também todas essas forças dependem de uma lei universal diversificada em seus efeitos
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(1) Tudo reportamos ao que conhecemos e do que escapa à percepção dos nossos sentidos não compreendemos mais do que compreende o cego de nascença acerca dos efeitos da luz e da utilidade dos olhos.
Possível é, pois, que noutros meios, o fluido cósmico possua propriedades, seja suscetível de combinações de que não fazemos nenhuma idéia, produza efeitos apropriados a necessidades que desconhecemos, dando lugar a percepções novas ou a outros modos de percepção.

Não compreendemos, por exemplo, que se possa ver sem os olhos do corpo e sem a luz. Quem nos diz, porém, que não existam outros agentes, abra a luz, aos quais são adequados organismos especiais?

A vista sonambúlica, que nem a distância, nem os obstáculos materiais, nem a obscuridade detém, nos oferece um exemplo disso.

Suponhamos que, num mundo qualquer, os seres sejam normalmente o que só excepcionalmente o são os nossos sonâmbulos; eles, sem precisarem da nossa luz, nem dos nossos olhos, verão o que não podemos ver.

O mesmo se dá com todas as outras sensações. As condições de vitalidade e de perceptibilidade, as sensações e as necessidades variam de conformidade com os meios. e que, pelos desígnios eternos, foi soberanamente imposta à criação, para lhe imprimir harmonia e estabilidade.

11. - A Natureza jamais se encontra em oposição a si mesma: Uma só é a divisa do brasão do Universo: unidade-variedade. Remontando à escala dos mundos, encontra-se a unidade de harmonia e de criação, ao mesmo tempo que uma variedade infinita no imenso jardim de estrelas.

Percorrendo os degraus da vida, desde o último dos seres até Deus, patenteia-se a grande lei de continuidade. Considerando as forças em si mesmas, pode-se formar com elas uma série, cuja resultante, confundindo-se com a geratriz, é a lei universal.

Não podeis apreciar esta lei em toda a sua extensa o, por serem restritas e limitadas as forças que a representam no campo das vossas observações.

Entretanto, a gravitação e a eletricidade podem ser consideradas como uma larga aplicação da lei primordial, que impera para lá dos céus.

Todas essas forças são eternas - explicaremos este termo - e universais, como a criação. Sendo inerentes ao fluído cósmico, elas atuam necessariamente em tudo e em toda parte, modificando suas ações pela simultaneidade ou pela sucessividade, predominando aqui, apagando-se ali, pujantes e ativas em certos pontos, latentes ou ocultas noutros, mas, afinal, preparando, dirigindo, conservando e destruindo os mundos em seus diversos períodos de vida, governando os maravilhosos trabalhos da Natureza, onde quer que eles se executem, assegurando para sempre o eterno esplendor da criação.

A criação primária

12. - Depois de termos considerado o Universo sob os pontos de vista gerais da sua composição, das suas leis e das suas propriedades, podemos estender os nossos estudos ao modo de formação que deu origem aos mundos e aos seres.

Desceremos, em seguida, à criação da Terra, em particular, e ao seu estado atual na universalidade das coisas e daí, tomando esse globo por ponto de partida e por unidade relativa, procederemos aos nossos estudos planetários e siderais.

13. - Se bem compreendemos a relação, ou, antes, a oposição entre a eternidade e o tempo, se nos familiarizamos com a idéia de que o tempo não é mais do que uma medida relativa da sucessão das coisas transitórias, ao passo que a eternidade é essencialmente una, imóvel e permanente, insuscetível de qualquer medida, do ponto de vista da duração, compreenderemos que para ela não há começo, nem fim.

Doutro lado, se fazemos idéia exata - embora, necessariamente, muito fraca - da infinidade do poder divino, compreenderemos como é possível que o Universo haja existido sempre e sempre exista. Desde que Deus existiu, suas perfeições eternas falaram. Antes que houvessem nascido os tempos, a eternidade incomensurável recebeu a palavra divina e fecundou o espaço, eterno quanto ela.

14. - Existindo, por sua natureza, desde toda a eternidade, Deus criou desde toda eternidade e não poderia ser de outro modo, visto que, por mais longínqua que seja a época a que recuemos, pela imaginação, os supostos limites da criação, haverá sempre, além desse limite, uma eternidade – ponderai bem esta idéia -, uma eternidade durante a qual as divinas hipóteses, as volições infinitas teriam permanecido sepultadas em muda letargia inativa e infecunda, uma eternidade de morte aparente para o Pai eterno que dá vida aos seres; de mutismo indiferente para o Verbo que os governa; de esterilidade fria e egoísta para o Espírito de amor e vivificação.

Compreendamos melhor a grandeza da ação divina e a sua perpetuidade sob a mão do Ser absoluto! Deus é o Sol dos seres, é a Luz do mundo. Ora, a aparição do Sol dá nascimento instantâneo a ondas de luz que se vão espalhando por todos os lados, na extensão.

Do mesmo modo, o Universo, nascido do Eterno, remonta aos períodos inimagináveis do infinito de duração, ao Fiat lux! do início.

15. - O começo absoluto das coisas remonta, pois, a Deus. As sucessivas aparições delas no domínio da existência constituem a ordem da criação perpétua.

Que mortal poderia dizer das magnificências desconhecidas e soberbamente veladas sob a noite das idades que se desdobraram nesses tempos antigos, em que nenhuma das maravilhas do Universo atual existia; nessa época primitiva em que, tendo-se feito ouvir a voz do Senhor, os materiais que no futuro haviam de agregar-se por si mesmos e simetricamente, para formar o templo da Natureza, se encontraram de súbito no seio dos vácuos infinitos; quando aquela voz misteriosa, que toda criatura venera e estima como a de uma mãe, produziu notas harmoniosamente variadas, para irem vibrar juntas e modular o concerto dos céus imensos!

O mundo, no nascedouro, não se apresentou assente na sua virilidade e na plenitude da sua vida, não. O poder criador nunca se contradiz e, como todas as coisas, o Universo nasceu criança.

Revestido das leis mencionadas acima e da impulsão inicial inerente à sua formação mesma, a matéria Cósmica primitiva fez que sucessivamente nascessem turbilhões, aglomerações desse fluido difuso, amontoados de matéria nebulosa que se cindiram por si próprios e se modificaram ao infinito para gerar, nas regiões incomensuráveis da amplidão, diversos centros de criações simultâneas ou sucessivas.

Em virtude das forças que predominaram sobre um ou sobre outro deles e das circunstâncias ulteriores que presidiram aos seus desenvolvimentos, esses centros primitivos se tornaram focos de uma vida especial: uns, menos disseminados no espaço e mais ricos em princípios e em forças atuantes, começaram desde logo a sua particular vida astral; os outros, ocupando ilimitada extensão, cresceram com lentidão extrema, ou de novo se dividiram em outros centros secundários.

16. - Transportando-nos a alguns milhões de séculos somente, acima da época atual, verificamos que a nossa Terra ainda não existe, que mesmo o nosso sistema solar ainda não começou as evoluções da vida planetária; mas, que, entretanto, já esplêndidos sóis iluminam o éter; já planetas habitados dão vida e existência a uma multidão de seres, nossos predecessores na carreira humana, que as produções opulentas de uma natureza desconhecida e os maravilhosos fenômenos do céu desdobram, sob outros olhares, os quadros da imensa criação.

Que digo! já deixaram de existir esplendores que muito antes fizeram palpitar o coração de outros mortais, sob o pensamento da potência infinita! E nós, pobres seres pequeninos, que viemos após uma eternidade de vida, nós nos cremos contemporâneos da criação!

Ainda uma vez; compreendamos melhor a Natureza. Saibamos que atrás de nós, como à nossa frente, está a eternidade, que o espaço é teatro de inimaginável sucessão e simultaneidade de criações. Tais nebulosas, que mal percebemos nos mais longínquos pontos do céu, são aglomerados de sóis em vias de formação; tais outras são vias-lácteas de mundos habitados; outras, finalmente, sedes de catástrofes e de deperecimento.

Saibamos que, assim como estamos colocados no meio de uma infinidade de mundos, também estamos no meio de uma dupla infinidade de durações, anteriores e ulteriores; que a criação universal não se acha restrita a nós, que não nos é lícito aplicar essa expressão à formação isolada do nosso pequenino globo.


A criação universal

17. - Após haver remontado, tanto quanto o permitia a nossa fraqueza, em direção à fonte oculta donde dimanam os mundos, como de um rio as gotas d’água, consideremos a marcha das criações sucessivas e dos seus desenvolvimentos seriais.

A matéria cósmica primitiva continha os elementos materiais, fluídicos e vitais de todos os universos que estadeiam suas magnificências diante da eternidade.

Ela é a mãe fecunda de todas as coisas, a primeira avó e, sobretudo, a eterna geratriz.

Absolutamente não desapareceu essa substância donde provêm as esferas siderais; não morreu essa potência, pois que ainda, incessantemente, dá à luz novas criações e incessantemente recebe, reconstituídos, os princípios dos mundos que se apagam do livro eterno.

A substância etérea, mais ou menos rarefeita, que se difunde pelos espaços interplanetários; esse fluido cósmico que enche o mundo, mais ou menos rarefeito, nas regiões imensas, opulentas de aglomerações de estrelas; mais ou menos condensado onde o céu astral ainda não brilha; mais ou menos modificado por diversas combinações, de acordo com as localidades da extensão, nada mais é do que a substância primitiva onde residem as forças universais, donde a Natureza há tirado todas as coisas. (1)

(1) Se perguntásseis qual o princípio dessas forças e como pode esse princípio estar na substância mesma que o produz, responderíamos que a mecânica numerosos exemplos nos oferece desse fato. A elasticidade, que faz com que uma mola se distenda, não está na própria mola e não depende do modo de agregação das moléculas? O corpo que obedece à força centrífuga recebe a sua impulsão do movimento primitivo que lhe foi impresso.

18. - Esse fluido penetra os corpos, como um oceano imenso. É nele que reside o princípio vital que dá origem à vida dos seres e a perpetua em cada globo, conforme à condição deste, princípio que, em estado latente, se conserva adormecido onde a voz de um ser não o chama. Toda criatura, mineral, vegetal, animal ou qualquer outra porquanto há muitos outros remos naturais, de cuja existência nem sequer suspeitais sabe, em virtude desse princípio vital e universal, apropriar as condições de sua existência e de sua duração.

As moléculas do mineral têm uma certa soma dessa vida, do mesmo modo que a semente do embrião, e se grupam, como no organismo, em figuras simétricas que constituem os indivíduos.

Muito importa nos compenetremos da noção de que a matéria cósmica primitiva se achava revestida, não só das leis que asseguram a estabilidade dos mundos, como também do universal princípio vital que forma gerações espontâneas em cada mundo, à medida que se apresentam as condições da existência sucessiva dos seres e quando soa a hora do aparecimento dos filhos da vida, durante a período criador.

Efetua-se assim a criação universal. É, pois, exato dizer-se que, sendo as operações da Natureza a expressão da vontade divina, Deus há criado sempre, cria incessantemente e nunca deixará de criar.
19. - Até aqui, porém, temos guardado silêncio sobre o mundo espiritual, que também faz parte da criação e cumpre seus destinos conforme as augustas prescrições do Senhor.

Acerca do modo da criação dos Espíritos, entretanto, não posso ministrar mais que um ensino muito restrito, em virtude da minha própria ignorância e também porque tenho ainda de calar-me no que concerne a certas questões, se bem já me haja sido dado aprofundá-las.

Aos que desejem religiosamente conhecer e se mostrem humildes perante Deus, direi, rogando-lhes, todavia, que nenhum sistema prematuro baseiem nas minhas palavras, o seguinte:

O Espírito não chega a receber a iluminação divina, que lhe dá, simultaneamente com o livre-arbítrio e a consciência, a noção de seus altos destinos, sem haver passado pela série divinamente fatal dos seres inferiores, entre os quais se elabora lentamente a obra da sua individualização.

Unicamente a datar do dia em que o Senhor lhe imprime na fronte o seu tipo augusto, o Espírito toma lugar no seio das humanidades.

De novo peço: não construais sobre as minhas palavras os vossos raciocínios, tão tristemente célebres na história da Metafísica. Eu preferiria mil vezes calar-me sobre tão elevadas questões, tão acima das nossas meditações ordinárias, a vos expor a desnaturar o sentido de meu ensino e a vos lançar, por culpa minha, nos inextricáveis dédalos do deísmo ou do fatalismo.


Os sóis e os planetas


20. - Sucedeu que, num ponto do Universo, perdido entre as miríades de mundos, a matéria cósmica se condensou sob a forma de imensa nebulosa, animada esta das leis universais que regem a matéria.

Em virtude dessas leis, notadamente da força molecular de atração, tomou ela a forma de um esferóide, a única que pode assumir uma massa de matéria insulada no espaço.

O movimento circular produzido pela gravitação, rigorosamente igual, de todas as zonas moleculares em direção ao centro, logo modificou a esfera primitiva, a fim de a conduzir, de movimento em movimento, à forma lenticular.

Falamos do conjunto da nebulosa.

21. - Novas forças surgiram em conseqüência desse movimento de rotação: a força centrípeta e a força centrífuga, a primeira tendendo a reunir todas as partes no centro, tendendo a segunda a afastá-las dele.

Ora, acelerando-se o movimento, à medida que a nebulosa se condensa, e aumentando o seu raio, à medida que ela se aproxima da forma lenticular, a força centrífuga, incessantemente desenvolvida por essas duas causas, predominou de pronto sobre a atração central.

Assim como um movimento demasiado rápido da funda lhe quebra a corda, indo o projetil cair longe, também a predominância da força centrífuga destacou o circo equatorial da nebulosa e desse anel uma nova massa se formou, isolada da primeira, mas, todavia, submetida ao seu império.

Aquela massa conservou o seu movimento equatorial que, modificado, se lhe tornou movimento de translação em torno do astro solar. Ao demais, o seu novo estado lhe dá um movimento de rotação em torno do próprio centro.


22. - A nebulosa geratriz, que deu origem a esse novo mundo, condensou-se e retomou a forma esférica; mas, como o primitivo calor, desenvolvido por seus diversos movimentos, só com extrema lentidão se atenuasse, o fenômeno que acabamos de descrever se reproduzirá muitas vezes e durante longo período, enquanto a nebulosa não se haja tornado bastante densa, bastante sólida, para oferecer resistência eficaz às modificações de forma, que o seu movimento de rotação sucessivamente lhe imprime.

Ela, pois, não terá dado nascimento a um só astro, mas a centenas de mundos destacados do foco central, saídos dela pelo modo de formação mencionado acima.

Ora, cada um de seus mundos, revestido, como o mundo primitivo, das forças naturais que presidem à criação dos universos gerará sucessivamente novos globos que desde então lhe gravitarão em torno, como ele, juntamente com seus irmãos, gravita em torno do foco que lhes deu existência e vida.

Cada um desses mundos será um Sol, centro de um turbilhão de planetas sucessivamente destacados do seu equador.

Esses planetas receberão uma vida especial, particular, embora dependente do astro que os gerou.

23. - Os planetas são, assim, formados de massas de matéria condensada, porém, ainda não solidificada, destacadas da massa central pela ação de força centrífuga e que tomam, em virtude das leis do movimento, a forma esferoidal, mais ou menos elíptica, conforme o grau de fluidez que conservaram.

Um desses planetas será a Terra que, antes de se resfriar e revestir de uma crosta sólida, dará nascimento à Lua, pelo mesmo processo de formação astral a que ela própria deveu a sua existência.

A Terra, doravante inscrita no livro da vida, berço de criaturas cuja fraqueza as asas da divina Providência protege, nova corda colocada na harpa infinita e que, no lugar que ocupa, tem de vibrar no concerto universal dos mundos.

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Aula 67 - ELEMENTOS GERAIS DO UNIVERSO

Aula 67 - ELEMENTOS GERAIS DO UNIVERSO

ESPÍRITO E MATÉRIA


Dotado por Deus com o atributo superior da inteligência, tem buscado o homem conhecer o mundo em que vive e o Universo de que é ínfima parte. Limitado, porém, é ainda o alcance de sua inteligência, e o princípio das coisas lhe é vedado.

Em encarnações sucessivas, entretanto, com a própria aplicação na busca incessante de novos conhecimentos, ele a vai desenvolvendo e adquirindo também dignificantes virtudes morais, que lhe granjeiam merecimento a outorgas divinas cada vez mais altas.

Assim progride o Espírito penetrando, pouco a pouco, os segredos do Universo e aproximando-se dos mistérios das origens.

Essa a perspectiva de esperança que nos traz a consoladora Doutrina dos Espíritos:

No Livro Dos Espíritos - CAPÍTULO II -DOS ELEMENTOS GERAIS DO UNIVERSO

Conhecimento do princípio das coisas

17. É dado ao homem conhecer o princípio das coisas?

“Não, Deus não permite que ao homem tudo seja revelado neste mundo.”

18. Penetrará o homem um dia o mistério das coisas que lhe estão ocultas?

“O véu se levanta a seus olhos, à medida que ele se depura; mas, para compreender certas coisas, são-lhe precisas faculdades que ainda não possui.”

19. Não pode o homem, pelas investigações científicas, penetrar alguns dos segredos da Natureza?

“A Ciência lhe foi dada para seu adiantamento em todas as coisas; ele, porém, não pode ultrapassar os limites que Deus estabeleceu.”

Quanto mais consegue o homem penetrar nesses mistérios, tanto maior admiração lhe devem causar o poder e a sabedoria do Criador. Entretanto, seja por orgulho, seja por fraqueza, sua própria inteligência o faz joguete da ilusão. Ele amontoa sistemas sobre sistemas e cada dia que passa lhe mostra quantos errou tomou por verdades e quantas verdades rejeitou como erros. São outras tantas decepções para o seu orgulho.

20. Dado é ao homem receber, sem ser por meio das investigações da Ciência, comunicações de ordem mais elevada acerca do que lhe escapa ao testemunho dos sentidos?

“Sim, se o julgar conveniente, Deus pode revelar o que à ciência não é dado apreender.”

Por essas comunicações é que o homem adquire, dentro de certos limites, o conhecimento do seu passado e do seu futuro.

Espírito e matéria


21. A matéria existe desde toda a eternidade, como Deus, ou foi criada por Ele em dado momento?

“Só Deus o sabe. Há uma coisa, todavia, que a razão vos deve indicar: é que Deus, modelo de amor e caridade nunca esteve inativo. Por mais distante que logreis figurar o início de Sua ação, podereis concebê-Lo ocioso, um momento que seja?”

22. Define-se geralmente a matéria como sendo - o que tem extensão, o que é capaz de nos impressionar os sentidos, o que é impenetrável. São exatas estas definições?

“Do vosso ponto de vista, elas o são, porque não falais senão do que conheceis. Mas a matéria existe em estados que ignorais. Pode ser, por exemplo, tão etérea e sutil que nenhuma impressão vos cause aos sentidos. Contudo, é sempre matéria. Para vós, porém, não o seria.”

a) - Que definição podeis dar da matéria?

“A matéria é o laço que prende o Espírito; é o instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação.”

Deste ponto de vista, pode dizer-se que a matéria é o agente, o intermediário com o auxílio do qual e sobre o qual atua o Espírito.

23. Que é o Espírito?

“O princípio inteligente do Universo.”

a) - Qual a natureza íntima do Espírito?

“Não é fácil analisar o Espírito com a vossa linguagem. Para vós, ele nada é, por não ser palpável. Para nós, entretanto, é alguma coisa. Ficai sabendo: coisa nenhuma é o nada e o nada não existe.”

24. Espírito é sinônimo de inteligência?

“A inteligência é um atributo essencial do Espírito. Uma e outro, porém, se confundem num princípio comum, de sorte que, para vós, são a mesma coisa.”

25. O Espírito independe da matéria, ou é apenas uma propriedade desta, como as cores o são da luz e o som o é do ar?

“São distintos uma do outro; mas, a união do Espírito e da matéria é necessária para intelectualizar a matéria.”



a) - Essa união é igualmente necessária para a manifestação do Espírito?

(Entendemos aqui por espírito o princípio da inteligência, abstração feita das individualidades que por esse nome se designam.)

“É necessária a vós outros, porque não tendes organização apta a perceber o Espírito sem a matéria. A isto não são apropriados os vossos sentidos.”

26. Poder-se-á conceber o Espírito sem a matéria e a matéria sem o Espírito?

“Pode-se, é fora de dúvida, pelo pensamento.”

27. Há então dois elementos gerais do Universo: a matéria e o Espírito?

“Sim e acima de tudo Deus, o criador, o pai de todas as coisas. Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade universal. Mas ao elemento material se tem que juntar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o Espírito possa exercer ação sobre ela.

Embora, de certo ponto de vista, seja lícito classificá-lo com o elemento material, ele se distingue deste por propriedades especiais. Se o fluido universal fosse positivamente matéria, razão não haveria para que também o Espírito não o fosse. Está colocado entre o Espírito e a matéria; é fluido, como a matéria, e suscetível, pelas suas inumeráveis combinações com esta e sob a ação do Espírito, de produzir a infinita variedade das coisas de que apenas conheceis uma parte mínima. Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o Espírito se utiliza, é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá.”

a) - Esse fluido será o que designamos pelo nome de eletricidade?

“Dissemos que ele é suscetível de inúmeras combinações. O que chamais fluido elétrico, fluido magnético, são modificações do fluido universal, que não é, propriamente falando, senão matéria mais perfeita, mais sutil e que se pode considerar independente.”

28. Pois que o Espírito é, em si, alguma coisa, não seria mais exato e menos sujeito a confusão dar aos dois elementos gerais as designações de - matéria inerte e matéria inteligente?

“As palavras pouco nos importam. Compete-vos a vós formular a vossa linguagem de maneira a vos entenderdes.

As vossas controvérsias provêm, quase sempre, de não vos entenderdes acerca dos termos que empregais, por ser incompleta a vossa linguagem para exprimir o que não vos fere os sentidos.”

Um fato patente domina todas as hipóteses: vemos matéria destituída de inteligência e vemos um princípio inteligente que independe da matéria.

A origem e a conexão destas duas coisas nos são desconhecidas. Se promanam ou não de uma só fonte; se há pontos de contato entre ambas; se a inteligência tem existência própria, ou se é uma propriedade, um efeito; se é mesmo, conforme à opinião de alguns, uma emanação da Divindade, ignoramos.

Elas se nos mostram como sendo distintas; daí o considerarmo-las formando os dois princípios constitutivos do Universo.

Vemos acima de tudo isso uma inteligência que domina todas as outras, que as governa, que se distingue delas por atributos essenciais. A essa inteligência suprema é que chamamos Deus.

Propriedades da matéria

29. A ponderabilidade é um atributo essencial da matéria?

“Da matéria como a entendeis, sim; não, porém, da matéria considerada como fluido universal. A matéria etérea e sutil que constitui esse fluido vos é imponderável. Nem por isso, entretanto, deixa de ser o princípio da vossa matéria pesada.”

A gravidade é uma propriedade relativa. Fora das esferas de atração dos mundos, não há peso, do mesmo modo que não há alto nem baixo.

30. A matéria é formada de um só ou de muitos elementos?

“De um só elemento primitivo. Os corpos que considerais simples não são verdadeiros elementos, são transformações da matéria primitiva.”

31. Donde se originam as diversas propriedades da matéria?

“São modificações que as moléculas elementares sofrem, por efeito da sua união, em certas circunstâncias.”

32. De acordo com o que vindes de dizer, os sabores, os odores, as cores, o som, as qualidades venenosas ou salutares dos corpos não passam de modificações de uma única substância primitiva?

“Sem dúvida e que só existem devido à disposição dos órgãos destinados a percebê-las.”

A demonstração deste princípio se encontra no fato de que nem todos percebemos as qualidades dos corpos do mesmo modo: enquanto que uma coisa agrada ao gosto de um, para o de outro é detestável; o que uns vêem azul, outros vêem vermelho; o que para uns é veneno, para outros é inofensivo ou salutar.

33. A mesma matéria elementar é suscetível de experimentar todas as modificações e de adquirir todas as propriedades?

“Sim e é isso o que se deve entender, quando dizemos que tudo está em tudo!” (1)
O oxigênio, o hidrogênio, o azoto, o carbono e todos os corpos que consideramos simples são meras modificações de uma substância primitiva.
Na impossibilidade em que ainda nos achamos de remontar, a não ser pelo pensamento, a esta matéria primária, esses corpos são para nós verdadeiros elementos e podemos, sem maiores conseqüências, tê-los como tais, até nova ordem.

a) - Não parece que esta teoria dá razão aos que não admitem na matéria senão duas propriedades essenciais: a força e o movimento, entendendo que todas as demais propriedades não passam de efeitos secundários, que variam conforme à intensidade da força e à direção do movimento?

“É acertada essa opinião. Falta somente acrescentar: e conforme à disposição das moléculas, como o mostra, por exemplo, um corpo opaco, que pode tornar-se transparente e vice-versa.”

_______

(1) Este princípio explica o fenômeno conhecido de todos os magnetizadores e que consiste em dar-se, pela ação da vontade, a uma substância qualquer, à água, por exemplo, propriedades muito diversas: um gosto determinado e até as qualidades ativas de outras substâncias. Desde que não há mais de um elemento primitivo e que as propriedades dos diferentes corpos são apenas modificações desse elemento. o que se segue é que a mais inofensiva substância tem o mesmo princípio que a mais deletéria. Assim, a água, que se compõe de uma parte de oxigênio e de duas de hidrogênio, se torna corrosiva, duplicando-se a proporção do oxigênio. Transformação análoga, se pode produzir por meio de ação magnética dirigida pela vontade.

34. As moléculas têm forma determinada?

“Certamente, as moléculas têm uma forma, porém não sois capazes de apreciá-la.”

a) - Essa forma é constante ou variável?

“Constante a das moléculas elementares primitivas; variável a das moléculas secundárias, que mais não são do que aglomerações das primeiras. porque, o que chamais molécula longe ainda está da molécula elementar.”

Estas passagens de O Livro dos Espíritos, especialmente a última, de no 27, são bastante elucidativas, quando não se tem o espírito escravizado aos preconceitos científicos materialistas. Tudo no Universo procede de Deus, suprema potência criadora.

Deus criou o fluido universal ou matéria cósmica, que enche o espaço infinito e é verdadeiramente, o elemento primitivo, a partir do qual se forma tudo o que no Universo é material: os mundos e todos os seres. Estes são a concretização das idéias divinas, por força da Sua onipotente vontade. Deus criou também o espírito, elemento inteligente, o qual é submetido a longa elaboração através dos diversos reinos da Natureza.

No contato com minerais, vegetais e animais, o princípio inteligente recebe impressões que, pela repetição, vão-se fixando, dando origem a automatismo, reflexos, instintos, hábitos, memória, e acabam por integrar-se em individualidades conscientes, dotadas de razão e vontade, livre-arbítrio e responsabilidade, destinadas a progredir até que adquiram pureza e perfeição que as aproximam da Inteligência Suprema.

Então, Espíritos puros e perfeitos, que adquiriram com a perfeição um profundo conhecimento das leis universais, possuindo também os mais elevados sentimentos e excelsas virtudes, detentoras de sentidos e poderes espirituais superiores, as idéias divinas tornam-se-lhes perceptíveis, são-lhes transmitidas e, executores que podem ser da Suprema Vontade, concretizam-nas em formas materiais, elaborando mundos e presidindo neles ao desabrochar da vida. Tornam-se assim, colaboradores de Deus na obra da Criação.

Portanto, a idéia criadora procede de Deus e pode surgir no Espírito. Só o Espírito pode conceber idéias. A idéia toma forma pela ação da vontade divina ou do Espírito sobre o fluido universal que, pela sua natureza intermediária entre o Espírito e a matéria, esta apto a receber a influência daquele, transmitindo-a a esta.

A importância desse fluido universal na constituição do Universo pode-se bem aquilatar nas respostas dadas pelos Espíritos às indagações de Allan Kardec constantes umas em O Livro dos Médiuns, outras na obra básica já citada.

No Livro Ciências Físicas e Biológicas de Duarte, José Coimbra- ed. Rj: Nacional 1975-
Paginas 17 a 19 encontramos as seguintes definições:

A ciência considera as seguintes propriedades da matéria:

a) –Massa – quantidade de matéria de um corpo;
b) –Extensão – é a porção do espaço ocupada pela matéria. Toda matéria ocupa um determinado lugar no espaço;
c) –Impenetrabilidade – Duas porções de matéria não podem, ao mesmo tempo, ocupar o mesmo lugar no espaço;
d) –Inércia – Quando um corpo, formado naturalmente por matéria, está em repouso, é necessária uma força para colocá-lo em movimento. Se o corpo estiver em movimento, é necessária uma força para alterá-lo ou fazer o corpo parar;
e) –Divisibilidade – Podemos dividir um corpo ou pulverizá-lo até certo limite. As partículas são formadas de partículas menores, chamadas átomos.

É interessante definir, também que “Matéria é tudo o que possui massa e extensão. Corpo é uma porção limitada da matéria e Substâncias são as diferentes espécies de matéria.”

No Livro dos Médiuns - CAPÍTULO IV - DA TEORIA DAS MANIFESTAÇÕES FÍSICAS

Movimentos e suspensões. Ruídos. Aumento e diminuição de peso dos corpos.

72. Demonstrada, pelo raciocínio e pelos fatos, a existência dos Espíritos, assim como a possibilidade que têm de atuar sobre a matéria, trata-se agora de saber como se efetua essa ação e como procedem eles para fazer que se movam as mesas e outros corpos inertes.

Uma idéia se apresenta muito naturalmente e nós a tivemos. Dando-nos outra explicação muito diversa, pela qual longe estávamos de esperar, os Espíritos a combateram, constituindo isto uma prova de que a teoria deles não era efeito da nossa
opinião.

Ora, essa primeira idéia todos a podiam ter, como nós; quanto à teoria dos Espíritos, não cremos que jamais haja acudido à mente de quem quer que seja.

Sem dificuldade se reconhecerá quanto é superior à que esposávamos, se bem que menos simples, porque dá solução a inúmeros outros fatos que, com a nossa, não encontravam explicação satisfatória.

73. Desde que se tornaram conhecidas a natureza dos Espíritos, sua forma humana, as propriedades semi materiais do perispírito, a ação mecânica que este pode exercer sobre a matéria; desde que, em casos de aparição, se viram mãos fluídicas e mesmo tangíveis tomar dos objetos e transportá-los, julgou-se, como era natural, que o Espírito se servia muito simplesmente de suas próprias mãos para fazer que a mesa girasse e que à força de braço é que ela se erguia no espaço.

Mas, então, sendo assim, que necessidade havia de médium?

Não pode o Espírito atuar só por si?

Porque, é evidente que o médium, que as mais das vezes põe as mãos sobre a mesa em sentido contrário ao do seu movimento, ou que mesmo não coloca ali as mãos, não pode secundar o Espírito por meio de uma ação muscular qualquer.

Deixemos, porém, que primeiro falem os Espíritos a quem interrogamos sobre esta questão.

74. As respostas seguintes nos foram dadas pelo Espírito São Luís. Muitos outros, depois, as confirmaram.

I. Será o fluido universal uma emanação da divindade?

"Não."

II. Será uma criação da divindade?

"Tudo é criado, exceto Deus."

III. O fluido universal será ao mesmo tempo o elemento universal ?

"Sim, é o princípio elementar de todas as coisas."

IV. Alguma relação tem ele com o fluido elétrico, cujos efeitos conhecemos?

"E o seu elemento."

V. Em que estado o fluido universal se nos apresenta, na sua maior simplicidade?

"Para o encontrarmos na sua simplicidade absoluta, precisamos ascender aos Espíritos puros. No vosso mundo, ele sempre se acha mais ou menos modificado, para formar a matéria compacta que vos cerca. Entretanto, podeis dizer que o estado em que se encontra mais próximo daquela simplicidade é o do fluido a que chamais fluido magnético animal."

VI. Já disseram que o fluido universal é a fonte da vida. Será ao mesmo tempo a fonte da inteligência?

"Não, esse fluido apenas anima a matéria."

VII. Pois que é desse fluido que se compõe o perispírito, parece que, neste, ele se acha num como estado de condensação, que o aproxima, até certo ponto, da matéria propriamente dita?

"Até certo ponto, como dizes, porquanto não tem todas as propriedades da matéria.
E mais ou menos condensado, conforme os mundos."

VIII. Como pode um Espírito produzir o movimento de um corpo sólido?

"Combinando uma parte do fluido universal com o fluido, próprio àquele efeito, que o médium emite."

IX. Será com os seus próprios membros, de certo modo solidificados, que os Espíritos levantam a mesa?

"Esta resposta ainda não te levará até onde desejas.

Quando, sob as vossas mãos, uma mesa se move, o Espírito haure no fluido universal o que é necessário para lhe dar uma vida factícia.

Assim preparada a mesa, o Espírito a atrai e move sob a influência do fluido que de si mesmo desprende, por efeito da sua vontade.

Quando quer pôr em movimento uma massa por demais pesada para suas forças, chama em seu auxílio outros Espíritos, cujas condições sejam idênticas às suas.

Em virtude da sua natureza etérea, o Espírito, propriamente dito, não pode atuar sobre a matéria grosseira, sem intermediário, isto é, sem o elemento que o liga à matéria.

Esse elemento, que constitui o que chamais perispírito, vos faculta a chave de todos os fenômenos espíritas de ordem material.

Julgo ter-me explicado muito claramente, para ser compreendido."

NOTA. Chamamos a atenção para a seguinte frase, primeira da resposta acima:

Esta resposta AINDA te não levará até onde desejas.

O Espírito compreendera perfeitamente que todas as questões precedentes só haviam
sido formuladas para chegarmos a esta última e alude ao nosso pensamento que. com
efeito, esperava por outra resposta muito diversa, isto é, pela confirmação da idéia que
tínhamos sobre a maneira por que o Espirito obtém o movimento da mesa.

X. Os Espíritos, que aquele que deseja mover um objeto chama em seu auxílio, são-lhe inferiores? Estão-lhe sob as ordens?

"São-lhe iguais, quase sempre. Muitas vezes acodem espontaneamente."

XI. São aptos, todos os Espíritos, a produzir fenômenos deste gênero?

"Os que produzem efeitos desta espécie são sempre Espíritos inferiores, que ainda se não desprenderam inteiramente de toda a influência material."

XII. Compreendemos que os Espíritos superiores não se ocupam com coisas que estão muito abaixo deles. Mas, perguntamos se, uma vez que estão mais desmaterializados, teriam o poder de fazê-lo, dado que o quisessem?

"Os Espíritos superiores têm a força moral, como os outros têm a força física.

Quando precisam desta força, servem-se dos que a possuem.

Já não se vos disse que eles se servem dos Espíritos inferiores, como vós vos servis dos carregadores?"

NOTA. Já foi explicado que a densidade do perispírito, se assim se pode dizer, varia de acordo com o estado dos mundos.

Parece que também varia, em um mesmo mundo, de indivíduo para indivíduo.

Nos Espíritos moralmente adiantados, é mais sutil e se aproxima da dos Espíritos elevados; nos Espíritos inferiores, ao contrário, aproxima-se da matéria e é o que faz que os Espíritos de baixa condição conservem por muito tempo as ilusões da vida terrestre.

Esses pensam e obram como se ainda fossem vivos; experimentam os mesmos desejos e quase que se poderia dizer a mesma sensualidade.

Esta grosseria do perispírito, dando-lhe mais afinidade com a matéria, torna os Espíritos inferiores mais aptos às manifestações físicas.

Pela mesma razão é que um homem de sociedade, habituado aos trabalhos da inteligência, franzino e delicado de corpo, não pode suspender fardos pesados, como o faz um carregador.

Nele, a matéria é, de certa maneira, menos compacta, menos resistentes

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Tuesday, May 01, 2007

Aula 66 - MATERIALISMO E PANTEÍSMO

Aula 66 - MATERIALISMO E PANTEÍSMO


Materialismo. Enciclopédia Mirador Internacional. S.P.: Enciclopédia Britânica do Brasil, 1977. Item 3 v. 14, pag.7329 e 7350.

Apesar de todas as razões que levam convictamente à crença de que Deus existe, como causa transcendente necessária do Universo, como os atributos de suprema inteligência, onipotência, bondade e justiça perfeitas, e infinito em todas as suas perfeições, há homens, e sempre os houve, que negam a Divina existência.

O seu ateísmo disfarçado ou sincero, mas que é sempre conseqüência da arrogância, da presunção e do orgulho, leva-os a negar a existência de todo Espírito n Universo, tanto o Espírito Divino como o que em si mesmo existe e é a sede da própria inteligência e da consciência de cada um; isto é, negam a existência da alma humana como individualidade independente da matéria corporal e a ela sobrevivente, considerando-a apenas como resultante da organização cerebral altamente evoluída do Homo Sapiens.

São ateus e materialistas, profitentes do mais radical materialismo.

Materialismo é a doutrina filosófica segundo a qual não existe essencialmente no Universo coisa alguma além da matéria, quer como causa, quer como efeito. Implica um sistema dos mundos em que o fundamento único é a matéria, incriada e eterna, isto é, existente por si mesma, necessária e suficientemente, sem interferência alguma de Deus.

Os que professam são filósofos, quer dizer, refletem sobre os conhecimentos adquiridos pelas experiências objetivas, as realidades visíveis e palpáveis, suscetíveis de ser atingidas pela observação direta e a experimentação, sobre os movimentos universais que animam todas as coisas; já chegaram até às realidades invisíveis e impalpáveis como os átomos, as radiações energéticas, as vibrações e as ondas que se propagam através do Cosmos, mas nada concebem para tudo isso senão um substrato material submetido a leis cegas, não emanadas de uma inteligência diretora e criadora.

É muito antiga essa concepção, vem desde os primeiros filósofos gregos em toda a Antigüidade Greco-Romana.

Traçaremos, a seguir, um esboço das idéias materialistas ao longo da história humana, de maneira que possamos entender o significado delas.

O materialismo, como doutrina, ensino ou escola, nasce, praticamente, com Tales de Mileto, na Antiga Grécia, por volta do século VI a.C. “O materialismo dos filósofos jônicos inclui algumas teses que se tornarão características de todo o materialismo posterior:
1- a filosofia deve explicar os fenômenos não por meio de mitos religiosos, mas pela observação da própria realidade;
2- a matéria, incriada e indestrutível, é a substância de que todas as coisas se compõem e à qual todas se reduzem;
3- a geração e a corrupção das coisas obedecem a uma necessidade não sobrenatural, mas natural, não ao destino, mas às leis físicas;
4- a matéria não é estática, mas se acha em constante movimento, em permanente metamorfose;
5- a experiência sensível é a origem do conhecimento;
6- a alma faz parte da natureza e obedece às mesmas leis que regem o seu movimento”

“Para Tales, a substância primordial é a água, para Anaxímenes, o ar, e para Anaximandro, a matéria indeterminada. Todos os fenômenos da natureza consistem em transformações do mesmo princípio material, independentemente de qualquer interferência divina.

O pensamento consiste em dizer a verdade após ter penetrado a natureza e suas leis, e a sabedoria consiste em viver de acordo com essas leis.

“Para Anaxágoras, a natureza se constitui de homeomerias, unidades que contêm os elementos de todas as coisas em proporções infinitesimais. Demócrito, sustenta que o princípio de todas as coisas são os átomos. Tudo o que existe é material, e a matéria que constitui os átomos é qualitativamente idêntica, determinando os diferentes fenômenos da natureza em função da diversidade quantitativa dos átomos ( forma, dimensão e ordem). As transformações que se observam na natureza consistem em associações e dissociações de átomos.”

“A alma humana, feita também de átomos, esta sujeita à decomposição e à morte. A natureza se explica por si mesma, e os acontecimentos que hoje se produzem, dizia Demócrito, não têm causa primeira, pois preexistem de toda a eternidade no tempo infinito, contendo, sem exceção, tudo o que foi, é e será.”

Em tese, foram estas as idéias materialistas reinantes até o século XIII, havendo em contraposição as escolas espiritualistas – sobre a platônica e a neoplatônica – e aquelas que tentavam conciliar o materialismo com a teologia, como a escola Aristotélica.

No longo período que constituiu a idade Média, o materialismo foi sofrendo algumas alterações, porém sempre rejeitando a idéia de um Criador supremo para todas as coisas.

Segundo Francis Bacon ( 1561-1626). “As ciências físicas e naturais constituem, a seus olhos, a verdadeira ciência. Por sua vez Hobbes (1588 – 1679) cria um sistema materialista perfeitamente coerente. Concebendo o mundo à maneira de Descartes, a geometria como paradigma do pensamento lógico e a mecânica de Galileu como ideal da ciência da natureza, considera o mundo um conjunto de corpos materiais, definidos geometricamente, por sua forma e sua extensão. O homem é um corpo. Como os demais, a alma não existe e os organismos não passam de engrenagem do mecanismo universal.

Vivendo no período de 1632-1704, John Locke nega as idéias inatas e afirma que todas as idéias humanas têm origem na experiência.

No século XVIII, Julien Offroy de la Mettrie ( 1709-1751) – filósofo sensualista, afirma que o prazer e o amor-próprio são os únicos critérios da vida moral e, também, que os fenômenos psíquicos resultam de alterações orgânicas no cérebro e no sistema nervoso. Outro filósofo da época, considerado o precursor ideológico da Revolução Francesa, materialista e ateísta intransigente, defende a tese de que todas as idéias são sensações provocadas pelos objetos materiais e a personalidade é produto do meio e da educação. Esse filósofo chamava-se Cloude Adrien Helvétius (1715 - 1771).

Encerrando o século XVIII, Paul Henri Dietrich ( 1723 – 1789), francês de origem alemã, considerava o Cristianismo como contrário à razão e à natureza. Nega as idéias inatas, a existência da alma e de Deus. Vê no comportamento religioso um despotismo político.

No século XIX, surge com Karl Marx ( 1818 – 1883) e Friedrich Engels (1820 – 1895) o chamado materialismo histórico e dialético.

Marxismo é, pois, a doutrina segundo a qual as organizações políticas e jurídicas, os costumes e a religião são estritamente determinados pelas condições econômicas, pelo estado da indústria e do comércio, da produção e das vendas.

Só crêem na matéria! Mas não podem deixar os materialistas de ver a ordem existente no Universo, entretanto, admitem uma ordem inteligente existindo sem uma causa inteligente, que a preceda, conceba e a ela presida.

Vejamos o que nos fala Camile Flammarion, em sua obra Deus na Natureza – FEB 1987- págs.402 a 407.

De resto, a que se reduz a negação materialista?

Buscando o âmago das coisas, percebemos logo que essas negações não podem ser tão absolutamente negativas quanto pretendem. O insensato não o será jamais impunemente e não é tão fácil, quanto possa parecer, uma convicção profunda no ateísmo. Na maioria dos casos, o que é o deslocamento da questão e nada mais. Em vez de chamar Deus à direção das forças que regem o mundo, os convencidos de ateísmo deixam de o nomear, e, em vez de atribuir a um ser inteligente a inteligência dessas forças, outorgam-na à própria matéria.

Removem, assim, mas não resolvem o problema, pois os fatos continuam irrevogáveis.
Negam a Deus, mas não podem negar a força. Apenas, em lugar de proclamarem a soberania dessa força, consideram-na escrava da matéria inerte.

Todas as propriedades instintivas ou intelectuais que os nossos adversários não podem deixar de atribuir à matéria para explicar a ação desta, sua tendência progressiva, seu método seletivo, desde a formação do vegetal humilde à formação de um cérebro humano, são atributos que eles extraem do ignoto que nós denominamos Deus, e que eles homenageiam chamando-lhe matéria. Parece-nos absurdo integral a crença de que o Espírito pudesse surgir no cérebro humano e manifestar-se nas leis do Universo, se não existisse de toda a eternidade.

Não é só o materialismo que nega a Deus e a existência do Espírito humano. Há ainda o panteísmo. Para os que professam essa doutrina, entre os quais avulta a mentalidade vigorosa de Spinozza, Deus, sendo embora o Ser Supremo, não é, entretanto, um ser distinto, pois consideram-no resultante da reunião de todas as forças, todas as inteligências do Universo.

Sente-se desde logo a inconsistência de uma tal doutrina que, se verdadeira, derrogaria os mais necessários dos atributos de Deus: ser eterno, infinito, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom.

Esta doutrina ( comenta Allan Kardec) faz de Deus um ser material que, embora dotado de suprema inteligência, seria em ponto grande o que somos em ponto pequeno. Ora, transformando-se a matéria incessantemente, Deus, se fosse assim, nenhuma estabilidade teria; achar-se-ia sujeito a todas as vicissitudes, mesmo a todas as necessidades da Humanidade; faltar-lhe-ia um dos atributos essenciais da Divindade : a imutabilidade.

Não se podem aliar as propriedades da matéria à idéia de Deus, sem que ele fique rebaixado ante a nossa compreensão e não haverá sutilezas de sofismas que cheguem a resolver o problema da sua natureza íntima.

Não sabemos tudo o que ele é, mas sabemos o que ele não pode deixar de ser, e o sistema de que tratamos está em contradição com as suas mais essenciais propriedades.
Ele confunde o Criador com a criatura, exatamente como o faria quem pretendesse que engenhosa máquina fosse parte integrante do mecânico que a imaginou.

A inteligência se revela em suas obras como a de um pintor no seu quadro; mas as obras de Deus não são o próprio Deus, como o quadro não é o pintor que o concebeu e executou.

Materialismo e panteísmo se confundem, pois, na mesma negação de Deus como o Ser distinto, que é a inteligência Suprema e a Causa Primária do Universo. Mas escreve Camille Flammarion, na obra citada, ainda bem que o ateísmo absoluto só pode ser uma loucura nominal, e o Espírito mais negativista não pode, realmente, atribuir à matéria senão o que pertence ao Espírito, criando assim um deus-matéria, à sua imagem e semelhança.

Assim, temos visto que, desde o panteísmo místico ao mais rigoroso ateísmo, os erros humanos a respeito da personalidade divina não puderam, senão, velar ou desnaturar a revelação do Universo, sem aniquilá-la.

Nosso Deus da Natureza permanece inatacável, no seio mesmo da Natureza, força intrínseca e universal governando cada átomo, formando organismos e mundos, princípio e fim das criações que passam, luz incriada a brilhar no mundo invisível e para a qual, oscilantes, se dirigem as almas, como a agulha imantada, que não mais repousa enquanto não se encontra identificada com o plano do pólo magnético.

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Aula 65 - O INFINITO E O ESPAÇO UNIVERSAL

Aula 65 - O INFINITO E O ESPAÇO UNIVERSAL


Livro a Gênese e Livro dos Espíritos


No roteiro no 1, falamos de Deus, como causa necessária do Universo.

Mas o que é Universo? É o Conjunto de tudo o que existe e não é obra do homem.

O Universo é a obra de Deus, - de que faz parte o próprio homem, ser pensante e racional, mas que é apenas uma criatura, um filho de Deus.

Nesse Universos, há de considerar-se desde logo o espaço, que é a extensão onde tudo existe, e ligado a esse espaço deve considerar-se também o tempo.

Espaço e tempo, porem, em termos universais, e em relação a Deus, têm as dimensões do infinito e da eternidade.

É isso que nos ensina a Doutrina Espírita, exposta em O Livro dos Espíritos. Ali à pergunta de Allan Kardec, de no 35 “O Espaço universal é infinito ou limitado?”, os Espíritos responderam:

“Infinito. Supõe-no limitado: que haverá para lá de seus limites? Isto te confunde a razão, bem o sei; no entanto, a razão te diz que não pode ser de outro modo. O mesmo se dá com o infinito em todas as coisas. Não é na pequenina esfera em que vos achais que podereis compreendê-lo.”

Supondo-se um limite ao Espaço, por mais distante que a imaginação o coloque, a razão diz que além desse limite alguma coisa há e assim, gradativamente, até ao infinito, porquanto, embora essa alguma coisa fosse o vazio absoluto, ainda seria Espaço.

E continua com a pergunta no 36. O vácuo absoluto existe em alguma parte no Espaço universal?

“Não, não há o vácuo. O que te parece vazio está ocupado por matéria que te escapa aos sentidos e aos instrumentos.”

O espaço é, pois, infinito. Que se deve, entretanto, entender por infinito?

Disseram-no também os Espíritos, na resposta à pergunta no 2 ; 3e 13 de O Livro dos Espíritos:

“O que não tem começo nem fim: o desconhecido; tudo que é desconhecido é infinito.”

3. Poder-se-ia dizer que Deus é o infinito?

“Definição incompleta. Pobreza da linguagem humana, insuficiente para definir o que está acima da linguagem dos homens.”

Deus é infinito em Suas perfeições, (acrescenta Kardec em comentário próprio) mas o infinito é uma abstração. Dizer que Deus é o infinito é tomar o atributo de uma coisa pela coisa mesma, é definir uma coisa que não está conhecida por uma outra que não está mais do que a primeira.

Começando a enumerar os atributos divinos, explana magistralmente Kardec: “Deus é eterno. Se tivesse tido princípio, teria saído do nada, ou, então, também teria sido criado, por um ser anterior. É assim que, de degrau em degrau, remontamos ao infinito e à eternidade.

13. Quando dizemos que Deus é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom, temos idéia completa de Seus atributos?

“Do vosso ponto de vista, sim, porque credes abranger tudo. Sabei, porém, que há coisas que estão acima da inteligência do homem mais inteligente, as quais a vossa linguagem, restrita às vossas idéias e sensações, não tem meios de exprimir.

A razão, com efeito, vos diz que Deus deve possuir em grau supremo essas perfeições, porquanto, se uma Lhe faltasse, ou não fosse infinita, já Ele não seria superior a tudo, não seria, por conseguinte, Deus.

Para estar acima de todas as coisas, Deus tem que se achar isento de qualquer vicissitude e de qualquer das imperfeições que a imaginação possa conceber.”

Deus é eterno. Se tivesse tido princípio, teria saído do nada, ou, então, também teria sido criado, por um ser anterior. É assim que, de degrau em degrau, remontamos ao infinito e à eternidade.

É imutável. Se estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o Universo nenhuma estabilidade teriam.

É imaterial. Quer isto dizer que a sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria. De outro modo, ele não seria imutável, porque estaria sujeito às transformações da matéria.

É único. Se muitos Deuses houvesse, não haveria unidade de vistas, nem unidade de poder na ordenação do Universo.

É onipotente. Ele o é, porque é único. Se não dispusesse do soberano poder, algo haveria mais poderoso ou tão poderoso quanto ele, que então não teria feito todas as coisas.
As que não houvesse feito seriam obra de outro Deus.

É soberanamente justo e bom. A sabedoria providencial das leis divinas se revela, assim nas mais pequeninas coisas, como nas maiores, e essa sabedoria não permite se duvide nem da justiça nem da bondade de Deus.

Como se vê , apesar da lógica de Kardec, o assunto parece extremamente complexo e o problema aparentemente insolúvel.

Entretanto tudo pode-se tornar extremamente simples e a solução limpidamente clara, se se coloca o homem na condição de criatura imperfeita ainda, mas perfectível, simples e ignorante em seu começo: pequena, podendo, porem, engrandecer-se, e por desígnio divino, através de degraus sucessivos, cada vez mais altos, que o vão tirando da ignorância, aumentando-lhe pouco a pouco o horizonte, dilatando-lhe a visão das coisas e dando-lhe, enfim, maior intuição. É a grande lei do progresso.

Conforma-te, pois, oh! Homem, com o teu degrau atual e esforça-te por subir os sucessivos degraus da escala! Sê humilde diante da grandeza do Criador e confia na sua divina providência, que te criou para atingires um dia os píncaros do saber e de excelsas virtudes.

No capítulo VI de A Gênese, de Allan Kardec, pags.103 a 105 da edição FEB, há uma mensagem do elevado Espírito Galileu, recebida na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, em 1862 e 1863, sob o título - Estudos uranográficos - através da mediunidade de C.F. (a editora informa que essas são as iniciais de Camille Flammarion) que satisfaz a razão no que toca às noções que estamos procurando adquirir neste roteiro, e cujo texto vamos a seguir transcrever integralmente:

O espaço e o tempo

1. - Já muitas definições de espaço foram dadas, sendo a principal esta: o espaço é a extensão que separa dois corpos, na qual certos sofistas deduziram que onde não haja corpos não haverá espaço. Nisto foi que se basearam alguns doutores em teologia para estabelecer que o espaço é necessariamente finito, alegando que certo número de corpos finitos não poderiam formar uma série infinita e que, onde acabassem os corpos, igualmente o espaço acabaria.

Também definiram o espaço como sendo o lugar onde se movem os mundos, o vazio onde a matéria atua, etc. Deixemos todas essas definições, que nada definem, nos tratados onde repousam.
Espaço é uma dessas palavras que exprimem uma idéia primitiva e axiomática, de si mesma evidente, e a cujo respeito as diversas definições que se possam dar nada mais fazem do que obscurecê-la. Todos sabemos o que é o espaço e eu apenas quero firmar que ele é infinito, a fim de que os nossos estudos ulteriores não encontrem uma barreira opondo-se às investigações do nosso olhar.

Ora, digo que o espaço é infinito, pela razão de ser impossível imaginar-se-lhe um limite qualquer. e porque, apesar da dificuldade com que topamos para conceber o infinito, mais fácil nos é avançar eternamente pelo espaço, em pensamento, do que parar num ponto qualquer, depois do qual não mais encontrássemos extensão a percorrer.

Para figurarmos, quanto no-lo permitam as nossas limitadas faculdades, a infinidade do espaço, suponhamos que, partindo da Terra, perdida no meio do infinito, para um ponto qualquer do Universo, com a velocidade prodigiosa da centelha elétrica, que percorre milhares de léguas por segundo, e que, havendo percorrido milhões de léguas mal tenhamos deixado este globo, nos achamos num lugar donde apenas o divisamos sob o aspecto de pálida estrela.
Passado um instante, seguindo sempre a mesma direção, chegamos a essas estrelas longínquas que mal percebeis da vossa estação terrestre. Daí, não só a Terra nos desaparece inteiramente do olhar nas profundezas do céu, como também o próprio Sol, com todo o seu esplendor, se há eclipsado pela extensão que dele nos separa.

Animados sempre da mesma velocidade do relâmpago, a cada passo que avançamos na extensão, transpomos sistemas de mundos, ilhas de luz etérea, estradas estelíferas, paragens suntuosas onde Deus semeou mundos na mesma profusão com que semeou as plantas nas pradarias terrenas.

Ora, há apenas poucos minutos que caminhamos e já centenas de milhões de milhões de léguas nos separam da Terra, bilhões de mundos nos passaram sob as vistas e, entretanto, escutai! em realidade, não avançamos um só passo que seja no Universo.

Se continuarmos durante anos, séculos, milhares de séculos, milhões de períodos cem vezes seculares e sempre com a mesma velocidade do relâmpago, nem um passo igualmente teremos avançado, qualquer que seja o lado para onde nos dirijamos e qualquer que seja o ponto para onde nos encaminhemos, a partir desse grãozinho invisível donde saímos e a que chamamos Terra. Eis aí o que é o espaço!
2. - Como a palavra espaço, tempo é também um termo já por si mesmo definido. Dele se faz idéia mais exata, relacionando-o com o todo infinito.

O tempo é a sucessão das coisas. Está ligado à eternidade, do mesmo modo que as coisas estão ligadas ao infinito. Suponhamo-nos na origem do nosso mundo, na época primitiva em que a Terra ainda não se movia sob a divina impulsão; numa palavra: no começo da Gênese.
O tempo então ainda não saíra do misterioso berço da Natureza e ninguém pode dizer em que época de séculos nos achamos, porquanto o balancim dos séculos ainda não foi posto em movimento.
Mas, silêncio! soa na sineta eterna a primeira hora de uma Terra insulada, o planeta se move no espaço e desde então há tarde e manhã. Para lá da Terra, a eternidade permanece impassível e imóvel, embora o tempo marche com relação a muitos outros mundos.
Para a Terra, o tempo a substitui e durante uma determinada série de gerações contar-se-ão os anos e os séculos.
Transportemo-nos agora ao último dia desse mundo, à hora em que, curvado sob o peso da vetustez, ele se apagará do livro da vida para aí não mais reaparecer. Interrompe-se então a sucessão dos eventos; cessam os movimentos terrestres que mediam o tempo e o tempo acaba com eles.
Esta simples exposição das coisas que dão nascimento ao tempo, que o alimentam e deixam que ele se extinga, basta para mostrar que, visto do ponto em que houvemos de colocar-nos para os nossos estudos, o tempo é uma gota d’água que cai da nuvem no mar e cuja queda é medida.

Tantos mundos na vasta amplidão, quantos tempos diversos e incompatíveis. Fora dos mundos, somente a eternidade substitui essas efêmeras sucessões e enche tranqüilamente da sua luz imóvel a imensidade dos céus. Imensidade sem limites e eternidade sem limites, tais as duas grandes propriedades da natureza universal.

O olhar do observador, que atravessa, sem jamais encontrar o que o detenha, as incomensuráveis distâncias do espaço, e o do geólogo, que remonta além dos limites das idades, ou que desce às profundezas da eternidade de fauces escancaradas, onde ambos um dia se perderão, atuam em concordância, cada um na sua direção, para adquirir esta dupla noção do infinito: extensão e duração.

Dentro desta ordem de idéias, fácil nos será conceber que, sendo o tempo apenas a relação das coisas transitórias e dependendo unicamente das coisas que se medem, se tomássemos os séculos terrestres por unidade e os empilhássemos aos milheiros, para formar um número colossal, esse número nunca representaria mais que um ponto na eternidade, do mesmo modo que milhares de léguas adicionadas a milhares de léguas não dão mais que um ponto na extensão.

Assim, por exemplo, estando os séculos fora da vida etérea da alma, poderíamos escrever um número tão longo quanto o equador terrestre e supor nos envelhecidos desse número de séculos, sem que na realidade nossa alma conte um dia a mais. E juntando, a esse número indefinível de séculos, uma série de números semelhantes, longa como daqui ao Sol, ou ainda mais consideráveis, se imaginássemos viver durante uma sucessão prodigiosa de períodos seculares representados pela adição de tais números, quando chegássemos ao termo, o inconcebível amontoado de séculos que nos passaria sobre a cabeça seria como se não existisse: diante de nós estaria sempre toda a eternidade.
O tempo é apenas uma medida relativa da sucessão das coisas transitórias; a eternidade não é suscetível de medida alguma, do ponto de vista da duração; para ela, não há começo, nem fim: tudo lhe é presente.
Se séculos de séculos são menos que um segundo, relativamente à eternidade, que vem a ser a duração da vida humana?!

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Aula 64 - A EXISTÊNCIA DE DEUS:

Aula 64 - A EXISTÊNCIA DE DEUS

Livro a Gênese

Qualquer doutrina tem seus princípios básico, dos quais derivam outros, que são decorrências naturais ou lógicas dos primeiros. Um dos princípios básicos da Doutrina Espírita é o da existência de Deus, como o Criador necessário de tudo o que existe.

Outro, evidentemente fundamental, é o da existência dos Espíritos, como criaturas suas; e outro ainda, o da natureza espiritual da alma humana, considerada como espírito encarnado, que constitui a individualidade consciente, permanente e imperecível do homem.

Tudo o mais que os Espíritos revelaram, a pluralidade dos mundos habitados, a encarnação e as reencarnações, com a conseqüente pluralidade das existências corporais, a lei de causa e efeito, o princípio da necessidade das provações, como meio de progresso, e das cruciantes, mas redentoras expiações; tudo isso, que revela suprema sabedoria, harmonizando bondade e indefectível justiça, é decorrência natural daqueles princípios básicos.

À frente de todos, porém, fulge, luminoso, o princípio da existência do Eterno Criador.

Já fizemos notar, em aulas precedentes (20 a 22 ref. a primeira apostila), o fato altamente significativo de ter Kardec começado O LIVRO DOS ESPÏRITOS com um capítulo inteiramente consagrado a Deus, às provas da sua existência e aos atributos da Divindade.

Em A Gênese, Allan Kardec – após explicar no Capítulo I, o Caráter da Revelação Espírita – novamente trata, logo no Capitulo II, da existência de Deus, mostrando que ela constitui a mais fundamental princípio da Doutrina Espírita, conforme veremos a seguir.:

CAPÍTULO II - DEUS - Existência de Deus

1. - Sendo Deus a causa primária de todas as coisas, a origem de tudo o que existe, a base sobre que repousa o edifício da criação, é também o ponto que importa consideremos antes de tudo.

2. - Constitui princípio elementar que pelos seus efeitos é que se julga de uma causa, mesmo quando ela se conserve oculta.
Se, fendendo os ares, um pássaro é atingido por mortífero grão de chumbo, deduz-se que hábil atirador o alvejou, ainda que este último não seja visto. Nem sempre, pois, se faz necessário vejamos uma coisa, para sabermos que ela existe. Em tudo, observando os efeitos é que se chega ao conhecimento das causas.

3. - Outro princípio igualmente elementar e que, de tão verdadeiro, passou a axioma é o de que todo efeito inteligente tem que decorrer de uma causa inteligente.

Se perguntassem qual o construtor de certo mecanismo engenhoso, que pensaríamos de quem respondesse que ele se fez a si mesmo?

Quando se contempla uma obra-prima da arte ou da indústria, diz-se que há de tê-la produzido um homem de gênio, porque só uma alta inteligência poderia concebê-la.

Reconhece-se, no entanto, que ela é obra de um homem, por se verificar que não está acima da capacidade humana; as, a ninguém acudirá a idéia de dizer que saiu do cérebro de um idiota ou de um ignorante, nem, ainda menos, que é trabalho de um animal, ou produto do acaso.

4. - Em toda parte se reconhece a presença do homem pelas suas obras.

A existência dos homens antediluvianos não se provaria unicamente por meio dos fósseis humanos: provou-a também, e com muita certeza, a presença, nos terrenos daquela época, de objetos trabalhados pelos homens.

Um fragmento de vaso, uma pedra talhada, uma arma, um tijolo bastarão para lhe atestar a presença. Pela grosseria ou perfeição do trabalho, reconhecer-se-á o grau de inteligência ou de adiantamento dos que o executaram.

Se, pois, achando-vos numa região habitada exclusivamente por selvagens, descobrirdes uma estátua digna de Fídias, não hesitareis em dizer que, sendo incapazes de tê-la feito os selvagens, ela é obra de uma inteligência superior à destes.

5. - Pois bem! lançando o olhar em torno de si, sobre as obras da Natureza, notando a providência, a sabedoria, a harmonia que presidem a essas obras, reconhece o observador não haver nenhuma que não ultrapasse os limites da mais portentosa inteligência humana. Ora, desde que o homem não as pode produzir, é que elas são produto de uma inteligência superior à Humanidade, a menos se sustente que há efeitos sem causa.

6. - A isto opõem alguns o seguinte raciocínio:

As obras ditas da Natureza são produzidas por forças materiais que atuam mecanicamente, em virtude das leis de atração e repulsão; as moléculas dos corpos inertes se agregam e desagregam sob o império dessas leis.

As plantas nascem, brotam, crescem e se multiplicam sempre da mesma maneira, cada uma na sua espécie, por efeito daquelas mesmas leis; cada indivíduo se assemelha ao de quem ele provejo; o crescimento, a floração, a frutificação, a coloração se acham subordinados a causas materiais, tais como o calor, a eletricidade, a luz, a umidade, etc.

O mesmo se dá com os animais. Os astros se formam pela atração molecular e se movem perpetuamente em suas órbitas por efeito da gravitação. Essa regularidade mecânica no emprego das forças naturais não acusa a ação de qualquer inteligência livre.
O homem movimenta o braço quando quer e como quer; aquele, porém, que o movimentasse no mesmo sentido, desde o nascimento até a morte, seria um autômato.

Ora, as forças orgânicas da Natureza são puramente automáticas.

Tudo isso é verdade; mas, essas forças são efeitos que hão de ter uma causa e ninguém pretende que elas constituam a Divindade.


Elas são materiais e mecânicas; não são de si mesmas inteligentes, também isto é verdade; mas, são postas em ação, distribuídas, apropriadas às necessidades de cada coisa por uma inteligência que não é a dos homens.

A aplicação útil dessas forças é um efeito inteligente, que denota uma causa inteligente. Um pêndulo se move com automática regularidade e é nessa regularidade que lhe está o mérito.

É toda material a força que o faz mover-se e nada tem de inteligente. Mas, que seria esse pêndulo, se uma inteligência não houvesse combinado, calculado, distribuído o emprego daquela força, para fazê-lo andar com precisão?

Do fato de não estar a inteligência no mecanismo do pêndulo e do de que ninguém a vê, seria racional deduzir-se que ela não existe? Apreciamo-la pelos seus efeitos.

A existência do relógio atesta a existência do relojoeiro; a engenhosidade do mecanismo lhe atesta a inteligência e o saber.

Quando um relógio vos dá, no momento preciso, a indicação de que necessitais, já vos terá vindo à mente dizer: aí está um relógio bem inteligente?

Outro tanto ocorre com o mecanismo do Universo: Deus não se mostra, mas se revela pelas suas obras.

7. - A existência de Deus é, pois, uma realidade comprovada não só pela revelação, como pela evidência material dos fatos.

Os povos selvagens nenhuma revelação tiveram; entretanto, crêem instintivamente na existência de um poder sobre-humano.

Eles vêem coisas que estão acima das possibilidades do homem e deduzem que essas
coisas provêm de um ente superior à Humanidade.

Não demonstram raciocinar com mais lógica do que os que pretendem que tais coisas se fizeram a si mesmas?

O Espiritismo, portanto, dá ao homem uma idéia de Deus que, com a sublimidade da Revelação, esta conforme a mais perfeita e justa racionalidade.

Convence-nos da Divina Existência sem necessitar recorrer a outras provas que não as que provêm da simples contemplação do Universo, onde Deus se revela através de obras admiráveis e de leis sábias, constituindo um conjunto grandioso de tanta harmonia e onde há perfeita adequação dos meios aos fins, que se torna impossível não ver por trás de tão portentoso mecanismo a ação de uma Suprema inteligência.

Por isso a Pergunta do Codificador : Que é Deus?

Os Espíritos reveladores responderam:

“Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”

Assim o compreendem, numa inata intuição de Sua existência e do Seu poder todos os que não se deixaram empolgar totalmente pelo terrível entorpecer da inteligência e do sentimento humanos, que é o orgulho, e assim, reconhecem no harmonioso mecanismo que entretém os movimentos universais, a existência imprescindível de um primeiro motor transcendente.

“A mecânica celeste não se explica por si mesma ( escreve Léon Denis), e a existência de um motor inicial se impõe. A nebulosa primitiva, mãe do Sol e dos planetas, era animada de um movimento giratório. Mas quem lhe imprimira esse movimento?

Respondemos sem hesitar : DEUS”

Assim como Léon Denis, já então iluminado pela radiosa luz do Espiritismo, o reconheceu, fê-lo também Albert Einstein, com todo o rigor do seu raciocínio lógico, puramente matemático.

Por muito raciocinar em busca da verdade, Einstein adquiriu um alto grau de intuição que o levou, do mesmo modo que a muitas outras coisas, também, ao reconhecimento da existência de Deus, como fonte necessária da energia que dá o primeiro impulso a tudo que se move no Universo.

Muito antes de Einstein, também o não menos genial Issac Newton teve de reconhecer a existência necessária de uma causa transcendente e um primeiro motor para explicar o movimento dos planetas.

Apesar de descobrir a grande lei da gravitação universal, que viria aparentemente resolver esse milenar problema, no fim de seu livro Princípios Matemáticos de Filosofia Natural declara-se impotente para explicar aqueles movimentos somente pelas leis da Mecânica.

Em um transporte de entusiasmo, sua grande Alma se exalça Àquele que, por si só, pôde, com sua poderosa mão, lançar os mundos sobre a tangente de sua órbita.
Nunca a ciência humana e o gênio do homem se elevaram mais alto do que nessa página célebre, digno coroamento desse livro grandioso. (Conforme escreveu na Revue du Bien o professor Bulliot, citado por Léon Denis em seu livro O Grande Enigma)
Questões para Discussão Circular:-

1- Fazer considerações a respeito do axioma: “Todo efeito inteligente tem que decorrer de uma causa inteligente”
2- Citar alguns meios que identifiquem o grau de inteligência ou adiantamento espiritual de alguém.
3- Por que nem sempre se faz necessário ver uma coisa para saber que ela existe?
4- Explique por que a idéia de Deus está conforme à mais perfeita e justa racionalidade.
5- Analise por que a idéias de Deus como Pai, revelada por Jesus, pode fazer as pessoas mais felizes.
6- Que importância tem o conhecimento da existência de Deus, como Pai e Criador Supremo, para a evolução espiritual dos homens?

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4ª Apostila: